A teia cósmica

quinta-feira, novembro 12, 2009

JC e-mail 3887, de 11 de Novembro de 2009.

19. A teia cósmica

Grupo de pesquisadores anunciam a descoberta de uma rede gigantesca de galáxias localizada a 6,7 bilhões de anos-luz da Terra. Achado permitirá melhor compreensão sobre a formação dessas estruturas que abrigam uma infinidade de estrelas

Rodrigo Craveiro escreve para o "Correio Braziliense":

Algumas são azuis, com grandes e lindos braços em espiral. Outras são vermelhas, sem prolongamentos. Todas estão em constante mutação e evocam o fascínio da ciência. Foi buscando galáxias que cientistas do Observatório do Sul Europeu (ESO, pela sigla em inglês) encontraram uma porção delas.

Na verdade, uma gigantesca reunião de galáxias, antes desconhecida, localizada a 6,7 bilhões de anos-luz da Terra. O achado é a primeira observação de uma estrutura imensa nos confins do universo e fornece um panorama sobre a chamada teia cósmica.

"Nós ainda não sabemos que segredos essa estrutura guarda. Os astrônomos têm teorias e previsões sobre a formação desse conglomerado de galáxias e sobre a evolução do universo. Mas são apenas dados teóricos aferidos pela computação", explicou ao Correio o japonês Masayuki Tanaka, principal autor da pesquisa, publicada na revista científica Astronomy & Astrophysics Journal. "O aspecto mais importante é que, agora, vemos esse conglomerado no 'universo real'", comemorou.

A descoberta só foi possível graças à combinação do uso de dois dos mais poderosos telescópios terrestres - o Subaru, do Observatório Astronômico Nacional do Japão, e o Very Large Telescope, do ESO(1). Os dois equipamentos mediram a distância da Terra em relação às mais de 150 galáxias e desvelaram parte do chamado esqueleto do universo: galáxias ao redor desses filamentos e imensos aglomerados em suas interseções que formam um emaranhado semelhante a teias de aranha.

"Essa imensa estrutura nos fornece uma oportunidade única para estudarmos a evolução das galáxias que surgem de modos diferentes, dependendo de onde cresçam", disse Tanaka. Segundo o japonês, as galáxias não estão uniformemente distribuídas no cosmos, mas arranjadas em filamentos. "Nos nós desses filamentos, observamos grandes concentrações de galáxias. Em outras palavras, as galáxias vivem em ambientes distintos: algumas em densos aglomerados, outras em campos de baixa intensidade", acrescentou.

O estudo abre as portas para que a ciência compreenda mais a razão pela qual a evolução das galáxias é tão dependente de seus ambientes. "Creio que essa imensa estrutura nos dará uma boa pista sobre isso. Podemos estudar de que modo ambientes em larga escala afetam a evolução delas", opinou Tanaka, que obteve um panorama tridimensional do esqueleto cósmico.

Quando realizaram a análise demográfica dessa estrutura gigantesca - ela se estende por pelo menos 60 milhões de anos-luz -, Tanaka e seus colegas identificaram vários grupos de galáxias ao redor de um aglomerado de galáxias principal. Eles distinguiram dezenas de aglomerados, alguns deles até 10 vezes maiores e com massa 10 mil vezes superior à Via Láctea. "O que descobrimos é uma parte da teia cósmica", afirmou o japonês. Para compreender totalmente como ela se forma, os estudiosos precisam de mais dados sobre sua estrutura.

A façanha teve início em 2004, quando Tanaka e sua equipe observaram o aglomerado CL0016 utilizando a Suprime-Cam - uma imensa câmera digital acoplada ao telescópio Subaru. "Naquele momento, visualizamos uma estrutura muito significativa em volta do aglomerado, mas ela sugeria que observávamos somente uma parte de um esqueleto ainda mais amplo", destacou.

Com a Suprime-Cam, eles perceberam muitos grupos de galáxias ao redor do aglomerado. "Só podemos ter uma medida crua da distância entre as galáxias, por meio das imagens. Para uma medição precisa, foi necessário realizar observações espectroscópicas com o Very Large Telescope, operado pelo ESO. Confirmamos que muitas das galáxias vistas na imagem estavam a distâncias similares, em relação ao aglomerado CL0016", descreveu.
(Correio Braziliense, 11/11)