Darwinismo aplicado à mídia

quarta-feira, julho 02, 2008

Quem disse que a teoria da evolução por meio da seleção natural não é uma Theoria perennis??? Darwin explica até jornalismo... Explica tudo. Até o inexplicável.

Fui, pensando que está faltando muita coragem na Grande Mídia tupiniquim para questionar uma teoria nos seus estertores epistêmicos desde o século 20, mas que se mantém como ortodoxia na mídia e nos livros-texto de Biologia.

Alô Alberto Dines, faltou objetividade aqui nas suas especulações em relação aos pressupostos darwinianos mesmo que direcionados tão-somente à mídia.

+++++

DARWINISMO NA MÍDIA

Exercícios especulativos sobre a
evolução e extinção das espécies

Por Alberto Dines em 1/7/2008

A obra será conhecida com o título Sobre a origem das espécies; seu conteúdo revolucionário, designado como "Teoria da Evolução pela Seleção Natural", foi apresentado há exatos 150 anos (1/7/1858) por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace à Sociedade Linneana de Londres.

[Nota do blogger: Darwin e Wallace não apresentaram o trabalho, mas Lyell e Hooker]

Os naturalistas não mudaram o mundo, mudaram a percepção da humanidade diante das mutações da Natureza. A teoria não se confina à biologia, zoologia ou antropologia – pode ser estendida a todos os campos do conhecimento. Inclusive a cosmologia.
O homem e o homem em sociedade (para usar a expressão consagrada por Hipólito da Costa na primeira linha do primeiro texto do primeiro periódico a circular no Brasil) também são condicionados pelos mecanismos que o darwinismo identificou na Natureza. De onde se conclui que as relações sociais e, por extensão, a comunicação, também podem ser observadas através da ótica evolucionista.

Em qualquer esfera, a mesma premissa: onde há conflito e mudança só duas opções são possíveis: extinção ou acomodação. As espécies sobreviventes não são as mais fortes e, sim, as mais aptas a adaptar-se. Aptidão no caso não é fórmula voluntarista para uso tópico. É resultado de estruturas com capacidade para se reproduzir em ambientes hostis, mesmo que a custa de arranjos genéticos.

Jornalismo integral

Veja-se o caso da sobrevivência da "espécie-Livro", que passou por diversos formatos e tecnologias ao longo de alguns milênios porque soube preservar o seu DNA – divulgação portátil de conhecimentos – e acomodar-se continuamente às novas situações.

Agora que os vendedores das novas tecnologias da informação associados aos filósofos do marketing decretaram o fim da "espécie-Jornal", conviria utilizar a hipótese darwinista-wallacista como exercício especulativo ou, pelo menos, como homenagem a este monumento da racionalidade.

Antes, algumas provocações: o vaticínio apocalíptico refere-se à extinção da "espécie-Jornal", fim da "espécie-Jornalismo" ou desaparição da "espécie-Empresa Jornalística"?

A distinção é essencial porque o jornalismo (= emissão periódica de relatos factuais) antecede a criação do jornal (um dos muitos veículos utilizados com este fim). Já a "espécie-Empresa Jornalística" entra neste questionamento porque, embora ainda não tenha sido inventada uma organização mais apta a produzir o jornalismo integral, está na berlinda porque foi incapaz de preservar os atributos da "espécie-Jornal" depois de uma profícua existência de 400 anos.

Componentes essenciais

Como classificar a informação digital? É uma "espécie" sucessora da "espécie-Jornal" ou paralela, como o homem e os primatas? É fruto da inadequação da "espécie-Jornal" com os novos tempos ou acomodação da "espécie-TV" ao meio-ambiente dominado pela informática? O fato de usarem o mesmo veículo (tela ou monitor) não os coloca na mesma "espécie"?

Neste tipo de indagação genética convém sempre prestar atenção à etimologia. Jornalismo vem do francês journal, relacionado a pulsação diária – quotidien é sinônimo de jornal diário. Periodismo, em espanhol, é um termo mais preciso porque o intervalo entre as emissões não é necessariamente diário, pode ser semanal, quinzenal ou mensal. Acontece que a informação digital oferecida nos portais noticiosos não é periódica, é permanente, flui continuamente. É o usuário quem estabelece o ritmo da utilização, ao contrário dos periódicos propriamente ditos nos quais o ritmo comanda o usuário. Os futurólogos prevêem que em breve as casas terão painéis nas paredes para exibir continuamente notícias e entretenimento. Isto seria uma "espécie" híbrida, cruzamento da família digital com a família TV.

Por outro lado, leitores digitais mais exigentes hoje são capazes de periodizar o consumo de informações de acordo com seus hábitos ou necessidades. Basta programar o seu equipamento de modo a receber, em determinado horário, determinados colunistas ou assuntos. Confortável adaptação da "espécie-Jornal" à Era da Informação.

A atualização permanente, massificada, sem o pulsar periódico, tende a atenuar impactos e criar uma "espécie-Jornalismo" marcada pela esterilização, desprovida de palpitação. Imaginar que a intensa participação oferecida pela internet será capaz de suplantar esta algidez é desconhecer alguns componentes essenciais da condição humana, entre os quais a necessidade de submeter-se a convocações é o mais importante.

Exercícios críticos

Vale a pena investir nessas especulações e refletir sobre os fatores que influem na sobrevivência das espécies, sobretudo no tocante às dimensões dos indivíduos. Os dinossauros eram os maiores e mais poderosos vertebrados terrestres e, no entanto, a espécie (e não apenas os indivíduos) desapareceu num curtíssimo lapso. Não estavam aptos às mudanças e às novas condições vigentes no planeta. Não deixaram traços, transformados em subespécies miniaturizadas.

Ao manusear um jornalão de fim de semana, a primeira providencia do leitor é desbastá-lo das inutilidades: cadernos de anúncios classificados (quando não está comprando ou vendendo), falsas capas, encartes publicitários ou cadernos ditos segmentados que não o interessam. Em outras palavras: o próprio leitor converte um paquiderme de papel numa "espécie" mais compacta e mais apta a sobreviver (convém registrar que o design e formato das espécies contribuem consideravelmente para a sua sobrevida).

As dimensões gigantescas da "espécie-Jornalão" não são prova de vitalidade. Robustez nada tem a ver com fitness. O dólar barato, o crédito fácil e a explosão do consumo funcionaram recentemente como incubadoras de dinossauros.

Na Natureza tudo é traumático, há predadores em todos os horários e estações do ano, a seleção natural ocorre incessantemente. Mas as drásticas mudanças na conjuntura econômica mundial e o inevitável rigor deflacionário vão exigir da "espécie-Jornalão" regimes emergenciais de adaptação.

O que nos leva à questão ambiental: em que meio pode produzir-se uma acomodação da "espécie-Jornalão"? Na "espécie-Empresa Jornalística Gigante"? A escala, peso e velocidade inercial de ambos permitirão movimentos ágeis? O inflado aparato tecnoburocrático instalado nesta espécie será capaz de intuir soluções criativas e evolutivas?

Darwin e Wallace tiveram os seus insights no decorrer das pesquisas que separadamente desenvolveram no Brasil. Como homenagem à dupla de cientistas vale a pena desenvolver uma "Teoria da Evolução Aplicada À Mídia" com exercícios críticos capazes de acabar com esta perigosa atitude contemplativa e preparar o espírito para as surpresas do processo de seleção natural.