O maior de todos os mistérios: o que causa a evolução?
O que os nossos livros didáticos de Biologia do ensino médio e superior — os autores fazem parte da Nomenklatura científica, e a Grande Mídia tupiniquim — vive uma relação incestuosa com a NC quando a questão é Darwin [Síndrome ricuperiana – “O que Darwin tem de bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde”] não contam é que a teoria da evolução pela seleção natural de Darwin exposta no seu livro Origem das Espécies (1859) não é assim uma Brastemp no contexto de justificação teórica.
A seleção natural, a maior brilhante idéia que a humanidade já teve (Dennett, pensei que você já tivesse tomado juízo, menino) não foi uma idéia original com Darwin (outros tiveram primazia, e até um “estranho no ninho” — Edward Blyth a considerou “conservadora” e não criativa na natureza), foi vista com ceticismo saudável por outros cientistas e ardentes defensores como Thomas Huxley. Sem nenhuma evidência de “mecanismo evolutivo”, Darwin pediu licença aos seus leitores para usar tão-somente de “dois exemplos imaginários” de seleção natural na sua opus magnum.
Depois do auge das teses transformistas de Darwin, a maior idéia que a humanidade já teve caiu em descrédito e o darwinismo entrou em eclipse. Em 1909, os cientistas foram comemorar em Cambridge os 50 anos das teses darwinianas, e o que foi questionado naquela ocasião? A seleção natural. Por quê? Porque no contexto da justificação teórica os cientistas honestos e objetivos voltavam de mãos vazias. Perguntem a Weissman, Bateson, Morgan et al.
Em 2006 este “estranho no ninho” apresentou um pôster na V Sao Paulo Research Conference, no Auditório da Faculdade de Medicina da USP com um título bem desafiador para uma conferência que lidou com a teoria da evolução e alguns de seus “bemoles” (dificuldades em espanhol): “Uma iminente mudança paradigmática em biologia evolutiva?”. Naquela conferência, pelo menos dois ou três palestrantes mencionaram: “Para a nossa surpresa, aqui a seleção natural não funciona” ou algo como “Fomos surpreendidos que aqui a seleção natural parece não agir” y otras cositas mais.
Quer dizer, os darwinistas fundamentalistas (Obrigado Sérgio Danilo Pena, UFMG), sabem que a teoria da evolução por seleção natural não é justificada pelas evidências. Ué, mas Darwin já não tinha resolvida de uma vez para sempre a origem e evolução das espécies? Como que não há crise epistêmica nesta área científica? Como que a teoria não irá ser substituída em 2010? O que será discutido nas “festividades de culto à personalidade” para Darwin em 2009? A mesma velha coisa de sempre — o Mysterium tremendum de todos os mistérios — o que causa a evolução?
Eu se fosse o Dawkins, o Dennett, o Harris e outros darwinistas fundamentalistas xiitas (Meus amigos muçulmanos que me perdoem), eu enfiava a viola no saco e ia fazer ciência dura. Mas há esperança. Há darwinistas mais sérios e honestos que já conversam comigo em outras bases. Em recente conferência na Universidade Mackenzie, apresentei trabalho sobre a teoria do Design Inteligente para seleta e distinta audiência de darwinistas, um deles reconheceu dificuldades no contexto da justificação teórica, e espera que a evo-devo socorra a Darwin (eu continuo cético quanto à evo-devo porque a embriologia é uma área crítica na corroboração do fato, Fato, FATO da evolução).
O que é bom em tudo isso é que este “simples professorzinho do ensino médio” [será???], “tradutor científico”, “coordenador da ONG de um homem só” [será???] não está sozinho neste questionamento saudável de Darwin. Esclareçamos de uma vez por todas: Darwin não teve, Dennett, a maior idéia que a humanidade já teve, e ela precisa urgentemente ser considerada mais objetivamente e com ceticismo saudável pelos jornalistas científicos. Não há como tapar o Sol das evidências contrárias à seleção natural como “motor evolutivo” com uma peneira furada de notas promissórias epistêmicas.
No site LiveScience, Jeanna Bryner escreveu no dia 16 de agosto de 2007 um artigo na série “Greatest Mysteries” [Os maiores de todos os mistérios] intitulado “What drives evolution?” [algo como “O que causa a evolução?].
No segundo parágrafo lemos: “A seleção natural é aceita pelos cientistas como a principal máquina dirigindo a série de organismos e suas complexas características. Mas, a evolução via seleção natural é a única explicação para os organismos complexos?”
Resposta de Massimo Pigliucci (Professor do Departamento de Ecologia e Evolução da Stony Brook University em Nova York): “Eu penso que um dos maiores mistérios de todos em biologia é se a seleção natural é o único processo capaz de gerar complexidade de organismos ou se há outras propriedades da matéria que também entre em cena. Eu suspeito que a última parte se mostrará verdadeira.”
Interessante confissão de um evolucionista honesto: a primeira parte é mentira, a segunda pode se demonstrar verdadeira. O que isso significa em termos epistêmicos? Estamos fazendo ciência num vazio paradigmático? Mas a ciência abomina o “vácuo paradigmático”? O que isso significa então? Chamem o Kuhn: quando um paradigma entra em crise, e não consegue responder às anomalias, os que praticam ciência normal “jogam as anomalias para debaixo do tapete epistemológico”, e tudo vai dantes no quartel de Abrantes, oops, de Darwin. E a Grande Mídia tupiniquim, atreladas ao Livrinho Verde do camarada Darwin, não aborda essas inconsistências. As evidências contrárias, ora, as evidências que se danem, o que vale é a teoria (Dobzhansky no Brasil).
A teoria e o movimento do Design Inteligente já estão no pedaço do tio Sam há quase duas décadas, e em Pindorama há quase uma década. Aqui e ali destacamos essas inconsistências no contexto da justificação teórica da teoria da evolução via seleção natural. É interessante destacar o que Pigliucci salientou na entrevista sobre alguns cientistas estarem propondo adições à lista de forças evolutivas: “Ao longo de quase duas décadas atrás, os cientistas começaram a suspeitar que haja outras propriedades de sistemas complexos (tais como os organismos vivos) que podem ajudar, junto com a seleção natural, explicar como coisas tipo os olhos, o flagelo bacteriano [sic, Pigliucci, poderia ter mencionado o Behe], asas e os cascos de tartarugas evoluem.”
E qual a idéia por trás disso? Flexibilidade dos genes. Os organismos estariam equipados com a flexibilidade de mudar suas características físicas ou outras características durante o desenvolvimento para se acomodarem às mudanças ambientais. O fenômeno é chamado de plasticidade fenotípica, mas não é um fenômeno que apareça tipicamente nos genes. Fatores ambientais contribuiriam para isso.
Entra em cena Darwin: se benéfica, esta flexibilidade poderia ser transmitida para a geração seguinte, e desencadear a evolução de novas características numa espécie. Pigliucci disse: “Esta plasticidade é transmissível, e a seleção natural pode favorecer tipos diferentes de plasticidade, dependendo do limite das condições ambientais que o organismo encontrar”.
O problema, segundo Theunis Piersma, do Centro de Estudos Ecológicos e Evolutivos na Universidade de Groningen, na Holanda, é que “nós simplesmente não entendemos como… que o ambiente e a planta genética interagem durante o desenvolvimento.”
Jeanna é otimista com tudo isso: “Dessa maneira, o mistério está começando a ficar claro como que as diversas espécies com uma série de características evoluem. O campo, que se apoiou no passado mais no registro fóssil, ganhou um impulso com o desenvolvimento das técnicas genéticas e a integração de diversos setores da ciência, conectando a genética, a biologia, a ecologia e a ciência da computação.”
Alô MEC/SEMTEC/PNLEM: nossos alunos do ensino médio precisam saber disso urgentemente. Bradem por todo o Brasil, abram alas para a verdade sobre o fato, Fato, FATO da evolução via seleção natural — só agora em 2007, a idéia que Darwin teve não foi “a idéia mais brilhante que a humanidade já teve”, mas que Darwin simplesmente nos deu um espelho embaçado do século 19 que a ciência do século 21 começa a clarear.
Gente, como é bom ser vindicado em suas teses. A ciência é algo realmente fantástico. Nada como um dia atrás do outro. Phillip Johnson me escreveu certa vez dizendo que eu era muito radical no estabelecimento da verdade científica. Respondi para ele que era radical sim por querer “voltar às raízes”. É isso que a palavra “radical” significa. Na questão da ciência, eu sou um radical sim por querer mais empirismo e menos “just-so stories” [estórias da carochinha] nas teorias da origem e evolução das espécies.
Jeanna concluiu seu artigo assim: “Enquanto os cientistas estejam lançando luz sobre os mecanismos naturais que operam na modelagem das espécies, muitas questões no campo estão sendo feitas nas bancas de laboratório. E a questão original examinada por Charles Darwin [sic, a idéia não é original em Darwin] — qual é o mecanismo que provoca a evolução de novas espécies — ainda tem de ser totalmente explicada. E outra questão relacionada se avulta: Quão importantes são os eventos aleatórios, em contraposição à seleção natural, na modelagem dos organismos?”
Valeu, Jeanna, pela sua coragem de fazer perguntas que os darwinistas fundamentalistas não querem fazer, proíbem de serem feitas através de processos na justiça, de perseguirem academicamente os que questionam a validade do fato, Fato, FATO da evolução, dando assim oportunidade de que visões extremas da evolução, de teses contraditórias como a teoria do Design Inteligente, possam ganhar acesso na mesa do debate acadêmico, e apareçam com suas teses sem serem distorcidas ou descaracterizadas na Grande Mídia.
Eu queria ver a cara dos jornalistas científicos tupiniquins depois desse exemplo de jornalismo científico objetivo. Façam como Jeanna Brynnes: abordem temas polêmicos nos seus jornais e revistas, ou se envergonhem da existência de uma jornalista que tem “cojones” para questionar a Darwin.
Ademain, que cavalo não sobe escada [obrigado, Ibrahim Sued, colunista social], e a seleção natural náo é mais aquela...