Eberlin (Academia Brasileira de Ciências) vs Pena (Academia Brasileira de Ciências): o design é real ou ilusório?

sábado, outubro 24, 2009

Dr. Marcos Nogueira Eberlin, UNICAMP, na qual coordena o Laboratório ThoMSon de Espectrometria de Massas, (vide pequena biografia) é Membro da Academia Brasileira de Ciências (2002) e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico (2005). É vice-presidente da Sociedade Brasileira (BrMASS) e presidente da Sociedade Internacional de Espectrometria de Massas (IMSS). Orientou varios mestres, doutores e pos-doutores e já publicou cerca de 350 artigos científicos (2008) em áreas diversas da Química e Bioquímica, e Ciências dos Alimentos, Farmaceutica e dos Materiais. O Dr. Eberlin é membro do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente, Campinas, SP.

CONTRA

Dr. Sérgio Danilo Junho Pena é Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq - Nível 1A. Formado em Medicina pela Faculdade de Medicina (1970). Fez Doutorado no Department of Human Genetics da University of Manitoba, Canadá (1977) e Pós-Doutorado no Institute for Medical Research em Mill Hill, Londres. Atualmente é Professor Titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais e Diretor Científico do GENE - Núcleo de Genética Médica de Minas Gerais. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências, Academia Mineira de Medicina e Academia Mineira de Pediatria. Tem experiência na área de Genética, com ênfase em Genética Humana e Médica, atuando principalmente nos seguintes temas: diversidade genômica e evolução humana, formação e estrutura da população brasileira e aplicação de testes baseados na PCR para diagnóstico de doenças humanas.

O Dr. Sérgio Danilo Junho Pena, membro da Academia Brasileira de Ciências, escreveu o artigo "Evolução e religião" no Ciência Hoje On-Line de 09/10/2009>

O Dr. Marcos Eberlin, também membro da Academia Brasileira de Ciências, solicitou a Bernardo Esteves, editor executivo do Ciência Hoje On-Line, espaço para replicar o artigo de Pena. Esteves respondeu que o teor do artigo (réplica) não faz parte da linha editorial do CH On-Line.

Como aqui neste blog a linha editorial é seguir as evidências aonde elas forem dar, eu publiquei o artigo do Dr. Sérgio Danilo Junho Pena, e publico abaixo a réplica do Dr. Marcos Nogueira Eberlin, por acreditar na livre circulação de ideias, coisa rara hoje em dia no meio acadêmico brasileiro devido ao 'estrangulamento' de críticos e oponentes dos atuais paradigmas sobre a origem e evolução do universo e da vida.

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Os argumentos da TDI emanam da Ignorância medieval e religiosa!
Marcos Nogueira Eberlin


Raios, trovões e tempestades como fúria de deuses, doenças causadas por espíritos, são dois clássicos “arguments from ignorance”. Estes fatos históricos de erros de interpretação humana que emanaram da ignorância e apelaram sim para o Design são, frequentemente e incorretamente, invocados contra a TDI. Mas estes exemplos não podem ser imputados a cientistas ou a Ciência ou utilizados para atrelar ignorância ao Design Inteligente.

A ciência mostra vários exemplos de “arguments from ignorance” que levaram ao estabelecimento de paradigmas equivocados perpetuados por longos períodos e que invocaram, não o Design, mas a ação exclusiva das Forças Naturais.

Assim, “arguments from ignorance” são compartilhados pelas duas causas: Design e Forças Naturais. Newton, um dos pais da Ciência, entre seus inúmeros acertos e contribuições ao conhecimento humano, é autor da celebre alusão à intervenção divina para estabilizar o universo. Quase certo hoje estamos, foi um erro de interpretação pelo Design. Mas e a geração espontânea, por exemplo? Um argumento naturalista sobre a origem da Vida, que invocou as Forças Naturais como a Causa Primeira, e se tornou um quase consenso científico por volta do século 19. O flogístico, o éter, o DNA lixo, são teorias científicas baseadas na ação de Forças Naturais e que demonstram que, humanos que somos, erramos, e às vezes insistimos em nossos erros ao ponto de perpetuá-los por gerações.

Um exemplo recente, e muito ilustrativo, do retardo ao avanço científico que estas falhas de interpretação podem causar é o do DNA lixo. Por décadas considerado “acúmulo de lixo evolutivo”, de erros causado pela ação acéfala e cega da evolução e, portanto, parte imprestável de nosso DNA, foi recentemente reconhecido como talvez sua parte mais fundamental, onde o projeto da Vida, e não seus blocos de construção, está perpetuado. DNA lixo não é lixo não, mas informação da mais alta qualidade. Na realidade, meta-informação, o manual de uso dos genes. E veja que um manual é nada sem o material, e vice-versa. Isto sim é prova cientifica, prova de design. Fato não é boato!

Foi também a impressão errônea, quando observada em microscópios quase medievais, de uma simplicidade extrema para a célula,“a globe of protoplasm”, que levou cientistas, no obscurantismo do desconhecimento, a imaginar que a Vida tinha como unidade básica uma “sacola de moléculas” , um “simple little lump of albuminious combination of carbon”. E que assim o surgimento da Vida a partir de uma sopa primordial rudimentar, formada por "raios" ou em regiões escaldantes “ricas” em nutrientes orgânicos e inorgânicos, não seria assim tão improvável, desde que, por sorte, um pequeno RNA auto-replicador encapsulado por uma membrana rudimentar, pudesse se formar e sobreviver alguns minutos para catalisar algumas reações úteis.

Mas o que mostra os mais recentes conhecimentos genéticos sobre o nível basal da Vida? Foi o obscurantismo do conhecimento fisiológico que levou a proposta que de a visão, que atinge um de seus ápice no olho humano, se originou de “...just a patch of light-sensitive cells” . Mas o que mostra hoje o mais refinado conhecimento químico e bioquímico sobre o mecanismo nada rudimentar de visão, “just a patch”?

Felizmente então, o refinamento do conhecimento científico, e a corajosa posição de vozes que ousam desafiar “o paradigma” e a seguir os dados onde quer que eles nos levem, tem ajustado a Ciência na busca, sem pré-conceitos e restrições filosóficas, do conhecimento pleno, eliminando seus erros de interpretação, e re-estabelecendo a causa correta, seja ela o Design ou as Forças Naturais. A TDI, ao assumir o Design, se rende assim a esta causa primeira, pela força tremenda e imperiosa de argumentos que emanam dos mais recentes dados científicos sobre a Vida. Pela constatação de que conhecemos somente uma Vera Causa de informação especificada: a ação proposital de uma mente inteligente!

Mas onde estão as publicações das descobertas da TDI? A TDI não precisa então gerar novos dados, publicar novos papers, e em revistas científicas de renome. Pois se quisesse não nos deixariam, tente interpretar seus dados sob a perspectiva do Design Inteligente e publicar o paper! Mas publicações existem em livros, e são muitos. Mas a literatura científica existente já é farta, e a TDI se baseia nos mesmíssimos dados científicos que são publicados a cada dia, e que a cada dia nos trazem mais evidências de inteligência, de informação na Vida e no Universo.

Dados mostrando que a unidade básica da Vida, a Célula, se constitui em uma cidade automatizada de altíssima tecnologia, que se sustenta pela ação conjunta, sincronizada e automatizada de inúmeras máquinas moleculares de altíssima complexidade irredutível (que não se pode reduzir ou simplificar) e em processos que tem em si embutidos uma inteligência extraordinária, que foi utilizada para controlar todos estes processos por uma quantidade absurdamente estonteante de informação contida no DNA, nos lipídeos, nos hormônios, e em tantos outros sinalizadores moleculares (Assista o Video 1, a palestra de David Bolinky The Wonders of a Tinny Cell).

A TDI usa então “arguments from knowldge, ultimate knowledge! Não é porque nossos conhecimentos se esgotaram e nos, frente ao desespero da ignorância, apelamos para a ação inteligente, não. Não acredite nesta prosa!

Foi porque a Ciência nos inundou com uma avalanche sem precedentes de conhecimento sobre a informação, inteligência e complexidade irredutível da Vida e do Universo que tivemos, pela força dos dados e nosso compromisso em segui-los, que fizemos a única inferência possível: Fomos intencionalmente planejados!

Veja na Figura 1 uma frase de Michael Behe que esclarece bem a posição da TDI como "argument from knowledge"!

Note que, frente à dificuldade de apresentar mecanismos convincentes baseados em dados brutos de como estas máquinas poderiam ter como causa primeira as Forças Naturais (a outra opção frente ao Design), e não somente “enunciados retóricos de possibilidades elusivas” (...quando as condições foram adequadas partes foram co-optadas e passaram a colaborar mutuamente...), os naturalistas tem preenchidos seus “gaps de conhecimento” com a promessa de explicações naturalistas baseados em dados que ainda estão por ser descobertos, teorias ainda a ser elaboradas, que certamente surgirão, no futuro, com o avanço do conhecimento científico.

É o argumento "Not Yet". Mas é bem aqui que a “porca torce o rabo”: à medida que o conhecimento científico avança, o “gap naturalista” se expande cada vez mais, fica mais e mais largo, cresce exponencialmente, e as explicações ficam cada vez mais escassas, cada vez mais difíceis de elaborar, postergadas para um futuro ainda mais distante.

Enquanto que o Design cada vez se fortalece mais, a cada avanço científico. Os “arguments from ultimate knowledge” da TDI se baseiam, para dar alguns exemplos, na bilionésima imensidade de informação codifica armazenada no DNA e transcrita no RNA e suas quatro bases. Em seu código 4 x 3 de máxima inteligência e eficiência em transmissão e acúmulo de informação. Na condensação absolutamente brilhante e absurdamente inteligente de informação através do “alternate splicing (várias combinações de palavras de um mesmo poema genético gerando vários) ou do “genetic overlapping” (verdadeiro código secreto com 3 poemas camuflados em um só), que permitem ao nosso genoma de cerca de 35 mil genes expressar mais de 1 milhão de proteínas.

Das seqüências repetitivas de bases formando o “DNA lixo” para orquestrar o projeto de construção dos órgãos macroscópicos que compõem os seres vivos. Informação e inteligência, conhecimento prévio dos objetivos finais, padrões e assinaturas visíveis, por exemplo, no flagelo (o nanomotor mais espetacular e eficiente deste universo),na cília, na concepção humana bi-sexuada, em máquinas moleculares inimagináveis mesmo em exercícios máximos de ficção cientifica.

Como exemplifica também a kinesina, um verdadeiro “nano Papai Noel”, um espetáculo sem igual de nano-engenharia, que com suas mãos e pernas moleculares caminha pelas rodovias celulares a entregar suas encomendas, seus sacos de presentes, nos endereços corretos. Como a aquaporina, alicate molecular que corta com extrema inteligência química, no exato momento e na exata posição, o fio de prótons, para que passa água (o incrível líquido da Vida) e se retenham os prótons. Informação de vanguarda que emana dos genomas dos organismos vivos, que desmonta a tese que postulou um dia ser a Vida possível de se sustentar com uma arquitetura rudimentar através de processos não guiados, indiferentes, cegos.

A Vida, mesmo na formas que mais aparentam simplicidade, conhecidas neste planeta em toda a sua história, depende de uma ação conjunta de um verdadeiro arsenal sincronizado, integrado e inteligente de membranas celulares, milhares de proteínas e seus complexos, e ácidos nucléicos imensos, e toda uma maquinaria a sintetizá-los, consertá-los, moldá-los e endereçá-los, e defendê-los. O maior dilema “ovos-galinha” conhecido, membrana, DNA, lipídeos, carboidratos e proteínas, nanomáquinas moleculares!

Sinais de inteligência? Ou ignorância medieval obscurantista de fanáticos religiosos “invocando” Design por pura preguiça intelectual? Exauridos as nossas capacidades de entendimento apelamos então para um Designer? Mais Inteligente que a gente?

Mas muitos têm insistido, por não conhecer seus pressupostos, em desqualificar a TDI como "um apelo a ignorância", e muitos também têm assinado embaixo. Veja o que disse o astrofísico Neil deGrasse Tyson1 sobre a TDI (texto abaixo). Esta é a tática! Descaracterizar a TDI, difamá-la, ao classificá-la como ignorância e descaracterizá-la como um "casamento com a ignorância".

Mas quem disse que a TDI conclui sobre uma causa inteligente agindo na origem da Vida e do Universo através da percepção de que não sabemos entendê-la ou explicá-la? Quem disse que foi uma inteligência maior? Quem quantificou as duas inteligências? Tyson? Ninguém, absolutamente ninguém da TDI nunca disse isto! São palavras colocadas por Tyson em nossa boca, são interpretações ad hoc de Tyson feitas com o propósito claro do descrédito! Foi uma mordida de Tyson na orelha da TDI procurando arrancar um pedaço!

Foi usando a Ciência em sua essência, os seus dados científicos mais recentes e relevantes que a TDI fez esta opção! Foi utilizando métodos de detecção de Design consolidados pela própria Ciência que a TDI chegou a conclusão, inevitável, imperiosa, de que a imensidade da Informação, da Inteligência e da Complexidade Irredutível (do Flagelo, cuja complexidade de montagem, constituição e funcionamento conhecemos e entendemos muitíssimo bem, obrigado!) que nos levam a concluir, pela absoluto compromisso que a TDI tem com o conhecimento pleno e a liberdade plena de fazer Ciência, e pelo respeito que temos não à filosofias, mas pelos fatos, e não boatos, que nos levam a optar, de forma racional e inteligente, pelo Design Inteligente!

Uma opção racional e inteligente, seguindo a única regra científica: Siga os Dados!

"...Another practice that isn't science is embracing ignorance. Yet it's fundamental to the philosophy of intelligent design: I don't know what this is. I don't know how it works. It's too complicated for me to figure out. It's too complicated for any human being to figure out. So it must be the product of a higher intelligence... Science is a philosophy of discovery. Intelligent design is a philosophy of ignorance. You cannot build a program of discovery on the assumption that nobody is smart enough to figure out the answer to a problem..." [1]

"...Outra prática que não é Ciência é a de abraçarmos a ignorância. Mesmo assim esta prática é fundamental na filosofia da TDI: Eu não sei o que isto é. Eu não sei como isto funciona. É complicado demais para que eu possa descobrir. É complicado demais para que qualquer ser humano descubra. Então isto tem que ser o produto de uma inteligência maior... A Ciência é a filosofia da descoberta. A TDI é uma filosofia da ignorância. Não podemos construir um programa de descoberta assumindo que ninguém é inteligente o suficiente para descobrir o problema."

Parafraseando então Tyson:

"A Ciência é uma filosofia de descoberta. A TDI também! De descobertas, feitas livre de pré-conceitos que nos dizem como e o que devemos descobrir, como se não fomos inteligentes suficientes para chegarmos nós mesmos a conclusão correta! Ninguém pode construir um programa de descoberta assumindo que não somos inteligentes o suficiente para descobrir outra causa senão aquela pré-definida, e que todos os que descobrem outra são ignorantes."

NOTA

1. The Perimeter of Ignorance. A boundary where scientists face a choice: invoke a deity or continue the quest for knowledge. Neil deGrasse Tyson, The Official Website (Director of the Hayden Planetarium at the American Museum of Natural History).