Jogando uma granada no quadro da evolução dos tetrápodes

domingo, janeiro 10, 2010

Jogando uma granada no quadro da evolução dos tetrápodes
9 de janeiro de 2010

Um ano atrás, a revista Nature publicou um livreto educacional com o título 15 Evolutionary gems [15 pedras preciosas evolucionárias (como recurso didático para o Bicentenário de Darwin). A pedra preciosa número 2 é o Tiktaalik, um fóssil de peixe bem preservado que foi amplamente aclamado como documentando a transição de peixe a tetrápode. O Tiktaalik foi um peixe elpistostegaliano: um carnívoro bem grande, habitante de águas rasas com afinidades anatômicas de tetrápode, mas possuindo barbatanas. Infelizmente, até ao fóssil do Tiktaalik, a maioria dos fósseis de peixes elpistostegídeos era de fragmentos mal preservados.

“Em 2006, Edward Daeschler e seus colegas descreveram espetacularmente fósseis bem preservados de um peixe elpistostegídeo conhecido como Tiktaalik que nos permitiu construir uma boa figura de predador aquático com semelhanças distintas aos tetrápodes — do seu pescoço flexível até à sua estrutura de membro tipo barbatana. A descoberta e a análise meticulosa do Tiktaalik ilumina o estágio antes da evolução dos tetrápodes, e mostra como o registro fóssil nos lança surpresas, se bem que aquelas que são inteiramente compatíveis com o pensamento evolutivo.”


Como um dos animais devonianos pode ter feito as pegadas (Fonte: BBC News)

Bem quando todo mundo pensava que tinha surgido um consenso, uma nova descoberta de fóssil é relatada — jogando tudo dentro do caldeirão (de novo!). Pegadas de um tetrápode desconhecido foram recuperadas de rochas que datam 10 milhões de anos mais antigas do que o Tiktaalik. Os autores disseram que as pegadas ocorrem em rochas que: “podem ser seguramente designadas ao período inferior Eifeliano, correspondendo a uma idade de aproximadamente 395 milhões de anos.” De um só golpe, isso elimina não somente o Tiktaalik como o ancestral dos tetrápodes, mas também todos os fósseis representativos conhecidos dos elpistostegídeos. A chegada dos tetrápodes é considerada agora como tendo ocorrido há 20 milhões de anos mais cedo do que era previamente considerada, e esses tetrápodes devem ser considerados agora como coexistentes com os elpistostegídeos. Mais uma vez, o registro fóssil lançou uma grande surpresa, mas esta surpresa não é “inteiramente compatível com o pensamento evolucionário”. É uma descoberta que não foi predita, e ela não se encaixa de jeito nenhum no consenso emergente.

“Agora, contudo, Niedzwiedzki et al. jogam uma granada naquele quadro. Eles relatam um descoberta surpreendente de pegadas de tetrápodes com impressões de dígitos em Zachemie, Polônia, que são inequivocamente datadas do período Eifeliano mais inferior (397 milhões de anos atrás). Este local (uma antiga pedreira) revelou uma dúzia de pegadas feitas por diversos indivíduos variando entre 0.5 a 2.5 metros de comprimento, e numerosas pegadas isoladas encontradas em fragmentos de cascalhos. As pegadas precedem aos restos de esqueletos mais antigos de tetrápodes em 18 milhões de anos e, mais surpreendentemente, aos peixes elpistostegalianos mais antigos em cerca de 10 milhões de anos.” (Janvier & Clement, 2010).

O resumo do editor da Nature explicou: “As descobertas sugerem que os elpistostegídeos que nós conhecemos foram as últimas relíquias sobreviventes em vez de formas transicionais diretas, e eles realçam o quão pouco nós sabemos da história mais antiga dos vertebrados terrestres.” Henry Gee, um dos editores da Nature em um blog:

“O que tudo isso significa? Isso significa que a correlação bem embrulhada como presente entre a estratigrafia e a filogenia, na qual os elpistostegídeos representam uma forma transicional na súbita evolução dos tetrápodes na metade do período Frasniano, é uma cruel ilusão. Se — como as pegadas polonesas revelam — os tetrápodes já existiam no período Eifeliano, então um enorme vazio evolucionário se abriu debaixo de nossos pés.”

[NOTA DESTE BLOGGER SIC ULTRA PLUS: Muito cuidado com este Henry Gee. Este evolucionista faz afirmações polêmicas e contundentes que contrariam alguns aspectos do fato, Fato, FATO da evolução, e quando citado por críticos e oponentes, ele tem a maior cara de pau de dizer que foi citado fora de contexto.

Razão para o destaque aqui? Eu destaco isso para os leitores, pois numa mesa-redonda em 2009 com o Prof. Dr. Diogo Meyer, da USP, e Waldir Stefano, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, sobre a evolução e o Design Inteligente, eu citei Henry Gee afirmando serem tão exíguas as evidências da evolução humana que todas caberiam numa caixa:

“All the evidence for the hominid lineage between about 10 and 5 million years ago -- several thousand generations of living creatures -- can be fitted indo a small box.” In Search of Deep Time, 2001, p. 202.

O Dr. Meyer disse conhecer pessoalmente a Henry Gee, e que ele não fizera tal afirmação. Como era tréplica, eu não pude responder e dizer que Henry Gee escreveu isso no seu livro… Passei por mentiroso diante da plateia por causa de alguém que não tem ‘cojones’ de sustentar o que diz e o que escreve!]

Em outro blog, Ed Yong discutiu a significância da descoberta, e está deveras impressionado pelo apoio de um pesquisador de renome envolvido na tentativa de entender a evolução dos tetrápodes:

“Jenny Clack, a cientista da Universidade de Cambridge que descobriu o Acanthostega, viu as pegadas polonesas e as considera mais convincentes. A sua única reserva é que as pegadas detalhadas não têm trilhas para mostrar como se moviam os que as fizeram, embora as trilhas consistam de marcas indefinidas.” “Mas da mesma maneira fazem muitas das pegadas previamente conhecidas”, disse ela. “Se você as encontrasse em outros sedimentos na última parte do Devoniano, certamente você não teria nenhum problema sobre elas.” Ela quer ver as trilhas das pegadas detalhadas, mas mesmo assim, ela está empolgada. “Isso vai mudar todas as nossas ideias sobre por que os tetrápodes emergiram da água, bem como quando e onde.”

Repensar o por que e o onde é outro aspecto desta descoberta explosiva. Os primeiros tetrápodes foram reconhecidos como sendo animais que viviam na água. As pessoas perguntam se as barbatanas evoluíram em pernas enquanto os animais comiam plantas nas águas rasas, talvez água salobra ou água doce. Estas ideias ainda podem ser aplicáveis ao Acanthostega e Ichthyostega, mas elas não são realistas para as novas trilhas de tetrápodes — que são encontradas em sedimentos achatados por ondas marinhas.

“As trilhas de tetrápodes Eifelianos de Niedzwiedzki e colegas, aparentemente anacrônicas irão assim modelar o pensamento sobre as origens dos tetrápodes. Elas revelam que os primeiros tetrápodes viviam no mar, andando nas lagoas de lama de recifes de corais; isso em desacordo com a antiga opinião defendida por muito tempo de que os deltas de rios e os lagos eram os ambientes necessários para a transição da água para a terra durante a evolução dos vertebrados.”

O interesse do Design Inteligente nesta história é, pelo menos, por duas razões. A primeira razão é que o caso documenta um exemplo de uma predição evolucionária que falhou — embora, por enquanto, os evolucionistas já consideram isso um triunfo (vide o blog de Casey Luskin sobre isso). A segunda razão, a evolução dos tetrápodes é um caso teste importante para a relevância do pensamento de design — nós perguntamos aqui se os tetrápodes estão aqui por Design ou se os processos de Lei + Acaso é a explicação suficiente. A pesquisa está acontecendo assumindo a segunda opção, mas a nova descoberta sugere que a perseguição de múltiplas hipóteses operacionais (inclusive as opções baseadas em design) podem ser mais prudentes.

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Tetrapod trackways from the early Middle Devonian period of Poland
Grzegorz Niedzwiedzki, Piotr Szrek, Katarzyna Narkiewicz, Marek Narkiewicz & Per E. Ahlberg

Nature, 463, 43 48 (7 January 2010) | doi:10.1038/nature08623

Abstract: The fossil record of the earliest tetrápodes (vertebrates with limbs rather than paired fins) consists of body fossils and trackways. The earliest body fossils of tetrápodes date to the Late Devonian period (late Frasnian stage) and are preceded by transitional elpistostegids such as Panderichthys and Tiktaalik that still have paired fins. Claims of tetrapod trackways predating these body fossils have remained controversial with regard to both age and the identity of the track makers. Here we present well preserved and securely dated tetrapod tracks from Polish marine tidal flat sediments of early Middle Devonian (Eifelian stage) age that are approximately 18 million years older than the earliest tetrapod body fossils and 10 million years earlier than the oldest elpistostegids. They force a radical reassessment of the timing, ecology and environmental setting of the fish tetrapod transition, as well as the completeness of the body fossil record.

Vide também:

Janvier, P. & Clément, G. "Muddy tetrapod origins," Nature 463, 40-41 (7 January 2010) | doi:10.1038/463040a
Dalton, R. Discovery pushes back date of first four-legged animal, Nature News, 6 January 2010 | Nature | doi:10.1038/news.2010.1

Yong, E. Fossil tracks push back the invasion of land by 18 million years, Not exactly rocket science, January 6, 2010

Source/Fonte: ARN

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Assista ao vídeo da Nature:



Leia mais aqui:

Pegadas dos mais antigos quadrúpedes


Vide a cobertura da mídia sobre o Tiktaalik ser um elo perdido:

1. Fóssil de peixe dá pistas para passagem de animais da água para a terra 25/06/2008

2. Estudo dá novas pistas sobre evolução animal 15/10/2008