Uma lição de jornalismo científico que precisa ser aprendida pela Grande Mídia

sábado, julho 19, 2008

De mãos dadas com a educação

Editora da CH destaca papel do jornalista na formação de um público interessado pela ciência

Os jornalistas têm um papel fundamental para despertar o interesse dos jovens pela ciência. A avaliação é de Alicia Ivanissevich, editora da revista Ciência Hoje e ganhadora de 2008 do Prêmio José Reis de Divulgação Científica. Em sua conferência na reunião anual da SBPC, Ivanissevich destacou a importância desses profissionais para reverter o quadro calamitoso que se verifica hoje na educação científica em nosso país.

A premiada lembrou as avaliações recentes que colocaram os alunos brasileiros nas últimas posições entre dezenas de países testados em relação aos conhecimentos sobre matemática e ciências. Formação precária dos professores, escassez de laboratórios, baixos salários e falta de investimentos são alguns dos fatores a que Ivanissevich atribui esse quadro – que, como ela lembrou, já havia sido diagnosticado nos anos 1960 pelo médico e divulgador José Reis, patrono do prêmio.

Na avaliação da premiada, os jornalistas têm a missão de formar um público cativo que se interesse pela ciência. Para isso, é essencial que eles se voltem para as crianças. “Os jornalistas especializados em ciência podem buscar meios – sejam blogs, suplementos, publicações, programas de rádio e TV – que se voltem para a população infantil e que ajudem a estimular a curiosidade pela ciência desde muito cedo”, afirma ela.

Um público que cresça familiarizado com a ciência, avalia Ivanissevich, será capaz de, na idade adulta, participar das decisões importantes da sociedade que envolvem cada vez mais a ciência e exercer, assim, sua cidadania em seu sentido pleno. “Para contar com a participação efetiva da sociedade na tomada de decisões de impacto social, assim como na projeção de políticas públicas, é clara a necessidade de manter a população bem informada”, justifica.

Mas a missão dos jornalistas não é trivial. Uma cobertura adequada deve apresentar os resultados da ciência de uma forma ponderada, que dê lugar às dúvidas. “O jornalista de ciência deve procurar construir uma reportagem equilibrada, em que diversas vozes sejam ouvidas, e que não induza o leitor, ouvinte ou telespectador a fazer deduções precipitadas”, recomenda Ivanissevich.

Regionalização da divulgação

A premiada defendeu também a importância de se ampliar o alcance da divulgação científica no Brasil. O cenário atual, na avaliação da editora da CH, é marcado por uma exposição excessiva da produção dos centros de pesquisa do eixo Rio-São Paulo, em detrimento de outras regiões do país.

Para se modificar esse quadro, acredita Ivanissevich, seria importante a criação de caminhos institucionais que permitam dar visibilidade ao conhecimento produzido em todo o país. “É necessário criar uma rede de assessorias de imprensa capazes de cobrir a produção acadêmica dos principais institutos de pesquisa e universidades das capitais e dos grandes centros urbanos brasileiros”, sugere.


Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
15/07/2008