Biologia Sintética - Mariano Cicconi, JC Email

segunda-feira, novembro 21, 2011

JC e-mail 4388, de 21 de Novembro de 2011.



Artigo de Mariano Cicconi enviado ao JC Email pelo autor.

Quem acha que clone e plantas transgênicas são mecanismos modernos da biologia, isso é tudo passado. Novas técnicas de biologia molecular e biotecnologia estão produzindo organismos vivos a partir do zero. [Cuma???] Essa técnica é chamada de biologia sintética. Para muitas pessoas esse assunto pode ser assustador. Criar organismos vivos? Brincar de ser Deus? Ou falta do que fazer? Cientistas estão trabalhando para que organismos simples, como as bactérias, possam servir de utilidade industrial e ambiental tendo uma redução econômica.


Genes dentro de cromossomos (material genético) são manipulados para construir organismos, ainda que simples, com funções distintas. A mais recente foi à montagem de uma bactéria totalmente sintética a Mycoplasma genitalium. As pesquisas mais recentes da biologia sintética foram feitas pelo especialista Craig Venter. Ele e sua equipe já construíram DNA sintético, além de, transferir material genético de uma célula para outra.
[NOTA DO BLOGGER 1: Craig Venter não construiu DNA sintético, apenas transferiu material genético decodificado de um cromossomo sinteticamente sequenciado para uma célula não sintética.

A maquinaria da célula então foi capaz de ler as instruções no cromossomo e transformar a célula em um organismo especificado. Esta experiência não é uma forma de vida verdadeiramente sintética, pois o genoma foi colocado em uma célula já existente. O próprio Venter reconheceu não ter criado vida a partir do zero. 

Source/Fonte: The New York Times

Traduzindo em miúdos biológicos: não criou o software biológico. Traduzindo em graúdos biológicos: a experiência de Venter e equipe simplesmente plagiou!!!]


Mas o que é então Biologia Sintética? É uma técnica que possibilita a construção de moléculas de DNA, podendo então criar novos vírus ou inserir em organismos vivos re-programando para o comando que desejar. Diferentes das funções nos organismos não sintéticos.

Pesquisas no Brasil - No Brasil já existem trabalhos com essa técnica. O pesquisador Marcelo Falsarella Carazzolle da UNICAMP pesquisa um micro organismo onde utiliza, a partir de técnicas de biologia sintética, a transformação de cana de açúcar, pelo processo de fermentação, em estruturas simples para a fabricação do plástico. O pesquisador diz que esse tipo de trabalho já existia, porém, não com esse termo moderno "biologia sintética".

A dificuldade de trabalhar com essas técnicas novas, de biotecnologia, é necessário que primeiro tenha de conhecer o organismo vivo para que depois possa adicionar novos trechos de materiais genéticos. O pesquisador comenta que tudo isso é possível graças à evolução tecnológica de processamento de informações.

[NOTA DO BLOGGER 2: Segundo David Baltimore, prêmio Nobel em Fisiologia, 1975, a biologia do século 21 é uma ciência de informação. Um dos aspectos teóricos do design inteligente é informação complexa especificada como a encontrada no DNA.]

Há cinco anos, decodificar um código genético demorava cerca de dois anos, hoje esse mesmo código pode ser decodificado em apenas um mês e com um custo bem menor.

O Brasil ainda não consegue sintetizar nucleotídeos (moléculas que formam o DNA) esse trabalho é feito no exterior, uma das razões é o alto custo nesse processo. Empresas no Brasil estão estudando processos para a construção de organismos na produção de biodiesel através do álcool. Em alguns países estão tentando construir vírus sintéticos para transformar o metano em etanol.

Transgênicos x Biologia Sintética - Muitas pessoas devem ficar confundidas com esses termos, e com razão, a dois ou três anos atrás a mídia falava em alimentos transgênicos ou organismos transgênicos, mas qual é a diferença? Organismos transgênicos são modificados geneticamente, também, assim como organismos sintéticos, mas a diferença é que os transgênicos os genes são retirados de um organismo, não importando se é uma planta ou um animal, e introduzido em outro organismo. Não precisando montar o código genético. Nos organismos sintéticos esses genes são montados sem que precise de outro organismo com o gene pronto (natural), ou seja, o gene não se encontra na natureza ele é totalmente novo.

Entendendo os Transgênicos - Nos Estados Unidos uma empresa criou um salmão geneticamente modificado. Foram acrescentados genes produtores de hormônios do crescimento de outras duas espécies de peixe, sendo uma de salmão e outra de enguia. Essa modificação foi feita porque o salmão pesquisado não produz hormônio do crescimento durante a época onde a temperatura diminui. Com essa modificação o salmão da pesquisa produz esse hormônio o ano todo, crescendo em um tempo bem menor para poder ser comercializado.

Futuro - Para a sociedade esse método pode trazer pontos positivos como negativos. Poderíamos, por exemplo, construir organismos capazes de absorver o gás carbônico em excesso e reutilizá-lo como outra fonte energética. Mas também, governos e grupos extremistas poderiam utilizar essa técnica para produzir organismos causadores de grandes epidemias mortais. Temos que lembrar que esse tipo de processo não é coisa do futuro, não podemos pensar que vai acontecer daqui a 50 ou 100 anos, a Biologia Sintética já começou e está fazendo com que organismos transgênicos sejam técnicas pré-históricas.

Mariano de Castro Cicconi é biólogo e professor. Email: marianocicconi@hotmail.com