“Outro dia eu passava em frente de um imenso prédio do qual emanava um tremendo alarido. O barulho era terrível. Uma porta estava aberta e, olhando para dentro, para a minha surpresa, eu vi que quase todo mundo estava vestido de branco. Mas, estranho dizer, mas não havia somente um púlpito, mas dois. A multidão ia de um lado para o outro, jalecos de laboratórios impecáveis fluindo na correria. De um púlpito a proclamação ressoava: "A ‘explosão’ Cambriana é real!!! Centenas de filos evoluíram, quase que instantaneamente. Ouçam, o neodarwinismo está em crise terminal, nós devemos invocar novos mecanismos de macroevolução". Do outro púlpito, contudo, eu ouvi o seguinte: "Não, a ‘explosão’ Cambriana é uma miragem, um mero artefato! Por eras pequeníssimos animálculos deslizavam pelo lodo, evitando a fossilização, guardando os seus genes Hox, balançando ao tique sonoro da horometria molecular."
Dr. Simon Conway Morris, Cambridge University. Picture: Nigel Bovey
The other day I was walking past an immense building from which emanated uproar. The noise was terrific. A door swung open and, looking in, I saw to my surprise that nearly everyone was dressed in white. But, strange to say there was not one pulpit but two. The crowd surged back and forth, spotless laboratory coats streaming in the rush. From one pulpit the proclamation rang out: "The Cambrian 'explosion' is real!!! Hundreds of phyla evolved, almost instantaneously. Listen, neo-darwinism is in terminal crisis, we must summon forth new mechanisms of macroevolution". From the other pulpit, however, I heard the following: "No, the Cambrian `explosion' is a mirage, a mere artefact! For aeons tiny animalcules slithered through the slime, avoiding fossilization, hoarding their Hox genes, swaying to the sonorous tick of molecular horology."
Simon Conway Morris, "Nipping the Cambrian "explosion" in the bud?" BioEssays, 22: 1053-1056 (2000).