Relembrando Alfred Rusell Wallace - muito mais do que apenas o aguilhão de Darwin

terça-feira, maio 07, 2013


Relembrando Alfred Rusell Wallace
26/04/2013

por David Tyler 05:15:53 am


Este ano marca o centenário da morte de Alfred Russel Wallace, algumas vezes retratado como o “aguilhão de Darwin”. Todavia, como argumenta Andrew Berry, Wallace deveria ser relembrado como “um cientista visionário por seus próprios méritos, um explorador audaz e um socialista apaixonado”. Ele foi agraciado com a Ordem do Mérito, a mais alta honoraria que pode se dada pela monarca britânico a um civil. Ele deixou um –

“grande legado científico, que vai desde a descoberta da seleção natural à definição do termo espécies, e da fundação do campo de biogeografia evolucionária ao pioneirismo do estudo da história natural comparativa.” (p. 162)


O retrato de Wallace é desvelado no lançamento da exposição Wallace 100 (Fonte aqui)

A primeira expedição de Wallace (quatro anos nas florestas tropicais da Amazônia [brasileira]) terminou em desastre e ele escapou da morte por pouco. Assim que ele regressava para a Inglaterra em 1852, o navio pegou fogo e todas as amostras que ele tinha cuidadosamente coletado, inclusive diversos animais vivos, se perderam. Wallace assistiu ao incêndio dos destroços em um bote salva-vidas, e levou 10 dias para que as equipes de resgate chegassem no local. Sempre cientista, ele escreveu:

“Durante a noite eu vi vários meteoros,e na verdade eu não poderia estar em uma melhor posição para observá-los do que deitado de costas em um pequeno bote no meio do oceano Atlântico.” (p. 163)

Dois anos mais tarde, ele partiu para o Extremo Oriente para uma viagem de 8 anos. Durante este tempo, ele se estabeleceu como um escritor acadêmico e um coletor extremamente exitoso, com mais de 1000 espécimes novos para a ciência. Um artigo que marcou época destacava que espécies afins tendem ser encontradas na mesma área geográfica.

“Wallace tinha uma capacidade prodigiosa em detector padrões no aparentemente caótico (e grandemente não catalogado) mundo da diversidade tropical. Esta é a capacidade do verdeiro naturalista: gerar um banco de dados mental das plantas e animais observados que pode ser referido quando formas similares forem encontradas em outro lugar. Isso resultou na sua primeira tentativa de generalização biológica, um artigo que ele escreveu em 1855 enquanto estava em Sarawak, Bornéu: ‘On the Law which has Regulated the Introduction of New Species’[Sobre a lei que tem regulado a introdução de novas espécies] (frequentemente chamada de a Lei de Sarawak).” (p. 163)

Dez anos mais tarde, Wallace propôs uma definição extremamente moderna do conceito de espécie:

“No seu artigo brillhante de 1865 sobre as borboletas papilionídeas do sudeste da Ásia, ele analisa as variações dentro e entre as populações, entre as subespécies e espécies, e chega a esta definição: “As espécies são meramente aquelas raças fortemente marcadas ou formas locais que, quando em contato, não se cruzam, e quando habitam áreas distintas são geralmente tidas como tendo uma origem separada, e de ser incapaz de produzir uma geração de híbridos férteis”.

É negligência emblemática da história de Wallace que a maioria dos alunos de graduação de hoje é ensinada que o conceito de espécies biológicas foi introduzido em 1942 por Ernst Mayr.” (p. 163)

Muitos estudantes têm sido apresentados ao papel desempenhado por Wallace em 1858 em desencadear uma apresentação conjunta com Darwin da evolução através da seleção natural. Basta dizer aqui que a última palavra sobre isso ainda não foi escrita.

Contudo, embora o nome de Darwin seja agora dominante na teoria evolucionária, Wallace é reconhecido como o pai da biogeografia histórica. A base foi lançada em 1857, em um artigo sobre as ilhas Aru (ao largo da Nova Guiné). Os livros didáticos atuais registram sua descoberta da distinção entre as faunas australiana e asiática, separadas pela linha de Wallace.

“É tentador ver os ecos entre o percurso casual de Wallace pela vida e sua interpretação contingente dos sistemas naturais: sua descoberta biogeográfica mais famosa também teve uma dose de sorte. Em 1856, ao perder uma conexão quando tentou chegar a Sulawesi, ele passou alguns meses nas ilhas de Bali e Lombok, e notou as drásticas diferenças na vida selvagem muito embora as ilhas estejam separadas apenas por 35 kilometros. Para o sul e leste, dominava a fauna australiana; para o norte e oeste, dominava a fauna asiática. Ele tinha identificado uma antiga divisão biogeográfica através do sudoeste da Ásia que o biólogo Thomas Henry Huxley mais tarde chamou de ‘Linha de Wallace’.” (p. 163)

Wallace, o cientista, é contrastado com o “outro Wallace” que se envolveu com “voto universal e socialismo”, “espiritismo e frenologia”.  Mas Berry adverte contra pensar assim. “Mas a visão de mundo de Wallace era muito mais coerente do que tem sido afirmado” (p. 164) As diferenças com Darwin veio a público sobre a evolução humana. Enquanto Darwin esperava que a evolução através da seleção natural transformasse um animal tipo macaco em um humano, Wallace rejeitava este cenário. Ele defendia “algum tipo de intervenção imaterial na gênese dos humanos”. Suas opiniões religiosas permitiram que ele fosse aberto a esta hipótese, embora seus argumentos fossem tirados das observações científicas das diferentes raças da humanidade.

“Quanto mais eu vejo povos não civilizados, melhor eu penso da natureza humana como um todo, e as diferenças essenciais entre o tão chamado homem civilizado e selvagem parecem desaparecer.” (p. 164)

Berry comenta:

“[Wallace chegou à conclusão que] muitos humanos têm capacidades que eles nunca têm a oportunidade de usar. Uma situação dessas, pensou Wallace, não pode evoluir somente através da seleção natural, que promove somente aquelas características que são úteis. Wallace concluiu que a evolução humana exigia alguma intervenção divina. Este argumento mostra uma excelente apreciação da mecânica da seleção natural [...]” (p. 164)

A reação de Darwin revela a sua visão de mundo, que algumas vezes era deísta e outras vezes ateísta – mas que nunca permitiu a Deus qualquer papel de atividade na história da vida. Berry explica desta maneira:

“Darwin ficou horrorizado, escrevendo ao seu amigo em 1869: “Eu espero que você não tenha matado completamente nosso filho.” (p. 164)

Embora Berry queira respeitar a integridade de Wallace ao afastar-se de Darwin nesta questão importante, ele  não elabora nas implicações maiores do pensamento de visão de mundo. Nenhuma menção é feita do livro de Wallace, Man's Place in the Universe [Lugar do Homem no universo] (1903), que discute o princípio antrópico teleológico, ou seu outro livro  World of Life [Mundo da vida] (1910), que é dedicado à evolução inteligente. Wallace considerava-se um cientista teísta que reconhecia o design e propósito no mundo natural. Assim, ele uma testemunha poderosa contra aqueles que retratam o design inteligente como anticiência. As pessoas são livres para terem opiniões diferentes, mas Wallace não deve ser descartado como alguém que sacrificou a razão e a ciência para satisfazer escrúpulos religiosos. Essa é uma questão de visão de mundo e, neste nível, tanto os teístas como ateus são igualmente religiosos em seu pensamento. Nós podemos repetir as palavras conclusivas de Berry, com a ressalva de que nos “etc., etc., etc.” são encontradas a defesa de Wallace do design inteligente no mundo natural.

“Ao relembrarmos Wallace 100 anos após sua morte, celebremos suas realizações científicas notáveis e seu querer correr riscos e de defender apaixonadamente aquilo que acreditava. Ele era, afinal de contas, tanto cientista, e na sua própria avaliação, “um vermelho quente e radical, nacionalista na questão agrária, socialista, antimilitarista, etc., etc., etc.” Resumindo, bastante mais coisas do que aguilhão de Darwin.” (p. 164)


Andrew Berry

Nature, 496, 162-164 (11 April 2013) | doi:10.1038/496162a

Sidekick status does Alfred Russel Wallace an injustice. He was a visionary scientist in his own right, a daring explorer and a passionate socialist, argues 

Andrew Berry.

See also/Vide também:

Flannery, M. Why Darwin Is Remembered More thanWallace, Evolution News& Views (5 March 2013)

Flannery, M. Hijacking Alfred Russel Wallace, Evolution News& Views (24 January 2013)

Tyler, D., Why Alfred Russel Wallace deservesto be remembered, ARN Literature Blog (11 March 2008)