R. I. P. Gildo Marçal Brandão

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Morre o professor Gildo Marçal Brandão

19/2/2010

por Fábio Reynol

Agência FAPESP – Morreu na noite de segunda-feira (15/2) o professor Gildo Marçal Bezerra Brandão, pesquisador do Centro de Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade de São Paulo (Cedec/USP), em decorrência de problemas cardíacos.

Brandão estava em São Sebastião, no litoral paulista, onde passava o feriado com a família. No dia 17, completaria 61 anos.



Professor da USP era um dos principais nomes na pesquisa em ciências políticas no país (foto: Jornal da Unicamp)

“Gildo era um arguto analista político e cientista de grande competência. Deu grande contribuição à FAPESP e à ciência no Brasil. Foi um incansável defensor de referenciais acadêmicos elevados para a universidade pública brasileira”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

Brandão era assessor ad hoc da FAPESP e coordenava o Projeto Temático “Linhagens de pensamento político e social brasileiro”, apoiado pela Fundação.

O tema do projeto foi inspirado em sua tese de livre-docência de 2004 e deu origem a um livro de mesmo título lançado pela editora Hucitec em 2007 e considerado uma de suas principais obras.

“Ele tinha uma capacidade de liderança muito grande, além de ser extremamente generoso. Gildo jamais se negou a compartilhar suas ideias e ajudar quem quer que fosse. Vários de seus ex-orientandos se tornaram professores de importantes universidades”, disse Elide Rugai Bastos, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, que participa do Temático coordenado por Brandão, à Agência FAPESP.

Natural de Alagoas, Brandão graduou-se em filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1971. Atuou como jornalista e militou no Partido Comunista Brasileiro (PCB) sendo o primeiro editor do jornal Voz da Unidade, publicação do partido que ajudou a fundar. Também chegou a trabalhar como editorialista do jornal Folha de S.Paulo, no início dos anos 1980.

Em São Paulo desde o fim dos anos 1970, deixou a militância política para se dedicar à carreira acadêmica. Lecionou na Universidade Estadual Paulista, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e na USP, na qual concluiu doutorado em 1992.

Sua tese de doutoramento deu origem ao livro A Esquerda Positiva (As Duas Almas do Partido Comunista, 1920-1964)(Hucitec, 1997). Sua produção bibliográfica contém outras obras importantes como Linhagens do Pensamento Político Brasileiro (Hucitec, 2007) e Caio Prado Júnior e a nacionalização do Marxismo no Brasil (Editora 34, 2000), esta última lançada com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

Completou pós-doutorado em teoria política contemporânea em 1996, na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Foi editor da Revista Brasileira de Ciências Sociais.

A Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), da qual Brandão foi secretário adjunto entre 2004 e 2008, divulgou nota ressaltando as contribuições que o pesquisador deu à área e destacando “seu fortíssimo engajamento na construção das ciências sociais” no Brasil.

Segundo o chefe do Departamento de Ciência Política da USP, professor Álvaro Vita, Brandão era “um dos intelectuais mais respeitados e reconhecidos em sua área de atuação”.

Brandão não se preocupava somente com a sua área, de acordo com Brasílio João Sallim Júnior, professor do Departamento de Ciência Política da USP. “Ele se preocupava em manter e elevar a qualidade da universidade como um todo e não só da área dele”, disse.

Casado com Simone Coelho, filha do jornalista e ex-deputado Marco Antonio Tavares Coelho, Brandão deixou dois filhos. Seu corpo foi cremado na quarta-feira (17/2) no Crematório da Vila Alpina em São Paulo.

“Sua vida é um exemplo de um envolvimento permanente com toda a sorte de dificuldades financeiras, políticas, policiais, e de extremo amor a diversas instituições de pesquisa, particularmente a Universidade de São Paulo”, disse Tavares Coelho.