Alto impacto

segunda-feira, abril 05, 2010

5/4/2010

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – Países em desenvolvimento, localizados principalmente na América Latina e Caribe, desenvolveram uma significativa capacidade para publicar artigos científicos em volume cada vez crescente e de maior impacto no cenário internacional.

Essa é uma das principais avaliações de um artigo publicado no Canadian Journal of Higher Education. De acordo com a publicação, o significativo aumento da publicação nos países em desenvolvimento – com destaque para o Brasil – representa de forma efetiva “a primeira e inexorável globalização da comunicação cientifica”.


Artigo publicado no Canadian Journal of Higher Education destaca papel da SciELO (FAPESP/Bireme) como uma das grandes responsáveis pelo aumento de publicações científicas nos países em desenvolvimento (foto: Bireme/Opas/OMS)

O artigo atribui uma grande parte do sucesso das publicações à influência internacional da biblioteca científica eletrônica SciELO (Scientific Electronic Library On-line), programa criado em 1997 pela FAPESP em parceria com o Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde (Bireme).

De acordo com o autor do trabalho, Abel Packer, diretor da Bireme e um dos idealizadores da SciELO, o texto faz um apanhado histórico e analisa as condições que contribuíram para o êxito do projeto durante seus 12 anos de existência.

“A cooperação entre a FAPESP e a Bireme é uma das condições que permitiram que o projeto tivesse a continuidade e a sustentabilidade institucional e financeira para adquirir dinâmica e status próprios”, disse Packer à Agência FAPESP .

O objetivo principal da SciELO é a publicação on-line de periódicos de qualidade com alta visibilidade não só local como internacionalmente.

“O acesso aberto permitiu mais visibilidade, transparência e credibilidade aos periódicos da SciELO em vários países, atingindo em 2010 mais de 600 títulos. Esse processo sistemático e global de divulgação mostra que a fronteira entre periódicos da chamada corrente principal e os periódicos 'regionais' vem desaparecendo gradualmente. A SciELO contribuiu para criar um continuum entre eles", destacaou Packer.

Ele analisa no artigo o que considera um “aspecto crítico” dos periódicos científicos nos países em desenvolvimento, que eram vistos como de qualidade inferior. Por esta razão, os artigos nela publicados tinham pouca repercussão.

“Esta questão não é nova e tem sido bem documentada em muitas publicações internacionais que enfatizam a ciência perdida no terceiro mundo”, afirma ao se referir ao artigo Lost science in the third world, publicado em 1995 na revista Scientific American e que inspirou o projeto SciELO.

A rede SciELO disponibiliza coleções do Brasil, Argentina, Chile, Colômbia, Cuba, Venezuela, Bolívia, México, Costa Rica, Paraguai, Peru e Uruguai, além de Espanha, Portugal e, desde 2009, África do Sul, que optou por adotar a plataforma para publicação dos seus periódicos científicos de qualidade em acesso aberto.

“O desenvolvimento cooperativo em rede permite que cada país se responsabilize pelo financiamento e operação de suas coleções nacionais, seguindo tecnologia e metodologia comuns”, explicou Packer.

Segundo ele, a rede só indexa e publica periódicos com publicação regular, com controle de qualidade por revisão de pares e que concordem em manter seu conteúdo totalmente aberto e com acesso gratuito.

A coleção cobre publicações de todas as áreas do conhecimento. Até fevereiro de 2010, a coleção incluía cerca de 250 mil artigos e aproximadamente 4 milhões de citações concedidas. “Por mês, os artigos da coleção SciELO Brasil contabilizam, em média 10 milhões de downloads", disse Packer.

Sucesso mundial

Quando surgiu, a SciELO abrigava dez revistas científicas, todas brasileiras. Atualmente, o sistema reúne 15 países. Dos 600 periódicos, cerca de 204 são do Brasil. O segundo país com mais títulos é o Chile (85) e o terceiro, a Colômbia (78).

Em editorial publicado em 21 agosto de 2009, a revista Science destacou o papel da SciELO como um modelo que torna mais visível o trabalho publicado em periódicos científicos locais, a partir dos sistemas de busca e ferramentas bibliométricas.

“Além do acesso aberto on-line, a metodologia de publicação da SciELO tem um sistema de indexação de controle e acesso e citações, de modo a acompanhar não só o número de downloads de textos completos quanto das citações recebidas que serve para medir o impacto dos periódicos", apontou Packer.

Em 2008, quatro publicações que integram a coleção SciELO Brasil tiveram fator de impacto maior que 1 no índice no Journal Citation Report (JCR) da Thomson Reuters. "Significa que os artigos científicos publicados em 2006 e 2007 foram citados em 2008, em média, pelo menos uma vez pelas outras revistas que integram o JCR", explica.

Journal of the Brazilian Chemical Society, da Sociedade Brasileira de Química, Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (da Fiocruz), Brazilian Journal of Medical and Biological Research (da Associação Brasileira de Divulgação Científica), eRevista Brasileira de Psiquiatria, da Associação Brasileira de Psiquiatria, estão entre as publicações de maior impacto na rede.

O artigo destaca também que a distribuição do fator de impacto no JCR de oito periódicos publicados na SciELO tiveram aumento médio de 295% entre 1998 e 2008. No âmbito da coleção SciELO, cerca de 85% dos periódicos aumentaram o fator de impacto.

"Este desempenho notável em relação às citações recebidas assim como ao aumento sistemático do número de downloads evidenciam que os objetivos da SciELO vêm sendo alcançados", disse o diretor da Bireme.

De acordo com Packer, a SciELO é o programa de publicação científica dos países em desenvolvimento de maior sucesso mundial. Mas um de seus principais desafios é fazer avançar um número seleto de periódicos de qualidade nos países em desenvolvimento para o "núcleo referencial de qualidade internacional em suas áreas temáticas".

“Para isso, será necessário receber ainda mais apoio político das agências nacionais como uma instância de referência para avaliação de produção científica. A SciELO já ocupa esta posição em muitos países, mas esperamos que se fortaleça ainda mais como referência para publicação e avaliação de produção científica dos países em desenvolvimento”, disse.

O artigo The SciELO Open Access: A Gold Way from the South, de Abel Packer, pode ser lido em http://ojs.library.ubc.ca/index.php/cjhe.