O perigo da ciência descomprometida

quarta-feira, março 03, 2010

JC e-mail 3960, de 03 de Março de 2010.

22. O perigo da ciência descomprometida, artigo de Lázaro Guimarães

"Ninguém poderia imaginar que a ciência pudesse ser utilizada para a destruição da humanidade" [SIC]

Lázaro Guimarães é professor universitário. Artigo publicado no "Correio Braziliense":

Mais de 200 anos atrás, Jean Jacques Rousseau causava perplexidade em pleno século das luzes ao advertir para os sérios riscos inerentes à evolução do conhecimento científico e tecnológico. A elite de cientistas, a serviço de minorias políticas ou econômicas, tenderia, na visão do filósofo, ao domínio absolutista. Ninguém poderia, então, imaginar que a ciência pudesse ser utilizada para a destruição da humanidade.

Nem é preciso falar do perigo do arsenal nuclear ou do uso de armas biológicas para demonstrar como a ação do cientista descomprometido com a ética ameaça gravemente o mundo. Basta apontar alguns dados extraídos do noticiário dos jornais dos últimos dias.

O governo dos Estados Unidos acaba de anunciar que o uso da substância rosiglitazone, que compõe o medicamento Avandia, fabricado pelo laboratório GlaxoSmithKline, causa danos ao organismo suscetíveis de provocar enfarte do miocárdio, com base na análise de casos que, somente no último trimestre de 2009, motivaram 304 mortes naquele país.

O remédio já está sob suspeita há vários anos, objeto de investigação por comitê independente do Senado, mas continua a ser receitado e vendido nas farmácias para tratamento de diabetes tipo 2. Apesar da recomendação da agência norte-americana de controle de drogas, persiste a discussão entre os senadores. Alguns entendem que a vedação deve ser total e imediata, outros que basta uma advertência e cuidados médicos especiais. Por isso ainda não está proibida a comercialização do produto.

Ainda nos Estados Unidos, a polícia descobriu que a professora Amy Bishop, acusada pelo assassinato de três colegas do departamento de Biologia da Universidade do Alabama no dia 12 passado, fabricava e havia colocado em salas de aula e de pesquisas, prontas para explodir, bombas de herpes, capazes de espalhar o vírus e, entre outros efeitos, danificar o feto em mulheres grávidas e provocar aborto. Tudo isso em razão de algumas rusgas com o seu coordenador, uma das três vítimas do homicídio, e do fracasso na disputa de promoção na carreira acadêmica. [NOTA DESTE BLOGGER: Bishop é darwinista convicta]

Aqui no Brasil, os laboratórios distribuem os broncodilatadores de ação duradoura, que não devem ser utilizados isoladamente no tratamento da asma porque expõem os pacientes a acidentes cardíacos e respiratórios. A Anvisa estuda novas advertências a serem incluídas nas bulas. Mas isso é pouco porque recente fiscalização das farmácias de São Paulo revelou a farta distribuição de medicamentos falsificados, proibidos ou adulterados. Isso abertamente, nas prateleiras que nem sequer deveriam expor os remédios sujeitos a controle.

A ampliação de capacidade dos sistemas de reprodução sonora é outra grave ameaça à saúde que requer atenção especial das autoridades. Nos automóveis, em casas de diversão, barracas de praia, até mesmo em bicicletas, são instalados potentes aparelhos de som que agridem severamente a audição e partes do cérebro, provocando surdez e doenças mentais.

Noticiam também os jornais que a central de inteligência dos Estados Unidos detectou sinais de que a Al-Qaeda, organização responsável pelos atentados do 11 de setembro, busca meios para preparar pequenos artefatos nucleares, minibombas atômicas, com imenso poder de destruição. Nem é preciso esperar pelos resultados de um ataque como esse porque, no dia a dia, os atos daqueles cientistas e técnicos desviados no comprometimento ético de que nenhum ramo do conhecimento carece já causam estragos colossais.

(Correio Braziliense, 2/3)