Lixo, vá embora: por que os biólogos estão descendo o cacete contra os resultados de pesquisa verificados empiricamente?
Casey Luskin 13
de julho de 2015 3:03 AM | Permalink
Nota do editor: Esta
é a Parte 1 de uma série de 4 sobre o ENCODE que Casey Luskin tem publicado
este ano no Salvo
Magazine. As partes 1, 2,
e 3 já
foram ali publicadas. A Parte 4 será publicada mais tarde este ano. O prelúdio
pode ser encontrado aqui.
A vasta maioria do genoma humano
lixo inútil ou crucial para a função celular? Os cientistas estão divididos
sobre esta questão, com os biólogos evolucionários defendendo principalmente a
primeira opinião, e os biólogos moleculares defendendo a segunda.
Em nossa era de pesquisa
biológica avançada, alguém pensaria que isso é uma questão facilmente
resolvível, mas quando um poderoso paradigma evolucionário é ameaçado pelas
descobertas da biologia molecular, não espere o establishment em aceitar a
derrota rapidamente. Na verdade, todo o debate sobre a evolução neodarwinista e
o design inteligente (DI) pode surgir no desenrolar dessa questão.
Não são mais detritos e nem
destroços
Para aqueles que seguem o debate
sobre as origens, o fim do DNA lixo é notícia antiga. A minha primeira coluna Operação
DI, na edição de inverno de 2008 da revista Salvo, recontava como
que Francis Collins argumentou no seu livro A Linguagem de Deus que
o nosso genoma é cheio de “detritos e destroços genéticos” (i.e., lixo), tornando-o
“virtualmente inescapável” 1 que
nós compartilhamos ancestralidade comum com ratos.
Mas, como eu expliquei
naquela ocasião, diversas funções foram descobertas para o DNA não codificante,
e mais tem sido encontrado, forçando uma revolução no pensamento biológico. Em
um sinal dos tempos, um artigo da Nature de 2010 anunciou esta nova
era da genômica, destacando que “o novo vislumbre da biologia em um universo de
DNA não codificante – o que se costumava chamar de DNA ‘lixo’ – tem sido
fascinante e impressionante”. 2 Muitos
outros artigos científicos relatam funções para o DNA ‘lixo’ fizeram destaques
semelhantes.
Mas nenhuma publicação
sacudiu tanto este debate quanto o artigo da Nature de 2012 que,
finalmente colocou de lado o DNA lixo – ou assim pareceu. Esse artigo
bombástico apresentou os resultados do Projeto ENCODE (Encyclopedia of DNA
Elements – Enciclopédia dos Elementos do DNA), um consórcio de pesquisa de
muitos anos envolvendo mais de 400 cientistas internacionais estudando o DNA
não codificante no genoma humano. Juntamente com outros 30 artigos inovadores,
o principal artigo do ENCODE descobriu que a “vasta maioria” do genoma humano
mostram função bioquímica: “Esses dados nos permitiram atribuir funções
bioquímicas para 80% do genoma, em particular fora das regiões bem pesquisadas
de codificação de proteínas”. 3
Ewan Birney, analista chefe
do ENCODE, explicou na Discover Magazine que desde que o ENCODE pesquisou
147 tipos de células, e o corpo humano tem alguns milhares de tipos de células,
“é provável que os 80% vão chegar nos 100%”. 4 Outro
pesquisador sênior do ENCODE destacou que “quase todo nucleotídeo está associado
com uma função”. 5 Uma
manchete na revista Science declarou, “o projeto ENCODE escreve uma
elegia para o DNA lixo”. 6
Más notícias para o Darwinismo
Esse relato mudou o jogo no debate
sobre a evolução darwinista e o design inteligente porque, desde a metade dos
anos 1990s, os teóricos do DI vinham predizendo que o DNA não codificante se
revelaria como tendo função, e os críticos do DI tinham argumentado que o DNA
lixo tinha fincado uma estaca atravessada no coração do DI.
Por exemplo, em 1994, o
cientista leigo Forrest Mims, pró DI, enviou uma carta à revista Science advertindo
contra o assumir que o DNA “lixo” era “inútil”. 7 A
revista Science não publicou a carta, mas naquele ano, o biólogo
Kenneth Miller, anti DI, publicou um artigo em uma publicação científica diferente
fazendo a conclusão oposta, isto é, que “o genoma humano está repleto de pseudogenes,
fragmentos de genes, genes ‘órfãos’, DNA ‘lixo’, e muitas cópias repetidas de
sequências de DNA sem sentido que não ele não pode ser atribuído a qualquer
coisa que pareça com o design inteligente”. 8
Contraste a afirmação de
Miller com a conclusão da revista Discover Magazine 18 anos mais
tarde, à luz do relatório impactante do ENCODE de 2012: “A questão importante
é: Não é lixo”. 9
Os evolucionistas contra-atacam
Os defensores de Darwin não
iriam aceitar os dados do ENCODE sentados. Mas dessa vez, eles se viram em uma
posição não costumeira. Muitos darwinistas têm grande confiança em saber que
eles estão na maioria científica, o que os capacitam apelar para o consenso e desconsiderar
os críticos como “negacionistas”. Mas no mundo pós-ENCODE, os defensores de
Darwin, se viram eles mesmos desafiando o consenso de um corpo internacional
de expoentes biólogos moleculares que descobriram que a vasta maioria do DNA humano
tem função bioquímica.
Como que eles puderam se
opor a tais conclusões baseadas empiricamente? Do mesmo modo como que eles
defendem sua teoria: considerando um ponto de vista evolucionário como correto
e reinterpretando os dados à luz de seu paradigma – e atacando pessoalmente aqueles
que desafiam sua posição.
Por exemplo, múltiplas
réplicas iniciais de defensores evolucionistas chamaram o ENCODE de “exagero” 10 e
castigaram os pesquisadores e os jornalistas científicos por terem agido
“irresponsavelmente” no relato favorável de suas descobertas.
11 Em
uma postagem intitulada “The ENCODE Delusion” [O delírio do ENCODE], PZ Myers desconsiderou
a afirmação central do ENCODE de que 80% do genoma tem funções bioquímicas,
como sendo “mer**” e defendendo que a evidência de atividade bioquímica no DNA
e RNA “não é função. Nem perto disso é”. Ele chamou os pesquisadores do ENCODE de
“fundamentalmente desonestos”, e desdenhou de Evan Birney, dizendo, “Eu não
penso que o Birney faça a menor ideia do que seja biologia”.
12
Outro biólogo defensor de Darwin,
Nick Matzke, consentiu que os pesquisadores do ENCODE não eram estúpidos, apenas
ignorantes: “Eu estou começando a pensar que certas partes da biologia molecular
e da bioinformática são habitadas por pessoas que são muito inteligentes, mas
que passaram pela escola com bastante treinamento técnico detalhado, mas sem
bastante treinamento amplo em biologia comparativa [i.e., evolucionária] básica”. 13 Mas
o bioquímico da Universidade de Toronto e blogger pró-evolução, Laurence Moran,
nem concederia que os pesquisadores do ENCODE eram inteligentes: “Eu acho que
eu terei que me contentar em destacar que muitos cientistas são tão estúpidos
quanto muitos criacionistas de Design Inteligente”, 14 ele
esbravejou.
Moran lamentou mais que “os
criacionistas vão amar isso”, e ele temeu que os resultados do ENCODE iriam
“fazer a minha vida muito complicada”, 15 pois
“vai demandar bastante esforço desfazer o dano provocado pelo [ENCODE]."16
Todavia, a vasta maioria dos
que defendem o ENCODE, não é pró-DI e não tem nenhum motivo em ajudar e amparar
“os criacionistas”. Eles são guiados pelos dados empíricos. Por exemplo, O
geneticista James Shapiro, da Universidade de Chicago, louvou os resultados do
ENCODE enquanto que simultaneamente rejeitava o DI. Ele considerou que “a velha
ideia do genoma como uma sequência de genes intercalado com DNA não codificante
sem importância não é mais defensável”, pois o “ENCODE revelou que a maioria (e
provavelmente quase tudo) desse DNA não codificante e repetitivo continha
informação reguladora essencial”. 17
Shapiro escreveu artigos na
metade dos anos 2000s predizendo função para o DNA “lixo”, e ele explicou que
seu coautor era um proponente do DI que defendia pontos de vista que ele não
partilhava:
Em 2005, eu publiquei dois
artigos sobre a importância funcional do DNA repetitivo com Rick von Sternberg.
O principal artigo foi intitulado “Why repetitive DNA is essential to genome
function” [Por que o DNA repetitivo é essencial para função do genoma].
Esses artigos com Rick são
importantes... por duas razões. A primeira é que, logo após nós termos
submetido os artigos, Rick se tornou uma celebridade momentânea do movimento do
Design Inteligente. Os críticos têm tomado minha coautoria com Rick como uma
desculpa para afirmações do tipo “culpado por associação” que eu tenho alguma
agenda de DI ou criacionista, uma alegação sem nenhuma base em qualquer coisa
que eu tenha escrito.
Claramente, cedo, alguns
críticos do DI estão aceitando os resultados do ENCODE. Mas a maioria permanece
relutantemente resistente, mais provavelmente porque o ENCODE ameaça derrubar
alguns dos argumentos científicos mais proeminentes a favor de uma origem
evolucionária não guiada do genoma humano.
E se o ENCODE estiver certo?
No início de 2014, a revista Science noticiou
os argumentos feitos por outro importante evolucionista crítico do ENCODE, Dan
Graur, biólogo da Universidade de Houston. De acordo com a Science, “O
ateísmo de Graur inflamou sua raiva ao ENCODE”, 19 Não
é surpreendente que Graur se tornaria emocional sobre o ENCODE considerando-se
sua formulação contundente da questão numa palestra que ele deu em 2013:
Se o genoma humano é na
verdade livre de DNA lixo conforme implicado pelo Projeto ENCODE, então um longo
processo evolucionário não dirigido
não pode explicar o genoma humano. Se, por outro lado, os organismos são intencionalmente
planejados, então todo o DNA, ou tanto quanto possível dele, é esperado exibir
função. Se o ENCODE estiver certo, então a Evolução está errada. 20
A formulação de Graur da
questão pode estar correta. Mas, para apreciar o porquê de os críticos do
ENCODE estarem errados, espere pelos próximos artigos nesta série.
Referências:
[1.] Francis
Collins, The Language of God: A Scientist Presents Evidence for Belief (Free
Press, 2006), 136-137.
[2.] Erika
Check Hayden, "Life Is Complicated," Nature, 464:664-667
(April 1, 2010) (ênfase adicionada).
[3.] The
ENCODE Project Consortium, "An integrated encyclopedia of DNA elements in
the human genome,"Nature, 489:57-74 (Sept. 6, 2012).
[4.] Ewan
Birney, citado em Ed Yong, "ENCODE: the rough guide to the human
genome," Discover Magazine (Sept. 5, 2012): http://tinyurl.com/knr9co7 .
[5.] Tom
Gingeras, citado em Yong, ibid.
[6.] Elizabeth
Pennisi, "ENCODE Project Writes Eulogy for Junk DNA," Science,
337:1159-1161 (Sept. 7, 2012).
[7.] Forrest
Mims, "Rejected Letter to the Editor toScience" (Dec. 1,
1994): forrestmims.org/publications.html.
[8.] Kenneth
Miller, "Life's Grand Design," Technology Review,
97(2):24-32 (February/March 1994).
[9.] Yong,
nota 4.
[10.] Nick
Matzke, "ENCODE hype? From now on I'll just reply: #oniontest,"
Panda's Thumb (Sept. 5, 2012):http://tinyurl.com/nmxeu4t;
Laurence Moran, "The ENCODE Data Dump and the Responsibility of Science
Journalists," Sandwalk (Sept. 6, 2012): http://tinyurl.com/k7eup3n.
[11.] Moran,
ibid.
[12.] PZ
Myers, "The ENCODE delusion," Panda's Thumb (Sept. 23, 2012): http://tinyurl.com/moefwye.
[13.] Matzke,
nota 10.
[14.] Laurence
Moran, "Intelligent Design Creationists Choose ENCODE Results as the #1
Evolution Story of 2012," Sandwalk (Jan. 4, 2013): http://tinyurl.com/p8dc6yp.
[15.] Laurence
Moran, "ENCODE Leader Says that 80% of Our Genome Is Functional,"
Sandwalk (Sept. 5, 2012): http://tinyurl.com/m96r5un.
[16.] Moran,
nota 10.
[17.] James
Shapiro, "Bob Dylan, ENCODE and Evolutionary Theory: The Times They Are
A-Changin'," Huffington Post(Sept. 12, 2012): http://tinyurl.com/pmxowlu.
[18.] Ibid.
[19.] Yudhit
Bhattercharjee, "The Vigilante," Science, 343:1306-1309
(March 21, 2014).
[20.] Dan
Graur, "How to Assemble a Human Genome?" (December 2013): http://tinyurl.com/mpmxkyw (ênfase
no original).
Imagem: © kessudap / Dollar
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