O editorial da Folha de São Paulo não defendeu o direito à informação

segunda-feira, novembro 16, 2009

Quer dizer então que a Folha de São Paulo defende agora o direito à informação? Neste domingo (15/11/2009) a FSP publicou editorial intitulado “Direito à informação” [Requer assinatura da FSP ou UOL] contra as práticas desleais na internet que colocam em risco as bases para o exercício do jornalismo independente no país.

Segundo o editorial da FSP, as ‘democracias tradicionais aprenderam a defender-se de duas fontes de poder que ameaçam o direito à informação’: a tendência de todo governo de manipular fatos a seu favor, desenvolvendo-se mecanismos de controle civil — caso dos veículos de comunicação com independência, financeira e editorial, em relação ao Estado; o risco de interesses empresariais cruzados ou monopólios bloquearem o acesso a certas informações, foram criados dispositivos limitando o poder de grupos econômicos na mídia.

Alguém me belisque: a FSP defende mesmo o direito à informação? O que dizer da relação incestuosa de toda a Grande Mídia com a Nomenklatura científica em relação ao status epistêmico da teoria da evolução de Darwin através da seleção natural? Há uma década este blogger, e outras pessoas, têm levantado questões científicas fundamentais de corroboração daquela teoria num contexto de justificação teórica junto às editorias de ciência. Qual é a atitude da editoria de ciência da FSP: “Não damos espaço” (Marcelo Leite).

E a FSP defende agora o direito à informação que ela mesma sonega há uma década?

A síndrome ricuperiana domina a FSP e a Grande Mídia tupiniquim: “O que Darwin tem bom, a gente mostra; o que Darwin tem de ruim, a gente esconde”. Esta relação incestuosa manipula fatos a favor da teoria da evolução de Darwin, demoniza os críticos e oponentes (mesmo os científicos), e bloqueia o acesso público a certas informações sobre o status daquela teoria num contexto de justificação teórica.

Göebbels se mostra estupidamente infantil e primário em relação à atitude da FSP em sonegar informações científicas dos seus leitores.

O editorial da FSP lamentou que as salvaguardas tradicionais estejam sendo desafiadas pelo avanço da internet e da convergência tecnológica nas comunicações, e destaca o paradoxo da situação — esse processo abre um campo novo ao jornalismo.

A FSP destacou que, apesar da revolução tecnológica e do advento de plataformas cooperativas, a produção de conteúdo informativo de interesse público continua, majoritariamente, a cargo de organizações empresariais especializadas.

Eu concordo com o editorial da FSP: isso é ruim para a democracia. Além disso, o editorial salientou que o acesso sistemático a informações exclusivas, relevantes, bem apuradas e editadas sempre implica a atuação de grandes equipes de profissionais [capacitados e objetivos] dedicados apenas a isso, e que essas equipes precisam ser remuneradas — ou o elo se rompe.

A FSP e a Grande Mídia não contam com tais equipes? A julgar pelo jornalismo científico até aqui produzido, e pelo que deixou transparecer o editorial, parece que não.

Eu concordo com o editorial da FSP: quando um serviço de internet que visa ao lucro toma as informações produzidas por empresas jornalísticas, editando e difundindo-as a seu modo, sem nada pagar, não só fere as leis dos direitos autorais, mas solapa os pilares financeiros sustentadores do jornalismo profissional independente.

Eu sou a favor da FSP contra o oligopólio irrestrito na banda larga — a via para onde converge a transmissão de múltiplas mídias (TVs, revistas e jornais), pois isso alimenta um Leviatã capaz de bloquear ou dificultar a passagem de dados e atores que não lhe sejam convenientes.

Mas aqui, o editorial da FSP deu um tiro no seu próprio pé: mesmo não sendo um oligopólio midiático, os atuais ‘mandarins’ da FSP bloqueiam e dificultam a passagem de dados e atores que não lhe são convenientes — os criacionistas, os teóricos e proponentes do Design Inteligente e outros críticos de Darwin. Marcelo Leite que o diga: “Não damos espaço”.

O editorial da FSP chora as pitangas capitalistas e, puxando as brasas para a sua sardinha empresarial, relembra convenientemente o que a Constituição diz a respeito dos portais de notícias, além de cutucar as autoridades que se eximiram na aplicação do limite constitucional de 30% de participação de capital estrangeiro. Estas autoridades, segundo o editorial da FSP, estão abonando um grave desequilíbrio nas regras de competição, pois os veículos nacionais, que respeitam a lei [será?], têm de concorrer com conglomerados estrangeiros que acessam fontes colossais e baratas de capital.

A FSP afirmou que a atitude permissiva dessas autoridades ameaça o espírito da norma comum nas grandes democracias do planeta de proteger a cultura nacional, mas que os produtores de conteúdo jornalístico e de entretenimento no Brasil começam a protestar contra esse assédio multifacetado.

O editorial da FSP destaca a intensa ação política deste grupo capitalista: EXIGEM [sic] a aplicação, na internet, das leis do direito autoral; PRESSIONAM [sic] as autoridades para regulamentação da banda larga, como nos EUA, a fim de impedir as práticas discriminatórias e ampliar a competição; REQUEREM [sic] ao Ministério Público ação decisiva para as empresas produtoras de jornalismo e entretenimento na internet se ajustarem à exigência, expressa no artigo 222 da Carta, de que 70% do controle do capital esteja com brasileiros.

O editorial da FSP encerrou de forma enigmática: o jornal faz parte deste movimento não somente para defender as balizas empresariais do jornalismo independente, apartidário e crítico que postula e pratica, mas porque está em jogo o direito do cidadão de conhecer a verdade, de não ser ludibriado por governos ou grupos econômicos que ficaram poderosos demais.

A FSP pode defender as balizas empresariais exigidas pelo capitalismo, mas afirmar que postula e pratica jornalismo independente, apartidário e crítico é um exemplo nítido de editorial Novilíngua a la Orwell ‘1984’: o corpo editorial da FSP é composto por materialistas filosóficos atrelados à Nomenklatura científica. Há uma década, este ‘jornalismo independente, apartidário e crítico’ da FSP impede o cidadão de conhecer a verdade sobre o status epistêmico das atuais teorias sobre a origem e evolução do universo e da vida, e permite que ele seja ludibriado pelos atuais mandarins da Nomenklatura científica que ficaram poderosos demais.

O objetivo do editorial da FSP não foi defender o direito constitucional da população ter acesso à informação, mas utilizar isso como pano de fundo para atacar uma prática capitalista selvagem lesiva de determinados grupos detentores de informação, e defender o direito da FSP sobreviver como empresa neste nicho capitalista que se lhe mostra adverso.

Uma ação da seleção natural agindo sobre o mercado midiático onde o mais apto economicamente sobrevive não se aplica aqui?

A população, ora a população que se dane quanto ao direito à informação: “Não damos espaço!” disse Marcelo Leite no encerramento de conferência sobre a evolução na Fac. de Medicina da USP em 2006.

O editorial da FSP não defendeu o direito à informação, mas deixou uma lição clara de articulação política a ser seguido para as pessoas fazerem prevalecer seus direitos constitucionais na Grande Mídia:

1. EXIGIR, PRESSIONAR as autoridades a fim de impedir as práticas discriminatórias na mídia, e

2. REQUERER ao Ministério Público ação decisiva para as empresas da Grande Mídia se ajustarem à exigência expressa no artigo 5º. da Carta: “é assegurado a todos o acesso à informação” até sobre as dificuldades fundamentais das atuais teorias da origem e evolução da vida.

A FSP ‘falou e disse’: EXIGIR, PRESSIONAR e REQUERER PARA TODOS O LIVRE ACESSO À INFORMAÇÃO!

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Vide o excelente artigo ‘Direito à informação: a imprensa e a democracia’, de Eugênio Bucci.