FAP do Amazonas atinge marca de 100 doutores titulados

terça-feira, janeiro 12, 2010

JC e-mail 3927, de 12 de Janeiro de 2010.

8. FAP do Amazonas atinge marca de 100 doutores titulados

Leia entrevista com Roberto Mubarac Sobrinho, centésimo doutor formado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas

Recém-chegado a Manaus, após concluir seu doutorado em educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (Ufsc), o pesquisador e professor amazonense, nascido em Itacoatiara, Roberto Mubarac Sobrinho, de 38 anos, comemora o bom desempenho e a conquista de uma posição importante na mudança do cenário da pós-graduação no Amazonas: ser o centésimo doutor a conquistar o título com o apoio da Fapeam.

Três anos e meio de estudos, pesquisas de campo e participações em eventos internacionais foi o que ele precisou para concluir sua tese, que trata da questão da educação de crianças indígenas da etnia Sateré-Mawé em escolas públicas de Manaus.

Nesta entrevista, ele fala sobre o seu desempenho e os desafios de estudar fora do estado, a conquista do título de centésimo doutor e sua pesquisa, que, além de pioneira, agora é tida como referência para outros pesquisadores da área de educação:

- O que representa para você ser o centésimo pesquisador a defender a tese de doutorado com apoio da Fapeam?

O investimento na formação de professores/pesquisadores é fundamental para a melhoria da qualidade do ensino e a possibilidade de pensarmos em uma sociedade melhor. A bolsa concedida pela Fapeam foi fundamental para ter conseguido concluir, mas essa empreitada e ser o centésimo doutor é um grande presente, principalmente pelo reconhecimento que a instituição, por meio do meu trabalho, está prestando aos demais doutores que já defenderam suas teses e aos muitos que ainda virão por aí.

- Como você avalia a iniciativa da fundação em apoiar pesquisadores e promover o aumento do número de mestres e doutores na região?

Não há como visualizar um aumento na formação e melhoria do trabalho dos pesquisadores na região sem que as agências de fomento façam sua parte e ampliem, cada vez mais, o número de bolsas, o que possibilita mudar o panorama ainda tão desigual que existe no Brasil. Essa ação da Fapeam é louvável e merece todo o nosso reconhecimento.

- Você fez o doutorado em Santa Catarina. Quais os maiores desafios para estudar fora do Estado do Amazonas e conseguir concluir o curso em tempo reduzido e como um aluno exemplar?

Primeiramente, enfrentar a visão estereotipada que existe no Sul do país em relação a nós, do Norte. Na verdade, isso é um processo preconceituoso que existe dada a "ignorância" sobre a diversidade e realidade do Brasil. Esse desafio foi um elemento fortalecedor para que eu pudesse mostrar o quanto nós somos competentes e temos condições de estar em qualquer lugar defendendo nosso estado. Tanto que nos relatórios do curso eu sempre obtive as melhores notas e o maior número de publicações.

- A sua tese aborda a questão da educação de crianças indígenas que vivem e estudam em centros urbanos, no caso, em Manaus. Como esse tema foi recebido pelos pesquisadores em Santa Catarina?

O tema foi bem recebido devido ao caráter de ineditismo e por representar uma grande lacuna nas pesquisas na área da infância. No curso, fiz e ainda faço parte do Núcleo de Estudos e Pesquisas na Educação na Pequena Infância (Nupein), que tem uma das mais significativas produções do país na área da infância, mas não possuía trabalhos na área da infância indígena. Isso foi importante para a perspectiva de ampliação do universo do núcleo e já apresenta resultados favoráveis, pois outras pessoas já estão se integrando nessa temática.

- Quais os dados relevantes obtidos a partir da sua tese e como eles vão contribuir para a melhoria da sociedade?

Primeiramente, entender que a pesquisa precisa ser concebida como uma ferramenta de "desvelamento da realidade", como nos afirma (Pierre) Bourdieu. Conhecer o cotidiano das crianças Sateré-Mawé e suas relações com a escola representou para mim e representa para a área um grande avanço no sentido de lutar, juntamente com os indígenas, por melhores condições educacionais e sociais e que não é uma ação caritativa promover educação a essas populações, muito pelo contrário, deve ser um compromisso social e de qualidade.

- A partir do seu estudo, como você define o cenário atual e o futuro para a educação escolar indígena?

É preciso, acima de tudo, conhecermos a realidade das diversas etnias e, a partir das suas vozes, ou seja, seus modos de conceber o mundo, pensarmos em políticas públicas e ações concretas que possam se aproximar cada vez mais do universo desses povos, o que pode contribuir para o processo de alteridade das populações indígenas.

- Que dicas você daria para quem almeja ingressar no doutorado fora do estado contando com o apoio da Fapeam?

Acima de tudo, pensar em um projeto de pesquisa que esteja muito ligado aos problemas atuais vivenciados em nossa região, partindo de uma aproximação da realidade que norteia nossas populações. Hoje há uma responsabilidade muito grande com a região, mas é preciso pensá-la não só como um espaço físico, mas sobretudo humano. Dar visibilidade aos povos da Amazônia é manter viva uma cultura que por muito tempo foi inferiorizada por severos processos de subalternização, e pelos nossos trabalhos começa-se a ganhar novas perspectivas. Um trabalho que demonstre essa preocupação, com certeza, terá todo apoio da Fapeam não só na concessão da bolsa, mas também com apoio à participação em eventos, fazendo nossas vozes serem ecoadas em todos os lugares deste planeta.
(Ulysses Varela, Agência Fapeam)