10/10/2011
Por Mônica Pileggi
Agência FAPESP – Para que o Brasil possa se desenvolver nos campos da ciência, tecnologia e inovação, é necessário melhorar, além da educação básica e superior, o diálogo entre a comunidade acadêmica e o setor empresarial. Mas essas deficiências podem se tornar grandes oportunidades para os atuais e futuros químicos brasileiros.
É o que apontaram os palestrantes da sétima sessão do Ciclo de Conferências do Ano Internacional da Química 2011, que teve como tema “A Química no contexto da Educação, Ciência, Tecnologia e Inovação” e foi realizada em 5 de outubro no auditório da FAPESP.
Palestrantes da sétima sessão do Ciclo de Conferências do Ano Internacional da Química 2011, promovido pela FAPESP e SBQ, destacam oportunidades em pesquisa, docência e inovação tecnológica (Wikimedia)
O encontro teve como objetivo apresentar e discutir, para uma plateia composta por pesquisadores, professores e estudantes, o cenário da pesquisa e da inovação tecnológica no Brasil na área de química, resultantes de um conjunto de fatores que envolvem, principalmente, a educação em todos os níveis.
“No ensino fundamental existe um problema de massificação do ensino e, por isso, há professores e escolas despreparados. E essa é a ponta de um problema que se avolumou ao longo dos anos, gerando as dificuldades que temos no ensino médio e superior no país”, disse Paulo Cezar Vieira, professor do Centro de Biotecnologia Molecular Estrutural da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e coordenador do debate.
Segundo César Zucco, professor do Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e presidente da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), a inovação no aprendizado dos alunos seria uma das soluções para a massificação na educação básica e para despertar nos jovens o interesse pela química e pela ciência de modo geral.
“Temos de identificar e motivar, desde a infância, talentos para a ciência e a tecnologia. Para isso, é preciso criar nas escolas ambientes especiais onde a ousadia e a rebeldia intelectual sejam a base da educação desses novos químicos”, afirmou.
No entanto, para enfrentar esse desafio, Zucco ressaltou que é preciso superar outra barreira: a formação de professores. “De acordo com dados de 2008 do Ministério da Educação, dos 62 mil docentes responsáveis pela química na educação básica, apenas 8 mil têm formação específica nessa área”, disse.
Entre os fatores apontados para o déficit de professores especializados, o pesquisador destacou a evasão dos universitários brasileiros durante a graduação em química e a falta de estímulo para seguir a carreira de docente na área.
A docência na educação básica, no entanto, não é a única a apresentar carência de químicos. No Estado de São Paulo, desde meados da década de 1990 o número de pesquisadores que solicitam auxílio à pesquisa para a FAPESP na área de química tem se mantido entre 350 e 400 por ano, conforme mostrou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação.
“Para um país do tamanho do Brasil, e um estado com a capacidade de São Paulo, 400 pessoas na área de química é muito pouco. Precisamos de mais instituições e cientistas nessa área para que possamos abranger mais temas e avançar nas pesquisas”, ressaltou.
Embora em quantidade de pesquisadores a química em São Paulo ainda tenha um caminho a perseguir, o diretor científico destacou a qualidade da pesquisa realizada no estado, refletida pelo recente aumento no número de concessões de Bolsas de Pós-Doutorado pela Fundação.
“Isso é muito positivo, pois a pesquisa que se faz em São Paulo já é suficientemente competitiva para não só ter pós-doutores como para trazê-los de qualquer lugar do mundo e contribuir com a atividade científica no estado”, disse Brito Cruz.
Inovação
Outro desafio elencado pelos palestrantes foi a transferência de conhecimento gerado pelas instituições acadêmicas para o setor empresarial, a fim de incrementar a produção científica nacional e a competitividade no mercado global.
“O desenvolvimento e a inovação de países desenvolvidos dependem de uma participação muito grande da indústria, setor que irá transformar o conhecimento gerado a partir da pesquisa científica em produtos. No entanto, isso ainda não é o forte do Brasil”, pontuou Vieira.
Entre os fatores para a tímida participação das empresas nas atividades de pesquisa e desenvolvimento no Brasil e em São Paulo, Ronaldo Mota, secretário nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), apontou a necessidade de estímulo a uma boa ciência ancorada ao sistema produtivo e a formação de recursos humanos voltados à inovação.
“O Brasil tem um enorme potencial, à medida que souber transferir com qualidade a produção e capacidade científica e tecnológica para o melhor diálogo com o setor empresarial”, ressaltou.
Para Vieira, o país ainda precisa encontrar um modelo no qual seja possível unir seu desenvolvimento científico com as possibilidades de inovação, sendo a química detentora de um papel importante nesse desenvolvimento.
O próximo evento no Ciclo de Conferências do Ano Internacional da Química 2011, com o tema “Novas fronteiras tecnológicas da química”, será realizado no dia 19 de outubro, a partir das 13h30, no auditório da FAPESP.
Promovido pela Sociedade Brasileira de Química (SBQ) em parceria com a revista Pesquisa FAPESP, o evento integra as comemorações oficiais do Ano Internacional da Química, instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac, na sigla em inglês).
O ciclo é coordenado por Vanderlan da Silva Bolzani, professora do Instituto de Química de Araraquara da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro do comitê nacional de atividades do AIQ-2011 da SBQ, e por Mariluce Moura, diretora de redação da revista.
Mais informações: www.fapesp.br/eventos/aiq