Lixo, vá embora: por que os biólogos estão descendo o cacete contra os resultados de pesquisa verificados empiricamente?

sexta-feira, julho 17, 2015

Lixo, vá embora: por que os biólogos estão descendo o cacete contra os resultados de pesquisa verificados empiricamente?



Casey Luskin 13 de julho de 2015 3:03 AM | Permalink

Nota do editor: Esta é a Parte 1 de uma série de 4 sobre o ENCODE que Casey Luskin tem publicado este ano no Salvo Magazine. As partes 12, e 3 já foram ali publicadas. A Parte 4 será publicada mais tarde este ano. O prelúdio pode ser encontrado aqui.

A vasta maioria do genoma humano lixo inútil ou crucial para a função celular? Os cientistas estão divididos sobre esta questão, com os biólogos evolucionários defendendo principalmente a primeira opinião, e os biólogos moleculares defendendo a segunda.

Em nossa era de pesquisa biológica avançada, alguém pensaria que isso é uma questão facilmente resolvível, mas quando um poderoso paradigma evolucionário é ameaçado pelas descobertas da biologia molecular, não espere o establishment em aceitar a derrota rapidamente. Na verdade, todo o debate sobre a evolução neodarwinista e o design inteligente (DI) pode surgir no desenrolar dessa questão.

Não são mais detritos e nem destroços

Para aqueles que seguem o debate sobre as origens, o fim do DNA lixo é notícia antiga. A minha primeira coluna Operação DI, na edição de inverno de 2008 da revista Salvo, recontava como que Francis Collins argumentou no seu livro A Linguagem de Deus que o nosso genoma é cheio de “detritos e destroços genéticos” (i.e., lixo), tornando-o “virtualmente inescapável1 que nós compartilhamos ancestralidade comum com ratos.

Mas, como eu expliquei naquela ocasião, diversas funções foram descobertas para o DNA não codificante, e mais tem sido encontrado, forçando uma revolução no pensamento biológico. Em um sinal dos tempos, um artigo da Nature de 2010 anunciou esta nova era da genômica, destacando que “o novo vislumbre da biologia em um universo de DNA não codificante – o que se costumava chamar de DNA ‘lixo’ – tem sido fascinante e impressionante”. 2 Muitos outros artigos científicos relatam funções para o DNA ‘lixo’ fizeram destaques semelhantes.

Mas nenhuma publicação sacudiu tanto este debate quanto o artigo da Nature de 2012 que, finalmente colocou de lado o DNA lixo – ou assim pareceu. Esse artigo bombástico apresentou os resultados do Projeto ENCODE (Encyclopedia of DNA Elements – Enciclopédia dos Elementos do DNA), um consórcio de pesquisa de muitos anos envolvendo mais de 400 cientistas internacionais estudando o DNA não codificante no genoma humano. Juntamente com outros 30 artigos inovadores, o principal artigo do ENCODE descobriu que a “vasta maioria” do genoma humano mostram função bioquímica: “Esses dados nos permitiram atribuir funções bioquímicas para 80% do genoma, em particular fora das regiões bem pesquisadas de codificação de proteínas”. 3

Ewan Birney, analista chefe do ENCODE, explicou na Discover Magazine que desde que o ENCODE pesquisou 147 tipos de células, e o corpo humano tem alguns milhares de tipos de células, “é provável que os 80% vão chegar nos 100%”. 4 Outro pesquisador sênior do ENCODE destacou que “quase todo nucleotídeo está associado com uma função”. 5 Uma manchete na revista Science declarou, “o projeto ENCODE escreve uma elegia para o DNA lixo”. 6

Más notícias para o Darwinismo

Esse relato mudou o jogo no debate sobre a evolução darwinista e o design inteligente porque, desde a metade dos anos 1990s, os teóricos do DI vinham predizendo que o DNA não codificante se revelaria como tendo função, e os críticos do DI tinham argumentado que o DNA lixo tinha fincado uma estaca atravessada no coração do DI.

Por exemplo, em 1994, o cientista leigo Forrest Mims, pró DI, enviou uma carta à revista Science advertindo contra o assumir que o DNA “lixo” era “inútil”. 7 A revista Science não publicou a carta, mas naquele ano, o biólogo Kenneth Miller, anti DI, publicou um artigo em uma publicação científica diferente fazendo a conclusão oposta, isto é, que “o genoma humano está repleto de pseudogenes, fragmentos de genes, genes ‘órfãos’, DNA ‘lixo’, e muitas cópias repetidas de sequências de DNA sem sentido que não ele não pode ser atribuído a qualquer coisa que pareça com o design inteligente”. 8

Contraste a afirmação de Miller com a conclusão da revista Discover Magazine 18 anos mais tarde, à luz do relatório impactante do ENCODE de 2012: “A questão importante é: Não é lixo”. 9

Os evolucionistas contra-atacam

Os defensores de Darwin não iriam aceitar os dados do ENCODE sentados. Mas dessa vez, eles se viram em uma posição não costumeira. Muitos darwinistas têm grande confiança em saber que eles estão na maioria científica, o que os capacitam apelar para o consenso e desconsiderar os críticos como “negacionistas”. Mas no mundo pós-ENCODE, os defensores de Darwin, se viram eles mesmos desafiando o consenso de um corpo internacional de expoentes biólogos moleculares que descobriram que a vasta maioria do DNA humano tem função bioquímica.

Como que eles puderam se opor a tais conclusões baseadas empiricamente? Do mesmo modo como que eles defendem sua teoria: considerando um ponto de vista evolucionário como correto e reinterpretando os dados à luz de seu paradigma – e atacando pessoalmente aqueles que desafiam sua posição.

Por exemplo, múltiplas réplicas iniciais de defensores evolucionistas chamaram o ENCODE de  “exagero” 10 e castigaram os pesquisadores e os jornalistas científicos por terem agido “irresponsavelmente” no relato favorável de suas descobertas. 11 Em uma postagem intitulada “The ENCODE Delusion” [O delírio do ENCODE], PZ Myers desconsiderou a afirmação central do ENCODE de que 80% do genoma tem funções bioquímicas, como sendo “mer**” e defendendo que a evidência de atividade bioquímica no DNA e RNA “não é função. Nem perto disso é”. Ele chamou os pesquisadores do ENCODE de “fundamentalmente desonestos”, e desdenhou de Evan Birney, dizendo, “Eu não penso que o Birney faça a menor ideia do que seja biologia”. 12

Outro biólogo defensor de Darwin, Nick Matzke, consentiu que os pesquisadores do ENCODE não eram estúpidos, apenas ignorantes: “Eu estou começando a pensar que certas partes da biologia molecular e da bioinformática são habitadas por pessoas que são muito inteligentes, mas que passaram pela escola com bastante treinamento técnico detalhado, mas sem bastante treinamento amplo em biologia comparativa [i.e., evolucionária] básica”. 13 Mas o bioquímico da Universidade de Toronto e blogger pró-evolução, Laurence Moran, nem concederia que os pesquisadores do ENCODE eram inteligentes: “Eu acho que eu terei que me contentar em destacar que muitos cientistas são tão estúpidos quanto muitos criacionistas de Design Inteligente”, 14 ele esbravejou.

Moran lamentou mais que “os criacionistas vão amar isso”, e ele temeu que os resultados do ENCODE iriam “fazer a minha vida muito complicada”, 15 pois “vai demandar bastante esforço desfazer o dano provocado pelo [ENCODE]."16

Todavia, a vasta maioria dos que defendem o ENCODE, não é pró-DI e não tem nenhum motivo em ajudar e amparar “os criacionistas”. Eles são guiados pelos dados empíricos. Por exemplo, O geneticista James Shapiro, da Universidade de Chicago, louvou os resultados do ENCODE enquanto que simultaneamente rejeitava o DI. Ele considerou que “a velha ideia do genoma como uma sequência de genes intercalado com DNA não codificante sem importância não é mais defensável”, pois o “ENCODE revelou que a maioria (e provavelmente quase tudo) desse DNA não codificante e repetitivo continha informação reguladora essencial”. 17

Shapiro escreveu artigos na metade dos anos 2000s predizendo função para o DNA “lixo”, e ele explicou que seu coautor era um proponente do DI que defendia pontos de vista que ele não partilhava:

Em 2005, eu publiquei dois artigos sobre a importância funcional do DNA repetitivo com Rick von Sternberg. O principal artigo foi intitulado “Why repetitive DNA is essential to genome function” [Por que o DNA repetitivo é essencial para função do genoma].

Esses artigos com Rick são importantes... por duas razões. A primeira é que, logo após nós termos submetido os artigos, Rick se tornou uma celebridade momentânea do movimento do Design Inteligente. Os críticos têm tomado minha coautoria com Rick como uma desculpa para afirmações do tipo “culpado por associação” que eu tenho alguma agenda de DI ou criacionista, uma alegação sem nenhuma base em qualquer coisa que eu tenha escrito.

A segunda razão que os dois artigos com Rick são importantes é porque eles foram, francamente, prescientes, antecipando os recentes resultados do ENCODE. A nossa ideia básica foi que o genoma é uma organela de armazenagem de informação altamente sofisticada. Assim como aparelhos de armazenagem de dados eletrônicos, o genoma deve ser altamente formatado por sinais genéricos (i.e., repetidos) que fazem possível acessar a informação armazenada quando e onde ela será útil.18

Claramente, cedo, alguns críticos do DI estão aceitando os resultados do ENCODE. Mas a maioria permanece relutantemente resistente, mais provavelmente porque o ENCODE ameaça derrubar alguns dos argumentos científicos mais proeminentes a favor de uma origem evolucionária não guiada do genoma humano.

E se o ENCODE estiver certo?

No início de 2014, a revista Science noticiou os argumentos feitos por outro importante evolucionista crítico do ENCODE, Dan Graur, biólogo da Universidade de Houston. De acordo com a Science, “O ateísmo de Graur inflamou sua raiva ao ENCODE”, 19 Não é surpreendente que Graur se tornaria emocional sobre o ENCODE considerando-se sua formulação contundente da questão numa palestra que ele deu em 2013:

Se o genoma humano é na verdade livre de DNA lixo conforme implicado pelo Projeto ENCODE, então um longo processo evolucionário não dirigido não pode explicar o genoma humano. Se, por outro lado, os organismos são intencionalmente planejados, então todo o DNA, ou tanto quanto possível dele, é esperado exibir função. Se o ENCODE estiver certo, então a Evolução está errada. 20

A formulação de Graur da questão pode estar correta. Mas, para apreciar o porquê de os críticos do ENCODE estarem errados, espere pelos próximos artigos nesta série.

Referências:

[1.] Francis Collins, The Language of God: A Scientist Presents Evidence for Belief (Free Press, 2006), 136-137.

[2.] Erika Check Hayden, "Life Is Complicated," Nature, 464:664-667 (April 1, 2010) (ênfase adicionada).

[3.] The ENCODE Project Consortium, "An integrated encyclopedia of DNA elements in the human genome,"Nature, 489:57-74 (Sept. 6, 2012).

[4.] Ewan Birney, citado em Ed Yong, "ENCODE: the rough guide to the human genome," Discover Magazine (Sept. 5, 2012): http://tinyurl.com/knr9co7 .

[5.] Tom Gingeras, citado em Yong, ibid.

[6.] Elizabeth Pennisi, "ENCODE Project Writes Eulogy for Junk DNA," Science, 337:1159-1161 (Sept. 7, 2012).

[7.] Forrest Mims, "Rejected Letter to the Editor toScience" (Dec. 1, 1994): forrestmims.org/publications.html.

[8.] Kenneth Miller, "Life's Grand Design," Technology Review, 97(2):24-32 (February/March 1994).

[9.] Yong, nota 4.

[10.] Nick Matzke, "ENCODE hype? From now on I'll just reply: #oniontest," Panda's Thumb (Sept. 5, 2012):http://tinyurl.com/nmxeu4t; Laurence Moran, "The ENCODE Data Dump and the Responsibility of Science Journalists," Sandwalk (Sept. 6, 2012): http://tinyurl.com/k7eup3n.

[11.] Moran, ibid.

[12.] PZ Myers, "The ENCODE delusion," Panda's Thumb (Sept. 23, 2012): http://tinyurl.com/moefwye.

[13.] Matzke, nota 10.

[14.] Laurence Moran, "Intelligent Design Creationists Choose ENCODE Results as the #1 Evolution Story of 2012," Sandwalk (Jan. 4, 2013): http://tinyurl.com/p8dc6yp.

[15.] Laurence Moran, "ENCODE Leader Says that 80% of Our Genome Is Functional," Sandwalk (Sept. 5, 2012): http://tinyurl.com/m96r5un.

[16.] Moran, nota 10.

[17.] James Shapiro, "Bob Dylan, ENCODE and Evolutionary Theory: The Times They Are A-Changin'," Huffington Post(Sept. 12, 2012): http://tinyurl.com/pmxowlu.

[18.] Ibid.

[19.] Yudhit Bhattercharjee, "The Vigilante," Science, 343:1306-1309 (March 21, 2014).

[20.] Dan Graur, "How to Assemble a Human Genome?" (December 2013): http://tinyurl.com/mpmxkyw (ênfase no original).

Imagem: © kessudap / Dollar Photo Club.