Nova forma de fazer ciência

terça-feira, abril 13, 2010

12/4/2010

Agência FAPESP – Todos os anos cientistas de diversos países com projetos de pesquisa apoiados pela Microsoft Research são convidados pela empresa para participar do External Research Symposium 2010, em Redmond, nos Estados Unidos.

Os objetivos são apresentar resultados de pesquisa, trocar ideias e experiências e discutir estratégias futuras com colegas de outros países. Este ano, o simpósio foi realizado nos dias 6 e 7 de abril e contou com a presença de pesquisadores brasileiros com trabalhos apoiados pelo Instituto Microsoft Research-FAPESP de Pesquisas em TI.


Pesquisadores apoiados pelo Instituto Microsoft Research-FAPESP apresentam projetos em simpósio nos Estados Unidos e debatem a importância da tecnologia da informação para o progresso científico (foto: divulgação)

“Os trabalhos apresentados pelos pesquisadores paulistas foram muito bem recebidos e ajudaram a criar uma visibilidade internacional para a dimensão e qualidade da pesquisa em ciência da computação no Estado de São Paulo”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, que participou do evento.

“A participação do grupo brasileiro contribuiu significativamente para o sucesso do simpósio”, destacou Jaime Puente, diretor de Pesquisas Externas para a América Latina da Microsoft Research.

Dez projetos foram representados em uma sessão de pôsteres. Os cinco projetos aprovados na primeira chamada do instituto, em 2007, tiveram seus resultados divulgados em palestras específicas. Como esses projetos terminarão durante o primeiro semestre de 2010, já contam com vários resultados científicos e tecnológicos. Os projetos brasileiros foram apresentados por equipes compostas por seus coordenadores e alunos.

Segundo Brito Cruz, o envolvimento de alunos em reuniões internacionais de pesquisa é muito importante para a sua formação como pesquisadores. “Esse envolvimento estimula que continuem a desenvolver pesquisa e mostra aos estudantes, desde cedo, a importância da cooperação científica com pesquisadores de outros países”, ressaltou.

O simpósio contou com cerca de 150 cientistas de diversos países e áreas do conhecimento. “Os trabalhos apresentados por pesquisadores de todo o mundo mostraram a variedade de temas abordados, indo desde aspectos de uso da computação na saúde (eHealth) até questões de preservação e recuperação do conhecimento armazenado em mídia digital”, disse Claudia Bauzer Medeiros, professora do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que também esteve no simpósio.

“Um dos temas mais enfatizados foi o aparecimento de uma nova forma de fazer ciência, apoiada pela tecnologia da informação. Cada vez mais, cientistas de todos os domínios do conhecimento precisam de novas formas de gerenciar, analisar e visualizar os dados produzidos por suas pesquisas. Os trabalhos brasileiros também seguiram a mesma linha, mostrando o amplo espectro do uso de métodos e técnicas da ciência da computação – desde facilitadores para a inclusão digital até fornecedores de subsídios para o progresso de todas as ciências”, destacou a professora, membro da coordenação da área de Ciência e Engenharia da Computação da FAPESP.

Claudia apresentou o projeto E-Farms: Uma Estrada de Mão Dupla de Pequenas Fazendas para o Mundo em Rede, aprovado na primeira chamada do Instituto Microsoft Research-FAPESP.

O E-Farms, que aborda problemas de pesquisa conjunta em computação e ciências agrárias, vem sendo desenvolvido para atender a dois grandes objetivos.

“O primeiro é o desenvolvimento de modelos, algoritmos e ferramentas computacionais para apoio à decisão em agricultura. O segundo objetivo é criar uma rede de comunicação de dados de baixo custo, para permitir a pequenas propriedades rurais o acesso à internet, incluindo comunicação entre as propriedades”, disse Claudia à Agência FAPESP.

O projeto está sendo desenvolvido com a participação da Cooperativa Regional de Cafeicultores de Guaxupé (Cooxupé), que tem mais de 14 mil pequenas propriedades associadas.

A professora falou nos Estados Unidos sobre as dificuldades práticas de instalar redes de sensores sem fio e mostrou várias ferramentas computacionais que permitem novos tipos de análise dos dados, para apoiar especialistas na tomada de decisões no gerenciamento da safra.

“A rede de comunicação de dados, testada na Unicamp, agora estará sendo implantada em algumas fazendas associadas à Cooxupé”, contou.

Saúde e cidadania

No External Research Symposium 2010 também foram apresentados em palestras outros quatro projetos apoiados pelo Instituto Microsoft Research-FAPESP de Pesquisas em TI: Borboleta: Sistema Integrado de Computação Móvel para Atendimento Domiciliar de Saúde; e-Cidadania: Sistemas e Métodos na Constituição de uma Cultura Mediada por Tecnologias da Informação e Comunicação; PorSimples: Simplificação Textual do Português para Inclusão e Acessibilidade Digital; e X-Gov: Aplicação do Conceito de Mídia Cruzada a Serviços Públicos Eletrônicos.

O Borboleta, coordenado por Fabio Kon, professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), estuda a utilização de tecnologias de computação móvel no atendimento domiciliar de saúde, visando ao aumento da qualidade do serviço oferecido à população.

Um protótipo do sistema para telefones celulares inteligentes (smartphones) está sendo avaliado por profissionais de saúde. O protótipo oferece a possibilidade de consultar e atualizar o prontuário de saúde dos pacientes durante visitas domiciliares e depois transferir as informações, por meio de redes sem fio, para o sistema central disponível no Centro de Saúde.

Tanto o sistema móvel (Borboleta) quanto o sistema central (SAGUISaúde) são distribuídos como software livre e podem ser obtidos no site do projeto.

O e-Cidadania, apresentado pela sua coordenadora, professora Maria Cecília Calani Baranauskas, do Instituto de Computação da Unicamp, trata do desenvolvimento de sistemas e métodos para permitir a participação de leigos com os mais variados perfis na construção de interfaces para sistemas computacionais.

Sua palestra em Redmond destacou como moradores da Vila União, um bairro em Campinas, sem conhecimento especializado em computação, utilizaram os sistemas e métodos desenvolvidos no e-Cidadania para criar um sistema de rede social inclusiva na web denominado Vila na Rede.

“O projeto foi contextualizado nos desafios relativos a valores humanos como questão central em pesquisa e em design para interação humano-computador no futuro”, disse Maria Cecília.

A apresentação abordou o conceito de ciência de design (design inclusivo) construído no projeto, a partir de referenciais da semiótica organizacional e dos designs participativo e universal.

O Vila na Rede foi desenhado e desenvolvido colaborativamente por pesquisadores de diversas áreas do conhecimento vinculados ao projeto e pessoas da comunidade da Vila União e já está sendo acessado e usado em várias regiões do Brasil.

Leitura e governo eletrônicos

O PorSimples foi apresentado pela professora Sandra Maria Aluísio e pela pesquisadora Caroline Gasperin, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP em São Carlos.

O objetivo do projeto é ajudar leitores com baixo nível de letramento a compreender documentos informativos disponíveis na web em português do Brasil. Com base em conceitos das áreas de processamento de língua natural e acessibilidade na web, as pesquisadoras mostraram como o PorSimples desenvolveu diferentes técnicas para adaptação de textos, envolvendo sumarização automática, simplificação textual, elaboração textual e verificação automática de complexidade e inteligibilidade de textos.

“Esses sistemas apresentam várias inovações que podem ser incorporadas no dia a dia de cidadãos com baixo nível de letramento ou outros problemas cognitivos, e de profissionais que atendem esse público, como jornalistas, editores e educadores, além do governo brasileiro”, explicou Sandra.

Lucia Filgueiras, professora da Escola Politécnica da USP, exibiu os resultados obtidos ao longo do projeto X-Gov, que coordena.

Advogando que a plataforma de serviços de governo para o cidadão precisa incluir os meios de maior penetração no país – TV e celular – ela apresentou o Arcabouço X-Gov, uma arquitetura de componentes reutilizáveis que permite ao gestor público compor facilmente serviços de governo eletronico (e-gov) no conceito de mídia cruzada (crossmedia), integrando computador desktop, celular, TV e portal de voz e mídias não digitais.

“Com esse arcabouço, é possível desenvolver aplicações de governo digital que facilitem ao cidadão o acesso aos serviços existentes a partir do uso interativo de múltiplas mídias, a partir de uma plataforma tecnológica que apoia as transições entre as mídias”, disse.

O Instituto Virtual de Pesquisas FAPESP-Microsoft Research é uma iniciativa pioneira no Brasil que associa os setores público e privado de modo a estimular a geração e a aplicação de conhecimento em tecnologias da informação e computação.

A proposta do instituto é formar uma rede de pesquisadores capazes de criar novos conhecimentos que contribuam para expandir as capacidades da tecnologia de computação.

Mais informações: www.fapesp.br/chamadas/microsoft