Remédios e doces bem protegidos

quarta-feira, março 10, 2010

10/3/2010

Por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Imagine uma embalagem plástica rígida de pequenas balas ou remédios. No lugar da tampa, ela tem um dispositivo disparador que, quando acionado, lança um confeito ou um comprimido na mão do consumidor.

Com apoio do PIPE-FAPESP, pesquisa desenvolve embalagem que não permite contato manual com o conteúdo, evitando contaminação dos produtos (foto: divulgação)

Esse é o conceito básico do Smart Pack, idealizado pelo farmacêutico Carlos Eduardo Netto. A ideia o levou a abrir a empresa CNPN Indústria e Comércio de Embalagens, em 2005. Atualmente instalada em uma incubadora de empresas em Mococa (SP), a CNPN obteve no início do ano apoio da FAPESP por meio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) a fim de desenvolver um protótipo dessa nova embalagem.

Antes de submeter o projeto, Netto fez uma pesquisa de mercado para averiguar o interesse de indústrias em sua invenção e recebeu respostas positivas de empresas dos ramos farmacêutico e alimentício.

“O dosador serve para produtos que sejam sólidos e fracionados em geral, como balas ou cápsulas de remédio”, disse. Segundo ele, além de proteger o conteúdo do contato com o exterior, a embalagem também impede o retorno de unidades para o interior. Isso isola o produto de contaminação por manipulação e por contato com frações contaminadas, pois não é possível devolver a bala, por exemplo, para dentro da caixinha.

Como consequência, o ambiente interno da embalagem fica menos propício à proliferação de microrganismos, o que pode aumentar a vida útil do produto.

“Calculamos que poderá haver uma troca de apenas 20% do ar do interior da embalagem”, estima. Para absorver a umidade que entraria com esse ar exterior, Netto usa um recurso comum das embalagens tradicionais, um sachê de sílica. Eliminar a umidade, explica ele, é fundamental para evitar a proliferação de microrganismos responsáveis pela deterioração dos produtos.

“Qualquer outro tipo de embalagem garante uma validade de, no máximo, 30 dias após a sua abertura. Com essa tecnologia, queremos garantir que o produto permaneça próprio para o consumo durante o prazo que ele ficaria se estivesse fechado dentro de embalagens convencionais, que pode ser de até dois anos”, disse Netto.

Custo compensador

Segundo os cálculos do pesquisador, o custo da nova embalagem ficaria, no máximo, 15% maior do que as suas similares atuais. No entanto, ele acredita que esse custo adicional se diluiria frente a outras vantagens proporcionadas pelo sistema.

“O Smart Pack já chegaria à empresa esterilizado, dispensando a higienização antes do processo de embalagem”, disse. Essa vantagem também reflete na redução de custos com estoques, que seriam reduzidos, uma vez que o processo atual de lavagem leva em torno de três dias.

“Para ter 10 mil embalagens prontas por dia, uma empresa tem que manter em sua área três vezes esse número, pois isso inclui as unidades que estão sendo lavadas”, apontou.

Para a indústria farmacêutica, o Smart Pack apresenta outra vantagem: ele dispensa o uso de algodão. Utilizado para dificultar a entrada de ar e evitar que as cápsulas se abram ao bater no interior da embalagem, o algodão é aplicado em larga escala pela indústria de medicamentos, de acordo com Netto. Portanto, dispensá-lo refletiria em uma economia considerável.

O segredo da tecnologia é um dispositivo dosador que conta com um depósito de pedido de patente. Todo o desenvolvimento e testes foram feitos por softwares especializados, contou Netto.

Antes de iniciar o projeto com apoio do PIPE, Netto havia confeccionado um protótipo que ficou aquém de suas expectativas. “Utilizamos poliamida, um material que não é adequado para o nosso projeto por não garantir um ajuste fino”, disse, ressaltando que o dispositivo exige uma precisão de centésimos de milímetros.

“O apoio da FAPESP permitirá que possamos construir um protótipo adequado para depois viabilizar a sua produção em massa”, disse.