Morgan 'falou e disse' – a sobrevivência do mais apto é truísmo ou simplesmente metáfora!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Muito pouca gente sabe que Thomas Hunt Morgan (1866-1945), proeminente geneticista americano e prêmio Nobel em Fisiologia e Medicina em 1933 por ter descoberto o papel do cromossomo na hereditariedade, era cético em geral do darwinismo e em particular da seleção natural.

Morgan questionava se "a seleção natural [era] uma agência capaz de produzir mudanças progressivas?". Uma vez que "a origem desses tipos... e não a preservação de alguns deles após terem aparecido" é "o fenômeno essencial da evolução", portanto, "a luta pela existência e a sobrevivência do mais apto pode expressar somente um tipo de truísmo ou metáfora, e não tem nada a ver com a origem dos novos tipos a partir de tipos antecedentes".

"Claro, nenhum mutacionista negaria que um novo tipo deve ser capaz de sobreviver e perpetuar-se se é para ele fazer parte na evolução; mas isso pode ser apenas um chavão. Um mutacionista pode bem insistir que a parte essencial da teoria da seleção natural de Darwin não é a sobrevivência, mas o postulado de Darwin de que as variações individuais, presente em todo lugar, fornecem a matéria bruta para a evolução. Isso o mutacionista negaria.

Então em qual sentido têm os slogans 'competição' e 'sobrevivência do mais apto' chegaram a ser geralmente considerado como as características essenciais da seleção natural? Esses termos significam, por exemplo, que a seleção natural é um agente ativo na evolução, que em si mesma provoca as mudanças progressivas; ou eles significam somente que ela [a seleção natural] age como uma peneira para os materiais que se apresentam como variações?

Se nós pensarmos sobre a evolução como um processo ativo, a seleção natural é uma agência capaz de provocar as mudanças progressivas, ou antes, ela não desvia a atenção do fenômeno real, e oferece, no máximo, somente uma explicação da presença de certos tipos e a ausência de outros em qualquer período da história geológica? A origem desses tipos – os verdadeiros passos criativos – não a preservação de alguns deles após eles terem aparecido, pode antes ser considerada como o fenômeno essencial da evolução.

Se assim for, 'a luta pela existência' e 'a sobrevivência do mais apto' pode expressar somente um tipo de truísmo ou metáfora, e não têm nada a ver com a origem dos novos tipos a partir de tipos antecedentes. Esses contrastes podem ser apresentados mais claramente por uma declaração de situações inversas. Vamos supor que a evolução veio como uma série de respostas adaptivas diretas ao ambiente. Em tal caso a seleção natural praticamente se tornaria sem sentido, embora a afirmação de que isso levaria à sobrevivência do mais apto ainda valeria". [1]

O mais interessante em Morgan é que o grande biólogo foi professor da cadeira de zoologia experimental na Columbia University, e mais tarde chefe da Divisão de Biologia do CALTECH (California Institute of Technology) de 1928-1942. Além disso, ele foi capaz de demonstrar que os genes são transportados nos cromossomos e são a base mecânica da hereditariedade – formou a base da ciência moderna da Genética (razão de ter sido o primeiro cientista laureado com o Nobel em 1933 pelas suas pesquisas em Genética).

Por quais razões teria Morgan rejeitado o mecanismo de seleção natural agindo em pequenas variações constantemente produzidas conforme proposto por Darwin? Razões subjetivas ou científicas? Não contaram isso pra você em nossas universidades, mas Morgan simplesmente rejeitou o poder criativo da seleção natural por razões científicas.

NOTA:

[1] "Of course no mutationist would deny that a new type must be able to survive and perpetuate itself if it is to take part in evolution; but this might be said to be only a commonplace. A mutationist might well insist that the essential part of Darwin's theory of natural selection is not survival, but Darwin's postulate that the individual variations, everywhere present, furnish the raw materials for evolution. This the mutationist would deny.

In what sense, then, have the catchwords `competition' and `the survival of the fittest' come to be generally regarded as the essential features of natural selection? Do these terms mean, for instance, that natural selection is an active agent in evolution, which in itself brings about progressive changes; or do they mean only that it acts as a sieve for the materials that present themselves as variations?

If we think of evolution as an active process, is natural selection an agency capable of bringing about progressive changes, or does it not rather direct attention away from the real phenomenon, and offer at most only an explanation of the presence of certain types and the absence of others at any one period of geological history? The origin of these types-the real creative steps-not the preservation of certain of them after they have appeared, might rather be regarded as the essential phenomenon of evolution.

If so, `the struggle for existence' and `the survival of the fittest' may express only a sort of truism or metaphor, and have nothing to do with the origination of new types out of antecedent ones. These contrasts may be brought out more clearly by a statement of the converse situations. Suppose evolution had come about as a series of direct adaptive responses to the environment. In such a case natural selection would become practically meaningless, although the statement that this would lead to the survival of the fittest would still hold." MORGAN, T.H., "The Scientific Basis of Evolution," [1932], W.W. Norton: Nova York NY, Second Edition, 1935, pp.109-110.