O FILÓSOFO E OS FÓSSEIS
por Joe Sobran
The Reactionary Utopian
6 de abril de 2006
A revista Science se depara com pensamento esclarecedor.
A história principal da primeira página do jornal The New York Times, de 6 de abril, desta vez, não era política. Era sobre fósseis.
“All the news that's fit to print” [N. do trad.: Este é o moto do NYT: "Todas as notícias convenientes de serem impressas"], certo? Mas por que fósseis na primeira página, ofuscando a imigração, a guerra, e até Katie Couric? Isso não faz parte da seção de Ciência na terça-feira? Ou, como nós dizemos, há alguma agenda acontecendo por aqui?
A manchete nos dá uma dica: “Fossil Called Missing Link from Sea to Land Animals”[Fóssil Chamado de Elo Perdido de Animais Marinhos para Terrestres]. Realmente, o quinto parágrafo explica que alguns cientistas – isto é a revista Science falando, à qual todo o joelho deve se dobrar – dizem que esses fósseis encontrados no Ártico do Canadá, há 600 milhas do Pólo Norte, se constituem numa “poderosa refutação aos criacionistas religiosos”.
Como assim? As quatro nadadeiras da criatura parecem ser “membros em construção”, capacitanda-a a sair da água e arrastar-se pesadamente em terra. Aqui, finalmente, um elo perdido entre os peixes e outras bestas, tais como os “anfíbios, os répteis e dinossauros, os mamíferos e eventualmente os humanos”.
Tomem essa, seus criacionistas! Vocês vêm dizendo que o registro fóssil carece de formas de vida transicionais cruciais, e aqui está a prova de que Darwin estava certo!
Bem recentemente, a seção de Ciência do Times reportou uma nova teoria de que o Mar da Galiléia costumava congelar, de modo que quando Jesus andou sobre a água (Marcos 6.51), talvez ele estivesse andando sobre o gelo. Nenhum milagre, de modo algum, você percebe. Mais uma vez, a Ciência falou.
Por tudo isso, eu ainda acho que a Ciência algumas vezes é (perdoem-me o jogo de palavras) um pouco “fishy” [N. do Trad.: O autor se refere ao Tiktaalik roseae, peixe (fish em inglês) e a palavra "fishy" é traduzida por "duvidoso(a)"], especialmente quanto ao assunto da evolução. E eu não peço a ninguém para acreditar na minha palavra. Apenas leiam o livro Darwinian Fairytales [Contos de fadas darwinistas], de David Stove, há pouco republicado pela Encounter Books, em Nova York.
Stove, que faleceu em 1994, foi um famoso filósofo australiano. Ele não era nem cientista nem criacionista, mas ateu. Ele não rejeitou totalmente a teoria da evolução, e na verdade tinha grande respeito por Darwin. Mas como rigoroso praticante de análise lingüística, ele pensou que Darwin e os seus sucessores, de T.H. Huxley a Richard Dawkins, se apoiaram menos no método científico do que no abuso da linguagem.
O resultado foi o que Stove chamou de “O Dilema do Darwinismo”. Os fatos simplesmente não se ajustaram – e não podiam – com as afirmações da teoria, particularmente no seu relato da vida humana. E os darwinistas, embora afirmem explicar a evolução e “a descendência do homem” como sendo um enorme acidente de uma luta cega pela sobrevivência, tiveram que continuar introduzindo teleologia – propósito – nos seus argumentos.
Eles rejeitam a idéia de Deus como um designer inteligente, mas insistem em usar tais expressões e metáforas como “genes inteligentes”, “gene egoísta”, “ferramentas”, “táticas”, “planos”, “calculado”, “organizado”, “objetivo”, e “design”. Por implicação, essas palavras transferem a noção de propósito de um Deus benigno, sobre-humano para entidades sub-humanas como genes e “memes”. Dawkins, que propôs (ele diria “descobriu”) os memes, chama terminantemente o “altruísmo” de “algo que não existe na natureza”. Afinal de contas, o altruísmo seria uma desvantagem fatal na luta cruel pela sobrevivência.
Bem, se o altruísmo não existe na natureza, por que ele existe absolutamente? Como é que pode? Nós ainda não estamos na natureza? Como podemos escapar disso? Quando cessamos de ser competidores impiedosos e começamos a ser cooperadores, construindo hospitais e as instituições de caridade e todas as instituições que preservam as pessoas a quem a natureza darwinista, vermelha de sangue nos dentes e nas presas, consideraria “incapazes” para a sobrevivência? Como podemos ser tão completamente diferentes das criaturas selvagens de quem somos alegadamente descendentes?
E se os impulsos para a auto-preservação e reprodução de nossa espécie estão contidos em nossos genes, por que fazemos tantas coisas que frustram esses impulsos? Não somente o altruísmo, mas o heroísmo, o celibato, o aborto, a contracepção, o alcoolismo, e milhares de outras coisas que são, do ponto-de-vista darwinista, auto-destruidores e precisando de explicação.
Os darwinistas sabem desses problemas, e Stove mostra, com ironia hilária e sarcasmo selvagem, como eles se ataram com nós de pensamento circular tentando explicar as mais intratáveis dificuldades que obrigatoriamente a sua teoria acarreta. Stove chama a teoria de “uma difamação ridícula dos seres humanos”.
Como disse Samuel Johnson, “quando a especulação faz o seu pior estrago, dois mais dois ainda continuam sendo quatro”; e “Senhor, nós = sabemos = a vontade é livre, e há uma finalidade nisso”. Esse é o tipo inusitado de senso comum com o qual David Stove retruca o não senso comum que posa como “Ciência”.
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Joe Sobran é colunista e editor da newsletter mensal, SOBRAN'S. Os seus livros incluem “ALIAS SHAKESPEARE” (The Free Press 1997), “HUSTLER: THE CLINTON LEGACY” (Griffin Communications, 2000), e “SINGLE ISSUES: ESSAYS ON THE CRUCIAL SOCIAL QUESTIONS” (The Human Life Press, 1983).
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Tradução para o português e publicação neste blog autorizadas pelo Autor.