Ensinar Ciência também é ser crítico da Ciência

quarta-feira, fevereiro 10, 2010

Prof. João Luiz Muzinatti

A ciência ocupa, de um modo geral, papel central na atividade humana. Aquilo que, no passado era visto como um corpo amplo de conhecimentos nas mais variadas áreas, hoje vem revestido de tons especiais e tem uma aura diferenciadora e cheia de uma importância até certo ponto exacerbada. Nos tempos atuais, para que se possa dar a uma argumentação um caráter de maior importância, basta que se use o termo científico. Toda teoria que não pode ser vista como científica parece perder toda a sua importância. A impressão é que vivemos num mundo (e num tempo) em que somente as falas dos pesquisadores e cientistas merecem ser ouvidas. E quantas coisas não se falam, até de forma irresponsável, usando, para que sejam aceitas, a afirmação de que fazem parte de uma investigação dentro de bases científicas?

Mas, afinal, até que ponto essa forma de se tratar a realidade pode mesmo ser aceita por aqueles que possuem discernimento e atenção para tudo o que se fala e se escreve no mundo do conhecimento. Até que ponto uma notícia de jornal, vinda sabe-se lá de que parte do mundo, dizendo-se embasada cientificamente, merece mesmo a credibilidade de quem a está lendo? O que é uma teoria (ou pesquisa) científica? Quando se deve aceitar uma pesquisa como válida e digna de credibilidade?

Para estas e outras questões, pode-se ter, ou não, respostas imediatas. Tudo dependerá da visão de quem está analisando o caráter científico de determinada proposição. A consideração sobre a verdade que se encerra numa ou noutra teoria ou investigação irá depender, em muito, de quão profunda possa ser a reflexão sobre a analise (que se faça) das concepções sobre o que é ou deixa de ser ciência.

Assim, a discussão epistemológica sobre as várias visões do que seja ciência tem uma relevância que, até mesmo, extrapola os meios acadêmicos específicos. É de vital importância, para educadores, por exemplo, uma reflexão mais apurada sobre o que o aprendizado possa engendrar na mente do educando. Sua visão de mundo e seus valores podem depender diretamente das maneiras pelas quais este articula as informações que recebe e as remete às realizações que empreende, como aluno e como cidadão. Em nome de uma pseudo verdade – muitas vezes imposta por meio de informações distorcidas –, pode-se levar pessoas a visões absolutamente equivocadas da realidade. Não é absurdo pensar que preconceitos e autoritarismos possam brotar de formações aparentemente humanas e fundamentadas. Afinal, o que pode alicerçar com total segurança uma formação acadêmica? Até que ponto, por exemplo, uma visão evolucionista de mundo pode ser usada para que se tenham mais solidificados os valores humanitários? E qual é a garantia de que se está fazendo com que o educando possa caminhar com autonomia e liberdade de pensamento se a concepção de ciência que o mesmo está recebendo não conflita com o próprio sentido daquilo se possa chamar de sério e confiável para o tempo em que este está vivendo?
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NOTA DESTE BLOGGER:

Ensinar ciência também é ser crítico da ciência. Já pensou os professores de Biologia do ensino médio ensinando as insuficiências fundamentais da teoria da evolução por meio da seleção natural de Darwin? Eu acho que as aulas de Biologia seriam muito mais vibrantes do que hoje são. Já pensou os alunos das escolas públicas munidos das críticas sérias questionando a robustez do fato, Fato, FATO da evolução apresentado pela Síntese Evolutiva Moderna (ou neodarwinismo) em salas de aulas de ciência?

Alô, MEC: vamos topar esta parada? Ensinar ciência pra garotada na aula de Biologia? O que temos hoje não é educação, mas sim doutrinação em cima de uma teoria científica declarada morta em 1980 (Gould). ensinar pra moçada que hoje em biologia evolutiva estamos no vazio epistêmico, pois a nova teoria da evolução - a SÍNTESE EVOLUTIVA AMPLIADA ainda não foi elaborada?

Que tal fazer isso no dia 12 de fevereiro? Gente, este seria o melhor presente de aniversário para Darwin em 2010, pois ele acreditava que os pontos de vistas divergentes, visões extremas sobre a evolução, com suas conclusões diferentes, deveriam ser debatidas.

Que tal o Prof. Walmir Cardoso, da TV Escola, apresentar o documentário "Darwin's Dilemma" como contraponto ao documentário sobre os alunos cristãos da Wheaton College apresentado no dia 9 de fevereiro de 2010? Razão? Porque a questão hoje em dia não é se as especulações transformistas de Darwin vão de encontro com os relatos de criação de subjetividades religiosas, mas se as especulações transformistas de Darwin são corroboradas pelas evidências em um contexto de justificação teórica. É isso que precisa chegar às escolas públicas: ensinar Darwin também é ser crítico de Darwin.