A desonestidade científica de Ulisses Capozzoli: 171 epistêmico sobre o status de teorias científicas no contexto de justificação teórica

quinta-feira, agosto 18, 2011

NOTA DESTE BLOGGER:


Ulisses Capozzoli - SBPC

Eu estou me preparando para uma palestra em Curitiba sobre a história da teoria do Design Inteligente, mas na volta pretendo demonstrar a desonestidade científica de Ulisses Capozzoli, editor da Scientific American - Brasil, e de sua polarização intencional dessa questão como sendo ciência (racionalidade) e religião (irracionalidade) quando ela é estritamente científica.

Homens assim não podem ficar sem respostas porque sabem da verdade sobre as evidências encontradas na natureza e o que o contexto de justificação teórica significa para essas teorias. Precisam ter sua desonestidade científica alardeada para fazê-los voltar à razão: a ciência é a busca pela verdade e o cientista segue as evidências aonde elas forem dar.


As evidências, Capozzoli, não estão corroborando os atuais paradigmas e você como editor da Scientific American - Brasil sabe disso. Além disso, sua retórica se esvazia, pois essas informações estão à disposição de todos os interessados na Internet, mas você as sonega dos leitores da revista que é editor!!!


A questão hoje em dia não sobre se as especulações científicas vão de encontro aos relatos de criação de subjetividades religiosas, mas se as especulações dos cientistas são corroboradas no contexto de justificação teórica.

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Por Ulisses Capozzoli em 15/08/2011 na edição 655

Num seminário recente, no Rio, ouvi o relato de um dos componentes da mesa sobre a reação de parte de crianças à ideia de o universo ter a idade aproximada de 14 bilhões de anos, informação que os jornais divulgam quase diariamente. Essas crianças, que frequentam determinado espaço dedicado à ciência – influenciadas pelo criacionismo e interpretações fundamentalistas religiosas do mundo – segundo o palestrante, sorriem com desdém sobre a científica idade do cosmos.

Isso significa que, antes de estarem criticamente maduras para uma apreciação sensível, inteligente e promissora da natureza, estão mentalmente dominadas pelo dogmatismo de fundo religioso que ameaça retroceder o pensamento a uma repugnante idade das trevas. E o mais desconcertante: o palestrante diz que “respeita esse tipo de interpretação”.

Isso não seria paradoxal se, um par de minutos depois, ele não exibisse uma arte das constelações zodiacais e, em seguida, fizesse provocativas críticas à astrologia. A questão aqui é a seguinte: se ele aceita ideias arcaicas e sem sentido, promessas despudoradamente falsas e “milagres” deslavadamente mentirosos que uma legião de “pastores” propaga diuturnamente em programas de rádio e TV, por que criar caso com a astrologia?

A resposta, a meu ver, é simples e direta: covardia e ausência de integridade científica. Não estou acusando uma pessoa em particular – isso não faria sentido. Estou me referindo a uma tendência, visível a olho nu, de se “respeitar” farsas que são verdadeiros casos de polícia, envolvendo estelionato, entre outros crimes, mas ao mesmo tempo não perdoar astrólogos.

Jornais continuarão publicando

Aqui uma rápida explicação: não estou defendendo nem atacando astrólogos e a astrologia. Estou fazendo uma comparação entre pastores e astrólogos, o que é muito diferente. Carl Sagan (1934-1996), astrônomo e divulgador científico talentoso, preveniu, em seu último livro, O mundo assombrado pelos demônios – a ciência como uma vela no escuro, sobre as consequências da impotência da ciência em sensibilizar a sociedade humana para uma perspectiva mais promissora. Se visse ou ouvisse qualquer um desses espetáculos grotescos na TV ou em inúmeras estações de rádio, envolvendo pregadores de diferentes igrejas – todas elas preocupadas com interesses mundanos –, Sagan teria descoberto que a tragédia que previu chegou mais cedo que havia pensado.

Quanto à covardia da posição a que me refiro e que não se restringe, evidentemente, a uma única pessoa, talvez possa ser entendida da seguinte maneira: criticar esses criminosos que manipulam a fé das pessoas – um valor sagrado, na acepção clássica desse termo –, hoje é literalmente como cutucar um vespeiro. Igrejas, cada vez mais concebidas como uma rentabilíssima atividade – à custa da miséria material e filosófica de boa parte da população – costumam reagir com a veemência típica de criminosos farsantes e abusadores da fé como forma de proteger seus negócios hediondos.

Já os astrólogos, para usar uma expressão cotidiana, estão “pouco se lixando” para o que dizem astrônomos e outros cientistas. Eles sabem que os jornais continuarão publicando o horóscopo diário. E possivelmente a maior parte dos leitores faça uma consulta diária a eles, mesmo sem confessar esse comportamento. E nem precisam. Esse é um direito individual elementar.

Oráculo rarefeito

E, além disso, convenhamos, a astrologia e os astrólogos não são nenhuma ameaça. Ao contrário do que ocorre com igrejas que costumam saquear financeiramente um número desconhecido de vítimas. Ou estimular ataques para a “conquista de almas”, como ocorreu no Iraque sob a obscurantista administração de Bush filho e que agora está se revelando um dos preços excessivamente caros para ser pago sem desequilíbrios estruturais.

Eventualmente, uma nota de canto de página nos jornais traz uma pequena referência a abusos dessa natureza. Curiosamente, jornais e revistas semanais, que tratam de polícia e de política, evitam esse campo minado por contradições. Pessoalmente, posso dizer que não tenho qualquer dificuldade em revelar que leio meu horóscopo diariamente, com um critério bem particular: se as previsões são boas, considero que está tudo bem. Se forem ruins, interpreto que tudo não passa de besteira e não ligo a mínima.

Talvez uma leitura possível das colunas de horóscopo publicada diariamente pelos jornais seja a de que são uma espécie de diluição homeopática do que um dia foi, por exemplo, o prestigioso Oráculo de Delfos. O horóscopo diário é o oráculo rarefeito do século 21, para atender a cultura de massas, do homem destituído de alma e de senso crítico, a que se referiram filósofos como o espanhol José Ortega y Gasset.

Ameaças à ciência

O horóscopo diário talvez seja uma espécie de bengala em que as pessoas se apoiam para enfrentar a insegurança crescente do dia-a-dia: o ônibus perfurado de balas, não por bandidos, mas pela polícia, no Rio de Janeiro. As garotinhas assaltantes e ameaçadoras, de 11 e 12 anos de idade, que atuam impunemente na Vila Mariana, em São Paulo. Os edifícios incendiados por protestos em Londres, que no passado recente já foi uma Inglaterra bem mais cool. O atirador inesperado que dispara, sem razão aparente, numa escola americana ou numa ilha paradisíaca, na Noruega.

O horóscopo, certamente, é o remanescente da idade mágica que vivenciamos na pré-história e não completamente superado, ao contrário do que se costuma crer. A astrologia e os astrólogos não são incentivadores de guerras, ao contrário do que ocorreu e continua ocorrendo com o fanatismo religioso.

E a manipulação da religiosidade de cada um talvez seja a culminância do abuso e desrespeito profundos, camuflados sob uma pretensa liberdade religiosa que, na realidade, acoberta, entre outras coisas, uma negociata política, nefasta à sociedade como um todo. Não tenho qualquer pretensão de colocar ponto final numa questão que se arrasta pelo tempo e talvez venha a ser ainda pior no futuro imediato. Ao menos se as coisas continuarem assim. Toco no assunto porque essa é uma questão profundamente afeita à ciência e à produção do conhecimento científico com base na ética, na estética e na história.

Talvez esteja na hora de se refletir um pouco mais sobre quais são, neste momento, as verdadeiras ameaças à ciência e à humanidade, seguindo as pistas deixadas por Sagan em O mundo assombrado pelos demônios.

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[Ulisses Capozzoli é jornalista e editor chefe da Scientific American Brasil]