Daniel Pipes 'falou e disse': o remorso se transformou em masoquismo na Europa

quarta-feira, junho 09, 2010

Na Europa, o remorso transformou-se em masoquismo
por Daniel Pipes em 19 de maio de 2010 Opinião - Cultura


Nada é mais ocidental do que o ódio pelo Ocidente. Assim escreve o novelista e ensaísta francês Pascal Bruckner em seu livro La tyrannie de lá pénitence (2006), competentemente traduzido para o inglês por Steven Rendall e recentemente publicado pela Princeton University Press como The Tyranny of Guilt: An Essay on Western Masochism [*]. “Todo o pensamento moderno”, ele acrescenta, “pode ser reduzido a denúncias mecânicas do Ocidente, enfatizando sua hipocrisia, violência e ódio”. Ele exagera, mas não muito.



Ele mostra como os europeus se vêem como “o homem doente do planeta”, cuja pestilência causa todos os problemas do mundo não ocidental (que ele chama de Sul). Quando o homem branco pisou na Ásia, África ou América, morte, caos, e destruição se seguiram. Os europeus se sentem nascidos com um estigma: “o homem branco semeou sofrimento e ruína em todos os lugares onde foi”. Sua pele pálida sinaliza sua imperfeição moral.

Estas declarações provocantes fundamentam a brilhante e polêmica argumentação de Bruckner de que o remorso Europeu pelos pecados do imperialismo, fascismo e racismo estrangulou o continente a ponto de sufocar sua criatividade, destruir sua autoconfiança e exaurir seu otimismo.

O próprio Bruckner admite as manchas da Europa, mas ele também a enaltece suas autocríticas: “Não há dúvidas de que a Europa deu vida a monstros, mas ao mesmo tempo também deu vida a teorias que tornam possível entender e destruir esses monstros”. O continente, Bruckner sustenta, não pode ser apenas uma maldição, porque suas realizações sublimes complementam suas piores atrocidades. Isto ele chama de “prova de grandiosidade”.

Paradoxalmente, é a própria prontidão européia de admitir seus erros que incita seu ódio próprio, já que sociedades que não se engajam em tal introspecção não se dilaceram. Portanto, a força européia é também sua fraqueza. Mesmo que o Continente tenha “de certa forma, extinguido seus monstros” tais como a escravidão, o colonialismo e o fascismo, ele insiste em se prender ao pior de suas realizações. Assim, temos o título de seu livro, The Tyranny of the Guilt. O passado, com sua violência e agressividade, está congelado no tempo, um fardo de que os europeus não esperam se livrar.

Por outro lado, o Sul é tido como eternamente inocente. Mesmo que o colonialismo desapareça no passado, os europeus virtuosamente se culpam pelo apuro dos povos que uma vez já foram colonizados. Inocência eterna significa infantilizar os povos não ocidentais; europeus se gabam por serem os únicos adultos – por si só uma forma de racismo. Isto também oferece uma saída para as críticas.

Isto explica a razão de os europeus se perguntarem o que “eles podem fazer pelo Sul ao invés de o que o Sul pode fazer por si mesmo”. Também explica porque, depois dos atentados a bombas de Madrid em 2004, um milhão de espanhóis manifestou-se não contra os perpetradores islâmicos, mas contra seu próprio Primeiro Ministro. E pior: porque eles viram civis espanhóis “despedaçados por aço e fogo” como a parte culpada.

Como demonstrado pelo atentado em Madrid e em diversos outros atos de violência, muçulmanos tendem a tomar as atitudes mais hostis contra o Ocidente, e os palestinos estão dentre os muçulmanos mais hostis. Que palestinos enfrentem judeus, as vítimas extremas da viciosidade ocidental, os torna o veículo perversamente ideal para refutar a culpa ocidental. Para piorar a questão, enquanto os europeus desarmam-se, os judeus levantam as espadas e as empunham sem pudor.

A Europa exonera-se dos crimes contra os judeus enaltecendo os palestinos como vítimas, não importando quão cruelmente estes ajam, e retratando os judeus como os nazistas de hoje em dia, não importando o quão necessária seja sua luta pela legítima defesa. Assim a situação na Palestina “silenciosamente legitimou novamente o ódio pelos judeus”. Os europeus se focam tão intensamente em Israel, que é possível imaginar que o destino do planeta seja determinado “em uma pequena extensão de terra entre Tel Aviv, Ramala e Gaza”.

E a América? Assim como “a Europa se livra dos crimes do Shoah (Holocausto) culpando Israel, [também] se livra dos pecados do colonialismo culpando os Estados Unidos”. Excomungar seu filho americano permite que a Europa se envaideça. De sua parte, Bruckner rejeita esta saída fácil e admira a confiança e orgulho dos americanos pelo seu país. “Enquanto os Estados Unidos se impõem, a Europa se questiona”. Ele também nota que, de tempos em tempos, os desolados do mundo invariavelmente buscam auxílio nos Estados Unidos, não na União Européia. Para ele, os Estados Unidos são “a última grande nação ocidental”.

Ele espera que a Europa e os Estados Unidos possam cooperar novamente, por que quando o fazem, eles “alcançam resultados maravilhosos”. Mas suas próprias evidências apontam para a improbabilidade desta perspectiva.

Tradução: Roberto Ferraracio


+++++