“Papa consagra Teoria daEvolução”, foi esse o título do artigo de Frei Betto, no jornal O Globo (06/11/2014), para
contrastar o 1◦ Congresso Brasileiro de Design Inteligente onde cientistas
brasileiros debaterão a tese do Design Inteligente – “Deus teria criado o homem
diretamente”.
Frei Betto, um religioso,
está em flagrante descompasso com a verdade epistêmica da TDI e de seus
proponentes e defensores: a TDI não afirma que “Deus teria criado o homem
diretamente”, mas é uma teoria científica minimalista que afirma existir sinais
de inteligência na natureza que são empiricamente detectados todas as vezes que
encontrarmos complexidade irredutível de sistemas biológicos e a informação
complexa especificada como a linguagem do DNA.
Frei Betto, um religioso da
ordem Dominicana (seja lá o que isso ainda signifique neste mundo pós-moderno) apanhado
em flagrante desobediência ao mandamento: Não dirás falso testemunho contra o
teu próximo. Êxodo 20.16, NVI.
Frei Betto destacou a
declaração do Papa Francisco à Academia de Ciências do Vaticano, a 28 de
outubro de 2014 de que o evolucionismo e o Big Bang não são incompatíveis com a
existência de um Criador:
“Quando lemos a respeito da
Criação no Gênesis, corremos o risco de imaginar que Deus era um mágico, com
varinha de condão capaz de tudo fazer. Mas isso não é assim.”
Mas Frei Betto, que deve ter cabulado a aula de hermenêutica no Seminário, deixou de
fora o contexto maior e esclarecedor da fala papal:
“Ele criou os seres e deixou
que se desenvolvessem segundo as leis internas que Ele mesmo
inscreveu em cada um, para que progredissem e chegassem à própria plenitude. E
deu a autonomia aos seres do universo, assegurando ao mesmo tempo a sua
presença contínua, dando o ser a todas as realidades. E assim a criação foi em
frente por séculos e milénios, até se tornar aquela que hoje conhecemos,
precisamente porque Deus não é um demiurgo nem um mago, mas o Criador que dá a existência a
todos os seres. O início do mundo não é obra do caos,
que deve a sua origem a outrem, mas deriva directamente de um Princípio
supremo que cria por amor. O Big Bang, que hoje se põe na
origem do mundo, não contradiz a intervenção criadora divina, mas exige-a. A
evolução na natureza não se opõe à noção de Criação, porque a evolução
pressupõe a criação dos seres que evoluem.”
Mas o que o papa Francisco
quis dizer que Deus não é um mágico? Diferente de um mágico, e Frei Betto, como
teólogo, sabe disso, Deus pode criar as coisas ex-nihilo e não manipulando a
matéria já existente, mas como Autor e Criador de todas as coisas, inclusive
toda a matéria do universo. Traduzindo em miúdos, o Papa Francisco crê que Deus
é o Criador. E esse ponto de vista é rechaçado pela comunidade cientifica: Deus
não entra nos paradigmas científicos.
Quanto às leis internas
mencionada na fala papal, coincidência ou não, Frei Betto, mas a própria
ciência fala delas:
“O plano corporal de um animal,
e, por conseguinte, seu exato modo de desenvolvimento, é uma propriedade
de sua espécie e é assim codificado no genoma. O
desenvolvimento embrionário é uma transação informacional enorme, na
qual os dados de sequência do DNA geram e guiam a distribuição
espacial de específicas funções celulares por todo o sistema.”
“The body plan of an animal,
and hence its exact mode of development, is a property of its species
and is thus encoded in the genome. Embryonic development is an enormous informational
transaction, in which DNA sequence data generate and guide
the system-wide spatial deployment of specific cellular functions.”
Emerging properties of
animal gene regulatory networks, Eric H. Davidson. Nature 468, issue 7326 [16
December 2010]: 911-920.
Davidson é professor de
Biologia Celular no Instituto de Tecnologia da Califórnia, e não é proponente
da TDI.
Frei Betto pinçou a
declaração papal como coincidência com a realização do 1º Congresso Brasileiro
do Design Inteligente, em Campinas, onde alguns desses cientistas defendem a
teoria do TDI (Teoria do Design Inteligente), que preconiza “uma Inteligência
Suprema, que muitos denominam Deus, criou diretamente a complexidade da célula
humana”.
Frei Betto nunca leu nada
sobre a TDI, pois sua ignorância do tema é revelada aqui: a TDI não é uma
teoria de criação, mas de detecção de sinais de inteligência na natureza. Nada
fala, pois como teoria científica, nada pode falar sobre a ontologia e o modus
operandi de Deus como falou o Papa Francisco aos cientistas da Academia de
Ciências do Vaticano.
Frei Betto parou no tempo e
no espaço sobre a teoria da evolução! Hoje a hipótese de que todos os seres
vivos descendem de um ancestral comum não é corroborada no contexto de
justificação teórica, pois a biologia molecular não fornece evidência da
existência de uma grande Árvore da Vida. Embora a seleção natural seja
considerada pelos evolucionistas como o principal mecanismo responsável pelas
características desses seres, na verdade a seleção natural é, NOTA BENE, um
processo extremamente ineficiente para espalhar características numa população,
a menos que uma característica tenha um coeficiente extremamente alto de
seleção.
Wolfgang Pauli, laureado com
o Prêmio Nobel de Física em 1945, era um crítico ferrenho do neodarwinismo:
“Em discussões com biólogos,
eu encontro grandes dificuldades quando eles aplicam o conceito de ‘seleção
natural’ em um campo bem amplo, sem serem capazes de calcular a probabilidade
da ocorrência em um tempo dado empiricamente de apenas aqueles eventos, que têm
sido importantes para a evolução biológica. Considerando a escala de tempo
empírica da evolução teoricamente como infinita, eles então têm um jogo fácil,
aparentemente, de evitar o conceito de intencionalidade. Enquanto eles fingem
ficar desta maneira completamente ‘científicos’ e ‘racionais’, eles se tornam,
na verdade, muito irracionais, particularmente porque eles usam a palavra
‘acaso’, não mais combinada com cálculos de uma probabilidade matematicamente
definida, na sua aplicação para todos os eventos raros e únicos, mais ou menos
sinônimos com a antiga palavra ‘milagre’.” (p. 27-28)
"In discussions with
biologists I met large difficulties when they apply the concept of 'natural
selection' in a rather wide field, without being able to estimate the
probability of the occurrence in a empirically given time of just those events,
which have been important for the biological evolution. Treating the empirical
time scale of the evolution theoretically as infinity they have then an easy
game, apparently to avoid the concept of purposesiveness. While they pretend to
stay in this way completely 'scientific' and 'rational,' they become actually
very irrational, particularly because they use the word 'chance', not any
longer combined with estimations of a mathematically defined probability, in
its application to very rare single events more or less synonymous with the old
word 'miracle.'" (pp. 27-28)
Publicado no Journal of
Consciousness Studies 13(3), 5-50 (2006).
Frei Betto não sabe, mas vai
ficar sabendo – vem aí uma nova teoria geral da evolução – a Síntese Evolutiva
Ampliada/Estendida, que não será selecionista e deverá incorporar alguns
aspectos teóricos neolamarckistas. Pobre Darwin! Será anunciada somente em
2020.
Assim, 64 anos depois, nenhuma
novidade e nenhuma mudança de direção na fala do Papa Francisco aos cientistas
da Academia de Ciências do Vaticano, contra o que disseram outros papas, que
permitiram que a evolução fosse discutida, com o claro entendimento de que a
nossa criação é de Deus, e que descendemos todos de Adão e Eva, e que cada um
recebe sua alma de Deus (Humani Generis, 1950, Papa Pio XII).
O Big Bang é considerado a
explosão primordial que deu origem ao Universo, não é uma teoria, mas um modelo
cosmológico. Fora este senão, Frei Betto foi brilhante na sua descrição
histórica de como foi elaborado este modelo cosmológico.
Quanto à declaração do Papa João
Paulo II: “Novas descobertas nos levam a reconhecer que a evolução é mais que
uma hipótese. A convergência dos resultados de estudos independentes é
argumento significativo em favor da teoria”, Frei Betto deixou de fora que o
Papa questionou explicitamente a explicação darwinista/materialista da evolução
humana, chamando-a de “incompatível com a verdade sobre o homem”.
E, em nome da Igreja
Católica, penitenciou-se e reabilitou Galileu e Darwin.
A ignorância do Frei Betto
sobre a TDI é profunda e maliciosamente perversa ao afirmar que mesclamos
inadequadamente religião e ciência e, a partir de uma leitura literal da
Bíblia, defendemos nossa descendência de “seu Adão e dona Eva”. Frei Betto sabe
que Adão significa “terra” e Eva significa “vida” em hebraico.
Concordamos com ele – o autor
do Gênesis não quis ensinar ciência, mas sua inferência de que o autor de
Gênesis quis ensinar que “Deus incutiu em sua Criação uma dinâmica evolutiva
própria, ora desvendada pela ciência” é dizer que teve acesso à mente de Moisés
sobre sua intenção autoral.
Frei Betto perguntou: Se
Adão e Eva tiveram dois filhos homens, Caim e Abel, como estamos aqui? A
pergunta é dúplice de sentido e de resposta. Sem dúvida que não foi pela
utilização de sistema excretor de Caim e Abel, pois isso não gera descendência.
E em seguida, a pegadinha malévola: os criacionistas aprovam o incesto de Eva com seus
filhos? A resposta dos criacionistas é não.
Pobre do Frei Betto que
busca na ciência (um empreendimento humano mutável) muletas para se sustentar.
Infeliz do Frei Betto que não ousa responder se crê na existência objetiva e
real de Deus que age na história do universo e dos homens.