Divulgação científica e responsabilidade

quarta-feira, novembro 25, 2009

Divulgação científica e responsabilidade
25/11/2009

Por Fábio Reynol, de Campinas

Agência FAPESP – A informação científica não deve servir para ameaçar ou para agradar o cidadão, antes de tudo deve torná-lo responsável pela ciência que seu país produz. A afirmação, de Miguel Angel Quintanilla, diretor do Instituto de Estudos da Ciência e da Tecnologia (Ecyt, na sigla em espanhol) da Universidade de Salamanca, Espanha, foi feita no 1º Foro Iberoamericano de Divulgação e Comunicação Científica, realizado de 23 a 25 de novembro na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


Miguel Angel Quintanilla, diretor do Instituto de Estudos da Ciência e da Tecnologia da Universidade de Salamanca propõe uma divulgação da ciência baseada na cidadania (foto: F.Reynol)

Quintanilla apresentou os dois principais modelos teóricos utilizados para estudar a divulgação científica, “Déficit Cognitivo” e “Contextual”, e por fim mostrou a sua proposta batizada de “Perspectiva Cívica” por se basear nos princípios de cidadania.

O modelo de Déficit Cognitivo pressupõe uma sociedade dividida entre especialistas e leigos. Os primeiros detêm o conhecimento científico e os demais necessitam dessa informação especial. Segundo Quintanilla, trata-se de um modelo pragmático que preconiza que a sociedade deve conhecer a ciência a fim de apoiá-la.

Para o pesquisador, o modelo de Déficit é o responsável por distorções na comunicação da ciência. “Perguntas como: ‘o acelerador de partículas LHC pode gerar um buraco negro e engolir o planeta?’ não tem a ver com ciência e são fruto da divulgação científica que tem sido feita”, disse.

Segundo ele, o uso de metáforas inadequadas por publicações jornalísticas são causas desses desvios. Como exemplo, citou a expressão “a partícula de Deus”, que um periódico espanhol utilizou ao se referir ao LHC.

Já o modelo Contextual, pelo qual a informação sobre ciência deve apresentar os contextos social, econômico e político no qual a atividade científica está inserida, também traz problemas, de acordo com o professor espanhol. Ao apontar possíveis redes de interesses por trás de cada pesquisa, o modelo estimula um ceticismo exacerbado e propicia visões conspiratórias da ciência.

Como exemplo, citou o tema “alimentos transgênicos”, que suscitaria reações contrárias de pessoas que associam qualquer discurso favorável a técnicas de manipulação genética aos interesses de grandes corporações internacionais.

A proposta de Quintanilla é o modelo de Perspectiva Cívica, o qual tem por finalidade fortalecer a prática da cidadania ao suscitar no indivíduo a responsabilidade pela ciência que é produzida em seu país. Para tanto, é necessário que se conheçam as características intrínsecas da atividade científica e se saiba como esse tipo de conhecimento é produzido.

Como as outras duas teorias, essa proposição também tem problemas, como o efeito chamado “ciência na vitrine”, no qual ela é tratada como mercadoria de luxo a ser vendida pelas regras do mercado. Para Quintanilla, o conhecimento científico é um luxo, mas que deve ser colocado ao alcance de todos. “Devemos difundir, não vender esse conhecimento aos moldes do marketing”, afirmou.

Diferentemente do modelo de Déficit, que apresenta a informação científica como uma cascata que vem dos pontos mais altos (os cientistas) para atingir os vales (os leigos), a Perspectiva Cívica ensina a divulgação horizontal da ciência por meio da difusão por publicações jornalísticas, clubes de ciência, museus e escolas, entre outros. Para isso, a ciência tem que ser passada como uma ilustração da realidade que não deve ser deformada, mas representá-la de modo fiel.

“A ciência não contém todos os elementos da realidade, mas, assim como um mapa de uma cidade, reproduz com fidelidade alguns aspectos dessa realidade. Nós, divulgadores da ciência, devemos ser capazes de fazer bons mapas do conhecimento científico”, disse.

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COMENTÁRIO DESTE BLOGGER:

Mira, yo creo que Quintanilla lê este blog en España: "a ciência tem que ser passada como uma ilustração da realidade que não deve ser deformada, mas representá-la de modo fiel"...