Por que alguém privilegiaria o estudo da Zoologia em detrimento de outras áreas biológicas também importantes? Bem, subjetividade à parte, eu também acho fascinante esta área de estudos biológicos, mas eu estou em outra – História e Teoria da Ciência. Para desespero da Nomenklatura científica e dos ultradarwinistas fundamentalistas, diga-se de passagem.
Eu nem sei o que a Nomenklatura científica e seus mais cegos ‘discípulos’ vão alegar, mas deve ser mais ou menos assim – ‘Isso é uma campanha difamatória’; ‘Foi um pequeno lapso’; ‘Estão citando fora de contexto’, ‘É mais uma conspiração contra a verdadeira ciência’.
Senhores, e especialmente os meninos, fiquem calmos. Afinal de contas, teve até aval de uma das mais importantes universidade pública brasileira – a USP, mas quem disse a frase abaixo incentivando os estudantes a escolher a Zoologia como área de estudos e pesquisas, Paley, Behe ou Dembski?
“O terceiro leitor que tive em mente [sic] foi o estudante, realizando a transição de leigo para o especialista. Se ele ainda não se decidiu em que campo quer se especializar, espero encorajá-lo a considerar meu próprio campo da Zoologia. Há uma razão melhor [sic] para estudar a Zoologia do que sua possível ‘utilidade’ e estima que os animais provocam [sic]. Esta razão é que nós animais somos as máquinas mais complicadas e perfeitamente planejadas [sic] do universo conhecido. Apresentada desta forma [sic], é difícil entender como alguém pode estudar qualquer outra coisa!”
Prontos para a notícia chocante? Revisores da USP, o que foi que houve? Vocês cochilaram na função de ‘guarda-cancelas epistemológicos’? Quem registrou isso foi ninguém nada menos do que RICHARD DAWKINS, prefaciando seu livro “O Gene Egoísta”, Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia e Editora da Universidade de São Paulo, 1989, p. 18.
Isso se deu originalmente em 1979 quando o livro foi publicado na Inglaterra, uma década bem antes de Behe, Dembski terem lançado a Teoria do Design Inteligente.
Por favor, me entendam – não estou afirmando que Dawkins é ‘precursor’ da teoria do design moderna, mas eu fico impressionado como que ele, como os demais biólogos, não consegue se livrar da realidade e da detecção de design inteligente na natureza.
No seu livro “O Relojoeiro Cego”, São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 18, ele escreveu:
“A biologia é o estudo das coisas complexas que dão a impressão de ter um design intencional”.
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Vocês já perceberam a fixação cabalística com a página 18 nos livros de Dawkins no Brasil? Deve ser um número de sorte. Ou azar...
Contudo, apesar de suas 488 páginas, ao contrário de Dembski (filtro explanatório para detectar design), Dawkins não nos disse qual é o método científico adotado para ‘detectar’ a ilusão de design intencional. Como detectar ‘ilusão’ deve ser objeto epistêmico para uma ‘teoria do tudo da evolução’...
Os que participaram da augusta comissão editorial científica da USP devem ter ficado corados. Desculpem-me, alguns já podem até estar mortos, mas fica aqui o registro post-mortem de que vocês falharam clamorosamente com a Nomenklatura científica! E ela não perdoa, por ser stalinista!
Fui, mas deixo um abraço fraterno a todos. Este blogger está passando por um processo ‘evolutivo’ no modo de escrever, mas não deixará de lado a ironia à la Bernard Shaw, Mark Twain, e do nosso único e verdadeiro imortal – o barão de Itararé!