Pós-graduação: jogo de cartas marcadas?

terça-feira, agosto 03, 2010







PÓS-GRADUAÇÃO: Jogo de cartas marcadas? 

Por Francisco Djacyr Silva de Souza em 3/8/2010

"Se não tiver orientador que goste de tua linha de pesquisa, tu não vai passar nunca... Infelizmente, é assim mesmo... Tem que respeitar as preferências do orientador. (José Gerardo Vasconcelos, 17/06/10)

Essas palavras foram pronunciadas pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Ceará e provam que há algo de errado no processo de seleção nos cursos de mestrado e doutorado promovidos pela instituição, pois enquanto o edital do curso diz que "o projeto de tese será avaliado quanto à sua relevância e vinculação com a Linha de Pesquisa escolhida e quanto à sua viabilidade, consistência teórica e metodológica", o coordenador do programa mostra que o critério é outro, ou seja , a suposta autonomia do processo é posto de lado para dar lugar ao que sempre se denuncia nos processos seletivos das universidades brasileiras: jogos de conveniência, poder e de interesses. Todos dizem que tais processos são um "jogo de cartas marcadas". No entanto, alguns por medo de represálias e por não quererem envolvimento ou criação de problemas que com certeza virão, acabam calando e consentindo.

A comunidade acadêmica e a sociedade em geral deveriam se voltar contra tal processo, que depõe frontalmente contra a seriedade da Universidade que acaba sendo solapada pelos grupos de poder e guetos ideológicos que muitas vezes se escondem num suposto processo limpo de seleção. Sabemos que tal processo existe e que há muita sujeira debaixo do tapete, que deveria ser denunciada e varrida dos muros de cada instituição de ensino superior para o bem da educação brasileira e para gerar respeito e consideração a pessoas que, acreditando na lisura do processo seletivo, acabam passando por renúncias, investimentos financeiros e esperanças que não vêm em função da declaração do hoje coordenador do Programa de Pós-Graduação, senhor José Gerardo Vasconcelos, que acaba provando que o que é preconizado no edital não corresponde à realidade. 



Critérios para gerar respeito e seriedade

Hoje em dia todos bradam em todos os locais a necessidade da ética, a conquista da cidadania e a necessidade de seriedade no serviço público e no cotidiano das pessoas. No entanto, declarações deste tipo acabam mostrando que todos esses discursos de sala de aula acabam se tornando mera retórica e uma categoria falida na prática.

O processo seletivo do doutorado e mestrado em Educação neste ano de 2010 e em todos precisaria ser revisto para não concretizar a orfandade de pesquisadores, tão comum no meio acadêmico, que seleciona os "amiguinhos" que geralmente pouco ou nada têm a ver com a paixão e a riqueza de ensinar. Aplica-se em tal processo uma teoria que nada tem a ver com a essência da pesquisa que é pluralidade, autonomia e busca pelo ineditismo no momento em que o candidato tem que pensar igual ao seu orientador ou que seu assunto supostamente não tem interesse para uma Universidade que se diz plural. Onde estamos, que ainda temos que pensar igual aos outros e que não se valoriza a autonomia de pensamento? Por que pregam seriedade e não a promovem em momentos como este?

Estas ideias soam com avisos. Aqueles que agora leem esta comunicação precisam urgentemente exigir da coordenação do programa de pós-graduação, e da Universidade como um todo, seriedade nos processos seletivos, e não aceitar declarações do tipo daquelas feitas pelo senhor José Gerardo Vasconcelos, que soam como agressão a sonhos, esperanças e investimentos. O ingresso de um pesquisador no mundo da pós-graduação não pode ser baseado em critérios vindos da ideia do coordenador do Programa, e sim, se basear nos critérios de um processo seletivo sério, impessoal e povoado de lisura para gerar respeito e seriedade.

Um papel para inglês ver?

O que vemos neste momento é a busca por uma visão correta do que é a academia que, mesmo com visões distintas e antagônicas, deve acolher a todos dentro de critério sérios de seleção que precisam ser o néctar da vivência para uma educação de qualidade e melhor.
Não entendemos a proliferação de cursos de Pós-Graduação de origem privada quando nossas instituições federais expulsam pessoas que, com experiência comprovada e atuação acadêmica destacada e conhecida, acabam sendo preteridas por um critério puramente pessoal e à revelia do que preconiza o edital do Programa. 

Não podemos aceitar mais este tipo de situação que provoca em todos uma situação de descrédito em instituições, pessoas e no próprio mundo em que vivemos. Para finalizar deixaria um pensamento:

"Paulo Freire atingiu o ponto máximo que um educador pode atingir. A questão é se desejamos tê-lo conosco. A questão é se ele deseja trabalhar ao nosso lado." (parecer de Rubem Alves à Reitoria da Unicamp sobre o ingresso de Paulo Freire na Universidade, 25 de maio de 1985)

Não queremos com isso dizer que neste momento estão recusando no doutorado um educador do quilate de Paulo Freire, mas na verdade quantos profissionais foram recusados no Programa de Pós-Graduação pelos critérios citados pelo coordenador do Programa em desacordo com o que diz o edital? Ou o edital é apenas papel para inglês ver?

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Observatório da Imprensa 

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NOTA DESTE BLOGGER:

O problema levantado por Francisco Djacyr Silva de Souza é o que chamo de agentes da KGB da Nomenklatura científica que impedem a livre veiculação, discussão e debates de ideias na universidade -- universo de ideias. Ué, e não se pode propor novos sujeitos de pesquisa???

Como verdadeiros guardas-cancelas, com unhas e dentes eles protegem os paradigmas consensuais (procure sua carteira epistêmica, pois ela pode estar sendo tungada) de quaisquer críticas, mesmo as científicas.

O nome disso é DIKTADURA. E pra onde foi a liberdade acadêmica? Os atuais mandarins da Nomenklatura científica estão mais para inquisidores do que educadores. É preciso enfrentar ousadamente e denunciar estes tigres de papel.

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