O artigo abaixo é para chamar a atenção especialmente das editorias de ciência da Folha de São Paulo [Alô, ombudsman!!!], O Estado de São Paulo, O Globo, as revistas Veja, Época, Superinteressante e Galileu. Quem sabe ocorre algum tipo de ‘metanoia’ epistemológica? Eu, se fosse jornalista desse tipo ‘maria-vai-com-as-outras’, depois de ler este artigo cientificamente esclarecedor, enfiava a viola jornalística científica no saco e ia pescar no Mato Grosso! Ou estudar um pouco mais sobre Teoria Geral da Evolução, para não escrever tanta bobagem assim! Ou de continuar sendo apanhado com a mão na cumbuca ideológica que posa como ciência!
Aos alunos de jornalismo científico, uma pequena aula de como escrever cientificamente em ciência das origens e evolução humanas: não confiem cegamente nos press releases. Façam o seu dever de casa: leiam a matéria na sua íntegra, e depois publiquem um artigo objetivo e científicamente honesto e equilibrado.
Pro bonum scientia, um artigo de Evolução Humana 101 que a GM tupiniquim vai ter que engolir. E digerir. E mudar de atitude!
Enézio E. de Almeida Filho
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Por Casey Luskin
14 de abril de 2006
A mídia exagera as afirmações de “evolução humana”: examinando o mais novo “elo perdido”
Destaquei recentemente como a cobertura do Tiktaalik revelava o fenômeno fascinante, que somente após descobrir um novo “elo perdido” é que os evolucionistas irão reconhecer o prévio estado insignificante de evidência fóssil a favor da evolução. Esse comportamento é novamente visto na cobertura da descoberta dos fósseis de Australopithecus anamensis na Etiópia. A mídia também exagerou e extrapolou as afirmativas de que essa evidência apóia a “evolução humana”.
O mais novo “elo perdido” é, na verdade, composto de alguns dentes e fragmentos de ossos de A. anamensis, uma espécie tipo macaco que viveu um pouco mais de 4 milhões de anos atrás. Incrivelmente, afirmações de “aspecto intermediário” são baseadas em 2-3 dentes caninos fragmentados de tamanho e formato “intermediários”. Isso agora terminou em grandes afirmações na mídia quanto à descoberta de um “elo perdido”. Porque alguns fragmentos de ossos de Ardipithecus ramidus e Australopithecus afarensus também foram encontrados na área, a MSNBC destacou essas descobertas num artigo de primeira página chamando isso de “até aqui a mais completa corrente de evolução humana”. A cobertura da mídia dessa descoberta segue então um padrão idêntico àquele do Tiktaalik: afirmações incrivelmente exageradas de um “fóssil transicional” foram seguidas de admissões desagradáveis de quão previamente insignificante foi a evidência a favor da evolução. Além disso, as afirmações de que essa descoberta ilumina a “evolução humana” são enganadoras, pois esses fósseis vêm de uma espécie tipo macaco que há muito antecede o surgimento do nosso gênero Homo, e tido como removido da origem dos “humanos”. [NOTA BENE!!!]
A evolução era “obscura” antes e é obscura agora:
Conforme destacado, os evolucionistas somente admitem quão frágil a evidência foi a favor da evolução após terem algum fóssil novo supostamente “transicional” em suas mãos. Compare quão idêntica dicção foi usada na Nature para conceder à evidência previamente “obscura” a favor do tetrápode, e depois agora com a evolução australopitecínea após terem sido feitas recentes descobertas:
Tiktaalik: “A origem das principais características de tetrápodes tem permanecido obscura pela falta de fósseis que documentem a seqüência das mudanças evolutivas.” (Daeschler et al., “A Devonian tetrapod-like fish and the evolution of the tetrapod body plan”, Nature, Vol. 440:757-763 [April 6, 2006]; ênfase adicionada).
Australopithecus: “Até recentemente, as origens do Australopithecus eram obscurecidas por um registro fóssil esparso.” (White et al., “Asa Issie, Aramis and the origin of Australopithecus”, Nature, Vol. 440:883-889 [April 13, 2006]; ênfase adicionada).
Aparentemente o artigo da MSNBC até se sentiu confortável em admitir que nunca tínhamos anteriormente uma seqüência contínua de fósseis documentando a “evolução humana” em um só lugar: “Até agora o que os cientistas tinham eram fotos da evolução humana espalhadas ao redor do mundo. Encontrar tudo numa área geral faz daquelas fotos mais do que um mini-filme caseiro de evolução” ("Fossil discovery fills gap in human evolution", por Seth Borenstein, Associated Press, 4/12/06).
É claro que a falta de um “mini-filme caseiro” nunca importunou antes aos evolucionistas: os críticos têm sido solicitados a não pedir seqüências contínuas de fósseis exibindo a evolução porque as espécies podem migrar, e freqüentemente a evolução ocorre em pequenas e isoladas populações que não ficam preservadas como fósseis. Como Niles Eldredge disse uma vez, a evolução parece sempre “ocorrer em algum outro lugar”. Não esperaríamos encontrar uma seqüência contínua de fósseis de espécies todas evoluindo num só lugar; pelo menos foi isso que nos disseram antes que eles encontrassem esses espécimes de fósseis.
Se a origem do Australopithecus foi previamente “obscurecida por um esparso registro fóssil”, então alguém presumiria que agora temos as respostas. Resulta que a evidência ainda permanece muito “obscura”.
O que eles realmente acharam?
O que realmente foi encontrado tem sido reportado como nada “novo”, apenas uma nova “localidade” interessante: “A espécie anamensis não é nova, mas a sua localização é o que ajuda a explicar a mudança de uma fase inicial de desenvolvimento do tipo humano para a próxima, disseram os cientistas” (Artigo da MSNBC, ênfase adicionada).
De acordo com o artigo notícia da National Geographic, a descoberta consistia “principalmente de fragmentos de osso mandibular, dentes superiores e inferiores, e um fêmur” – não é uma série impressionante de ossos. O artigo da Nature destaca que os dentes que eles encontraram não são nenhuma novidade porque eles “definitivamente classificaram a amostra de Asa Issie dentro dos limites esperados de variação do A. anamensis” (Nature 440:883-889.) Em outras palavras, eles descobriram alguns dentes e fragmentos de ossos representativos de uma espécie preexistente – nada realmente novo!
Elo perdido ou dentes perdidos?
Incrivelmente, toda a afirmação de que esta espécie representa uma “forma transicional” é devida a ALGUNS DENTES [ênfase inexistente] que têm tamanho intermediário: “Isso parece ser o elo entre o Australopithecus e o Ardipithecus como duas espécies diferentes”, disse White. “A principal diferença perceptível entre as fases do homem podem ser vistas nos maiores dentes mastigadores do Australopithecus para comer comida mais dura, disse ele" (Artigo da MSNBC).
Se esta nova evidência incrível não chega a fazer de você um convertido, considere então o modo impressionante como a Grande Mídia disse ser essa evidência: “O mais recente fóssil descoberto de um sítio importante de ancestrais humanos na África permite que os cientistas conectem a mais completa corrente de evolução humana até aqui” (Artigo da MSNBC).
NOTA BENE: É aqui que os evolucionistas cometem o seu erro de relações públicas: se esta é “a corrente mais completa”, então a sua melhor “corrente” tem um punhado de “elos perdidos”. Esses fragmentos ósseos supostamente nos informam que o gênero tipo macaco Australopithecus evoluiu de um gênero tipo macaco Ardipithecus. Vamos considerar atentamente os três gráficos para determinarmos quão impressionante esta evidência é na verdade:
1. Foto dos fragmentos de osso e dentes que vieram deste “elo perdido”:
2. Figura 3 de White et al.: As figuras 3a e 3b mostram os dentes colados e/ou os fragmentos de dentes que formam toda a base para chamar esta descoberta de “intermediária”. Essa é toda a base para as afirmações dos autores e da mídia de que isso é um “elo perdido”. Em 3b há dois dentes caninos, que formam a base das afirmações de “intermediário”. Nas figuras 3d - 3g, os dados do novo “intermediário” são representados nas colunas ASI 2&5, que consite de 2-3 exemplares de dentes (vistos no pequeno quadrado 2-3 destacado naquela coluna).
(Adaptado com permissão de Macmillan Publishers Ltd: Nature, T. D. White et. al. “Asa Issie, Aramis and the origin of Australopithecus”, 440:886 [2006].)
3. Figura 4 de White et al.: A figura 4a mostra exatamente o que foi transicional nesta espécie A. anamensis: a sua “robustez mastigatória” (em outras palavras, a capacidade de mastigar material mais duro). Falando sério, eu não estou brincando: isso forma a base das afirmações dos autores e da mídia de que isso é um “elo perdido”. A evidência da evolução é tão abundante [nota: meu sarcasmo] que quando comparando os modelos evolutivos nas figuras 4b e 4c, eles explicam que “nenhma das hipóteses pode ser falsificada com as densidades de amostras disponíveis” porque o registro fóssil é muito pobre. Tudo bem: mas isso deveria nos ajudar a entender o estado da evidência se isso é “a mais completa corrente de evolução humana até aqui”.
(Adaptado com permissão de Macmillan Publishers Ltd: Nature, T. D. White et. al., “Asa Issie, Aramis and the origin of Australopithecus”, 440:886 [2006].)
Como um cético do neodarwinismo, tudo que eu peço é por favor não me joguem nessa armação de fragmentos (algumas vezes colados) de dentes de “formato/tamanho intermediários” de espécies hominídeas já previamente conhecidas!
Colocando a evidência em perspectiva
O Australopithecus foi um gênero tipo macaco considerado ter vivido há cerca de 1-4 milhões de anos, e alguns de seus membros são considerados como tendo evoluído em nosso gênero Homo cerca de 2 milhões de anos atrás. Mas esse local [na Etiópia] não implica em fósseis de Homo, nem isso mostra a não ser fragmentos muito antigos de Australopithecus e alguns fragmentos de Ardipithecus. Esta descoberta não documenta nada sobre a evolução de nosso gênero Homo atual. Então por que esses artigos da mídia afirmam ERRONEAMENTE [ênfase inexistente] que essa evidência documenta a “evolução humana”?
E o que dizer daqueles “elos” mais distantes na “corrente” mostrando como que o Australopithecus evoluiu em Homo? Considere atentamente o que alguns autores escreveram num artigo que não foi destacado na primeira página do MSNBC: “A amostra de anatomia do H. sapiens mais antigo [aqui significando o Homo erectus & Homo ergaster] indicam modificações significantes do genoma ancestral, e não é simplesmente uma extensão de tendências evolutivas de uma linhagem australopitecínea mais antiga por todo o Plioceno. Na verdade, a sua combinação de características nunca aparece mais cedo...” (Hawks, J., Hunley, K., Sang-Hee, L., Wolpoff, M., “Population Bottlenecks and Pleistocene Evolution”, Journal of Molecular Biology and Evolution, 17(1):2-22 [January, 2000]).
A MSNBC nunca destacou este artigo na sua primeira página porque os autores disseram que a origem do Homo exigia “uma revolução genética” onde “nenhuma espécie australopitecínea é obviamente transicional”. (Desculpem, mas o A. habilis não serve como exemplo.) Um comentarista até chamou o estado da evidência como mostrando uma “teoria big bang” de evolução humana (vide “New study suggests big bang theory of human evolution”). Talvez isso seja devido ao fato de que “os primeiros membros do Homo sapiens são realmente bem distintos dos seus predecessores e contemporâneos australopitecíneos”:
(À esquerda: membro antigo do gênero Homo. À direita: um dos quatro supostos ancestrais australopitecíneos. Aqui a falta completa de elo se torna bem nítida. A citação e figura do artigo "New study suggests big bang theory of human evolution")
Mas a evidência presentemente no site da MSNBC nem lida com a questão de como o gênero Homo evoluiu do gênero Australopithecus. Se essa é a “corrente” mais completa, então verdadeiramente estamos lidando com uma evidência muito fragmentária da “evolução humana”. O mais triste é que o artigo está errado em implicar isso, pois essa evidência nada diz sobre como os australopitecíneos tipo macaco evoluíram em nosso gênero Homo. Até o autor principal do artigo da Nature, Timothy D. White, afirmou ERRONEAMENTE [ênfase inexistente] no artigo da MSNBC que essa evidência documenta as “fases do homem”. Isso não é verdade: se alguma coisa, esses fragmentos ósseos fornecem minúsculas sugestões de fases mais antigas de muitos hominídeos tipo macaco que antecedem o gênero Homo por 2 milhões de anos e o “homem” (Homo sapiens sapiens) em cerca de 3 milhões de anos. Essa evidência pode ajudar a colocar uma minúscula lacuna na evolução australopitecínea (lembre-se, nenhuma nova espécie foi encontrada, e tudo que eles acharam de interessante foram alguns dentes caninos de tamanhos intermediários), mas ao contrário do que diz o artigo da MSNBC, nada documenta a “evolução humana” ou as “fases do homem”.
Quanto mais as coisas evolvem, mais as coisas sofrem estase
Recentes notícias estão se envolvendo emocionalmente para "encher a bola" dessas descobertas de fósseis de A. anamensis em algo que elas não são: um “elo perdido” que documenta a “evolução humana”. Parece que pouco mudou desde 1981, quando Constance Holden escreveu na revista Science: “O campo da paleoantropologia estimula naturalmente interesse devido ao nosso próprio interesse nas origens. E, porque as conclusões de significância emocional para muitos devem ser tiradam de evidência extremamente insignificante, freqüentemente é difícil separar as disputas pessoais das científicas que vêm grassando no campo” (“The Politics of Paleoanthropology”, Science, p.737, 14 de agosto de 1981).
Se a evidência presente para a evolução do australopitecíneos antes desta descoberta era “obscura”, talvez seja seguro dizer que eles ainda estão muito nas trevas, e que muito pouco mudou nos últimos 25 anos.