Razão? Porque os ‘relógios moleculares’ estão marcando ‘tempos geológicos’ diferentes. E que baita diferença isso faz!
Os cientistas esperavam que as taxas de mutação nos genes fossem relativamente constantes. Esta seria a base para um “relógio molecular” para inferir as datas de divergência das espécies consideradas como ancestrais.
Eu tenho duas notícias para os ultradarwinistas fundamentalistas. Não é aquela história de uma boa e outra má, qual delas você quer ouvir primeiro? As duas notícias não são nada boas. Elas são más, e devem trazer alguma modificação teórica na área.
A primeira má notícia é que, NOTA BENE, nem todos os relógios moleculares tiquetaqueiam na mesma taxa (taxa heterogeneidade). Os cientistas esperavam que as diferenças das taxas correspondessem ao tamanho corporal. Por quê? Porque parecia haver esse tipo de tendência entre os vertebrados.
Agora galera ultradarwinista, agüenta firme que lá vem a segunda má notícia.
Eu nem sei como que a Nomenklatura científica deixou este artigo passar. Vai ver os ‘guarda-cancelas epistemológicos’ [os chamados ‘peer-reviewers’ – em inglês é mais chique do que revisores em português, não é mesmo?] estavam dormindo em serviço. Como castigo, eles vão ser exilados para o Gulag da Sibéria: não irão mais publicar, não serão promovidos academicamente, eles serão devidamente “esquecidos” e “deletados” da História da Ciência à la bolshevique – “Vocês nunca existiram”. E nós nunca saberemos quem foram eles...
Eu proponho aqui a saída do anonimato de pelo menos um revisor. Razão? Para sabermos realmente até onde vai a competência acadêmica desses ‘guarda-cancelas epistemológicos’ que ‘proíbem’ idéias radicais e controversas de veicularem livremente na Academia. Hoje nós não sabemos quem eles são e boa parte sequer tem a competência dos autores. É a ideologia que mantém uma suposta ‘ortodoxia científica’ prevalecendo sobre a verdade científica que, se divulgada, vai provocar uma revolução científica à la Kuhn!
Talvez você nem tenha lido ainda na Grande Mídia. Ela está quentinha, e é bem capaz que este blog vai dar o ‘furo’, pois acabou de ser publicada em respeitável publicação científica.
A segunda má notícia é que, de acordo com uma equipe internacional de pesquisadores, a variação da taxa não corresponde com o tamanho corporal:
“A existência de um relógio molecular universal foi posta em dúvida pelas observações de que as taxas de substituição variam amplamente entre as linhagens. Todavia, crescente evidência empírica [sic] para os efeitos sistemáticos de diferentes características da história da vida sobre a taxa da evolução molecular tem despertado esperança de que a taxa de variação pode ser predita, potencialmente permitindo a “correção” do relógio molecular. Um exemplo assim é a característica do tamanho corporal observada nos vertebrados; as espécies muito menores tendem a ter taxas mais rápidas de evolução molecular...
Os métodos filogenéticos comparativos foram usados para investigar a relação entre a média do tamanho corporal e a taxa de substituição tanto interespécies e nos níveis de comparação interfamiliares. Nós demonstramos uma variação de taxa significante em todos os filos e na maioria dos genes examinado, implicando que um estrito relógio molecular não pode ser presumido para o Metazoa. Além disso, nós não encontramos evidência de qualquer influência do tamanho corporal nas taxas de substituição nos invertebrados. Nós concluímos que o efeito do tamanho corporal do vertebrado é um caso especial, que simplesmente não pode ser extrapolado para o resto do reino animal”. [1] [Ênfase inexistente].
Meninos, quem diria, parece que ares de liberdade acadêmica e de seguir as evidências aonde elas forem dar estão soprando em outras paragens. Tomara que chegue por aqui também em nossa taba tupiniquim, onde nossos ferozes caciques acadêmicos [especialmente chefes de departamentos] trucidam oponentes. São ferozes antropófagos epistêmicos! Vocês vão se civilizar em breve!
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Abaixo a citação em inglês para os interessados e aos que quiserem acessar diretamente o PNAS. Neste blog, nós matamos a cobra e mostramos o pau!
1Thomas et al., “Evolution: There is no universal molecular clock for invertebrates, but rate variation does not scale with body size,” Proceedings of the National Academy of Sciences, published online before print May 1, 2006; Proc. Natl. Acad. Sci. USA, 10.1073/pnas.0510251103.
The existence of a universal molecular clock has been called into question by observations that substitution rates vary widely between lineages. However, increasing empirical evidence for the systematic effects of different life history traits on the rate of molecular evolution has raised hopes that rate variation may be predictable, potentially allowing the “correction” of the molecular clock. One such example is the body size trend observed in vertebrates; smaller species tend to have faster rates of molecular evolution....
Phylogenetic comparative methods were used to investigate a relationship between average body size and substitution rate at both interspecies and interfamily comparison levels. We demonstrate significant rate variation in all phyla and most genes examined, implying a strict molecular clock cannot be assumed for the Metazoa. Furthermore, we find no evidence of any influence of body size on invertebrate substitution rates. We conclude that the vertebrate body size effect is a special case, which cannot be simply extrapolated to the rest of the animal kingdom