Inseto robótico esclarece elo perdido entre dinossauros e aves
Moisés de Freitas - 20/10/2011
As asas melhoraram a mobilidade geral do inseto robótico, mas não seriam suficiente para que ele pegasse voo, em acordo com a atual teoria da evolução dos pássaros. [Imagem: Kevin Peterson/Berkeley Biomimetic Millisystems Lab]
De tiranossauro a beija-flor
Ao testar uma pequena barata-robô, pesquisadores acreditam ter lançado alguma luz sobre a evolução das asas e a origem do voo das aves.
Entre os muitos elos perdidos na história da evolução animal, uma dos mais instigantes é aquele que se acredita existir entre os dinossauros e as aves - sim, a teoria atual afirma que as aves são descendentes diretas dos dinossauros.
A pergunta básica que os biólogos se fazem é: Qual seria a função inicial das asas, uma vez que, em seus primórdios, o animal não saberia usá-las para voar, e elas nem mesmo seriam suficientes para isso?
Em outras palavras, mesmo sabendo que há fósseis de sauros com penas, por que a cega e insensível evolução teria começado a colocar asas em dinossauros?
Equilíbrio e eficiência
A resposta pode ser: para ajudá-los a manter o equilíbrio e se moverem de forma mais eficiente.
Esta é a conclusão de Kevin Peterson e seu professor Ron Fearing, da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos.
Eles estavam estudando um pequeno robô com mobilidade similar à de um inseto - o DASH (Dynamic Autonomous Sprawled Hexapod) foi inspirado em uma barata.
Como o andar do robô deixava a desejar, eles resolver instalar asas para ver se isso o ajudaria e ser tão esperto quanto seu modelo inspirador. E as conclusões foram mais interessantes do que os pesquisadores imaginavam.
Embora as asas tenham melhorado significativamente o desempenho do DASH na corrida - acelerando-o de 0,68 metro por segundo (m/s) para 1,29 m/s - isso não seria suficiente para que ele decolasse.
Mas, como o bater as asas melhorou ainda mais o desempenho, os cientistas acreditam que isso seja um reforço para a hipótese de que o voo começou com animais que saltavam de árvores e abriam suas proto-asas para planar.
Além de permitir o planeio, as asas permitem que o robô suba em superfícies bem mais íngremes, passando de uma inclinação máxima de 5,6 graus para 16,9 graus, também condizente com o comportamento de um animal que precise chegar o mais alto possível para saltar.
Interesses conciliáveis
O biólogo Robert Dudley, também de Berkeley, afirmou que a barata robótica não é o melhor modelo para estudar o voo dos pássaros porque ela tem seis pernas, e não duas, e suas asas são de plástico inteiriço, muito diferente de penas.
Por isto, este experimento não é suficientemente preciso para ser incorporado no estudo da evolução.
Mas ele gostou do uso de robôs para estudar a biologia evolutiva: "O que os experimentos conseguiram foi demonstrar a viabilidade de usar modelos robóticos para testar a hipótese das origens do voo."
Então, agora é só construir modelos mais similares aos dinossauros, cujos fósseis preservaram as primeiras penas.
O professor Fearing, por seu lado parece estar mais interessado na evolução dos seus próprios robôs.
"Nosso objetivo maior é dar aos nossos robôs as mesmas capacidades de mobilidade em qualquer terreno que os animais apresentam. No mundo real, há situações onde voar é uma opção melhor do que escalar, e outros lugares onde voar não funciona porque não há espaço suficiente. Nós precisamos de um robô híbrido corredor-voador," afirmou ele.
Talvez um "VelociBot" com penas possa atender aos interesses dos dois pesquisadores.
Bibliografia:
Experimental Dynamics of Wing Assisted Running for a Bipedal Ornithopter
Kevin C. Peterson, Ronald S. Fearing
IEEE Int. Conf. Intelligent Robots and Systems