Pesados e saudáveis

sexta-feira, janeiro 08, 2010

Pesados e saudáveis
8/1/2010

Por Alex Sander Alcântara

Agência FAPESP – As vitaminas são essenciais na dieta dos peixes por estarem envolvidas nas reações metabólicas. Sua falta pode comprometer o crescimento e aumentar a incidência de doenças. Um novo estudo realizado com tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus), recentemente publicado, concluiu que quantidades adequadas de vitamina A melhoram o ganho de peso, mas não alterara o consumo de ração pelos peixes.

O trabalho, publicado na revista Scientia Agricola, apontou ainda que a suplementação de vitaminas na dieta diminui o estresse e estimula o sistema imunológico causado por altas densidades de estocagem dos peixes.


Pesquisa feita na Esalq indica que doses adequadas de vitamina A melhoram o ganho de peso e o sistema imunológico da tilápia-do-nilo sem alterar o consumo de ração (divulgação)

De acordo com José Eurico Possebon Cyrino, professor do Departamento de Zootecnia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e orientador do estudo, o modo de criação em que se colocam cada vez mais peixes em um pequeno espaço tem provocado várias doenças e até mesmo a morte dos animais.

“A suplementação adequada de vitamina A permite um melhor funcionamento do fígado, do baço, do rim e um sistema imunológico mais competente. Assim, mesmo quando submetidos ao estresse, a presença do ácido retinoico [forma oxidada da vitamina A] na dieta ajuda a não comprometer o sistema imunológico”, disse à Agência FAPESP.

O estudo corresponde à dissertação de mestrado de Daniela Ferraz Bacconi, orientada por Cyrino e intitulada “Efeito da suplementação dietética de vitamina A no desenvolvimento e reservas hepáticas de retinol na tilápia-do-nilo (Oreochromis niloticus)”, com Bolsa da FAPESP.

Cyrino desenvolve atualmente o projeto “Avaliação de fontes proteicas alternativas na alimentação do pintado (Pseudopalystoma corruscans), utilizando o conceito de proteína ideal”, com apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, bem como orienta três teses de doutoramento sobre nutrição de peixes nativos com apoio da Fundação.

O pesquisador ressalta que, comparativamente a outros países, existem poucos estudos no Brasil sobre a dieta de tilápias. “O foco das pesquisas se centra apropriadamente em peixes nativos (como pintado, dourado e pacu). Entretanto, existe uma carência muito grande de informação gerada no país sobre a tilápia-do-nilo, que não é nativa do Brasil, mas é a mais importante espécie da piscicultura de água doce no mundo”, disse.

Para a análise do efeito da concentração de vitamina A na dieta da tilápia-do-nilo, os pesquisadores utilizaram peixes estocados em aquários plásticos de 100 litros e alimentados duas vezes ao dia, sete dias da semana, durante 75 dias.

A alimentação se deu por dieta semipurificada e suplementada com doses de 0, 600, 1.800, 2.400, 3.000. 3.600. 4.200, 4.800 e 5.400 unidades internacionais (UI) de ácido retinóico na forma de palmitato de retinol (fórmula estável da vitamina A) contendo 30% da vitamina por quilo de dieta.

Os testes mostraram que houve deficiência nutricional severa nos peixes que consumiram de 0 a 1.200 UI e sinais moderados nos que foram alimentados com porções de 1.800 a 3.600 UI. “Os resultados do estudo recomendam a quantidade mínima de 5.400 IU de retinol na dieta da tilápia”, disse Cyrino, ao ressaltar que quantidades inadequadas também podem comprometer o peixe.

O professor da Esalq ressalta que o excesso de vitamina A também pode causar sérios problemas. “O excesso provoca redução nos depósitos de gorduras, alterações no fígado, crescimento anormal e mortandade dos estoques”, disse.

Outro ponto destacado é que a nutrição com vitamina A para a tilápia é importante no crescimento e na reprodução. “A fêmea passa uma quantidade grande de vitamina A para as larvas. Essa vitamina garante a sobrevivência da larva porque desenvolve pigmentação mais rapidamente e otimiza o aproveitamento das fontes de energia por meio dos lipídios na dieta”, explicou.

Um ponto importante da pesquisa está no fator econômico. O estudo indica que a tilápia ganhou mais peso, sem necessidade de mais ração. “Para o produtor, isso é de extrema importância e compensatório do ponto de vista econômico”, disse Cyrino.

Para ler o artigo Vitamin A in diets for Nile tilapia, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP), de Daniela Ferraz Bacconi, José Eurico Cyrino e outros, clique aqui.