Mudança paradigmática abrupta: em geologia, é claro!

sexta-feira, junho 06, 2008

Mudança paradigmática abrupta: em geologia, é claro! E em biologia evolutiva???

Não existe Theoria perennis em ciência. Como bem disse Bachelard, o conhecimento que temos da realidade é “aproximado”, e “outros olhares” são mais do que bem-vindo: são fundamentalmente necessários para podar a síndrome narcisista de alguns cientistas que “congelam” as imagens epistêmicas de uma teoria científica, e são, intencionalmente, epistemicamente estrábicos para “outros olhares” da realidade.

O bom em ciência, é que a verdade científica hoje (pode ser também a verdade do século 19), pelo vigor das evidências contrárias, pode se mostrar “não-verdade”. E o caso aqui com as teorias tectônicas.

A verdade teórica da biologia evolutiva do século 19, com reformas implementadas pela Síntese Moderna dos anos 1930-1940, vai ser suplantada pela Síntese Moderna Ampliada. Uma teoria da evolução que não será selecionista.

Darwin, que ficou impressionado com a cordilheira dos Andes, e atribuiu o surgimento dela pelo gradualismo geológico, mais uma vez está sendo contestado pelo vigor das evidências contrárias.

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Fase de crescimento

06/06/2008

Agência FAPESP – Os Andes podem não ter se formado gradualmente como sugeriam as teorias tectônicas predominantes. De acordo com um estudo realizado por pesquisadores norte-americanos, a segunda maior cadeia de montanhas do planeta irrompeu abruptamente, dobrando de tamanho durante um curto período geológico, de 2 milhões a 4 milhões de anos.

O estudo, coordenado por Carmala Garzione, professora de geologia da Universidade de Rochester, teve seus resultados publicados na edição atual da revista Science. De acordo com a pesquisadora, com a descoberta a teoria da tectônica de placas precisará ser substancialmente modificada para incluir um processo conhecido como “delaminação”.

O método tradicional para avaliar o crescimento de montanhas consiste em estudar a história das dobras e falhas na crosta terrestre. Sob esse paradigma, os geólogos estimavam que os Andes teriam crescido gradualmente ao longo dos últimos 40 milhões de anos.

Carmala e sua equipe utilizaram técnicas desenvolvidas recentemente para medir como as precipitações e a temperatura da superfície alteram a composição química do solo de uma montanha. Estudando as bacias sedimentares dos Andes, a equipe conseguiu determinar quando e em que altitude esses sedimentos foram depositados.

Os registros de mudanças de altitude mostram que os Andes cresceram lentamente por dezenas de milhões de anos mas subitamente aumentaram muito mais rapidamente entre 10 milhões e 6 milhões de anos atrás.

O trabalho de um dos orientandos de pós-doutorado de Carmala, Gregory Hoke, corrobora a teoria do crescimento rápido e mostra que não apenas as montanhas, mas uma ampla região de mais de 560 quilômetros de largura teria se elevado em grau semelhante ao dos Andes.

Em uma pesquisa que será publicada em breve na revista Earth and Planetary Science Letters, Hoke descreve essas descobertas sobre como os rios entalharam profundos desfiladeiros nos flancos dos Andes enquanto a extensão da montanha aumentava.
Datando as incisões e mapeando a profundidade e extensão dos desfiladeiros, Hoke demonstra que a elevação superficial ocorrida na bacia sedimentar em que Carmala fez seus estudos provavelmente ocorreu em toda a largura da cordilheira dos Andes.

Carmala e sua equipe verificaram que, associadas às suas descobertas, uma ampla gama de indicadores geológicos – incluindo a história das dobras, falhas, erosão, erupções vulcânicas e acúmulos de sedimentos – sugere a provável ação de um processo de “delaminação”, que vem sendo intensamente debatido pela comunidade científica.
Embora a “delaminação” tenha sido proposta há décadas, Carmala afirma que o processo gera controvérsias, uma vez que os modelos mecânicos de construção de montanhas não conseguem reproduzi-lo e, até então, havia uma falta de dados sobre a elevação de cadeias montanhosas.

Quando as placas oceânicas e continentais se encontram, os geólogos estimam que a crosta continental envergue. Na superfície, o envergamento se manifesta como uma cadeia de montanhas que se ergue, mas abaixo da crosta o envergamento gera uma “raiz” pesada e de alta densidade que puxa a crosta para baixo como uma âncora.

A teoria tectônica convencional defende que a convecção do manto fluido do fundo da Terra causa vagarosamente uma erosão dessa pesada raiz, como um manancial desgastando uma rocha, permitindo que as montanhas gradualmente cresçam, ao passo que a crosta se torna mais curta e grossa.

No entanto, de acordo com Carmala, a teoria da delaminação sugere que, em vez de erodir lentamente, a raiz se aquece e escoa para baixo, até que abruptamente se rompe e afunda no fluido quente do manto. As montanhas acima, repentinamente livres do peso da raiz, disparam e, no caso dos Andes, se elevaram de uma altura de menos de dois quilômetros para cerca de quatro quilômetros em menos de quatro milhões de anos.

Algumas das principais implicações da elevação rápida de cadeias de montanhas são seus efeitos no clima e na evolução da região, segundo Carmala. A pesquisadora estuda agora, com um grupo de palentologistas, como a elevação rápida dos Andes afetou o clima e a diversidade da fauna no continente no fim do Mioceno, período em que a cordilheira se formou.

O artigo Rise of the Andes, de Carmala Garzione e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencemag.org


Rise of the Andes, de Carmala Garzione e outros, pode ser lido por assinantes da Science

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NOTA DO BLOGGER: Eu não entendo o por que da FAPESP não anunciar no seu boletim online que, se você for professor, pesquisador, ou estudante de graduação e pós-graduação em universidades públicas e privadas, você pode ler gratuitamente a Science e outras publicações científicos no portal da CAPES-Periódicos.