Das árvores para o chão

terça-feira, agosto 11, 2009

Das árvores para o chão
11/8/2009

Agência FAPESP – Um novo estudo, feito a partir da análise detalhada de ossos de diversas espécies de primatas, reforça a noção de que a característica humana de andar com duas pernas evoluiu a partir de ancestrais que viviam em árvores e não no chão.

A pesquisa, feita por cientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, também indica que a forma de andar sobre os nós dos dedos, comum aos primatas quadrúpedes, evoluiu principalmente em pelo menos dois momentos distintos, distinguindo gorilas de chimpanzés e bonobos.

O trabalho, feito por Daniel Schmitt, professor de antropologia evolucionária, e sua orientanda de pós-doutorado Tracy Kivell, será publicado esta semana no site e em breve na edição impressa da revista Proceedings of the National Academy of Sciences.


Estudo com primatas conclui que o bipedalismo humano tem origem em um ancestral que preferia as árvores a se deslocar no solo de forma semelhante à empregada pelos gorilas (foto: divulgação)

O debate sobre a origem do bipedalismo humano vem desde a época de Charles Darwin, dividindo os cientistas da área na defesa de dois modelos distintos.

O primeiro, explicam os autores, estima que o ancestral pré-humano se deslocava sobre os nós dos dedos, “comportamento frequentemente usado pelos nossos parentes vivos mais próximos, os primatas africanos”. O segundo modelo defende que o bipedalismo começou nas árvores, com o ancestral humano posteriormente passando a andar no chão.

Os defensores do primeiro modelo apontam que tanto o homem como os primatas africanos evoluíram a partir de um ancestral que caminhava com os nós dos dedos. Essa conexão, afirmam, ainda estaria evidente em característas dos ossos dos pulsos e das mãos compartilhadas por primatas africanos e pelo homem moderno e seus antecedentes imediatos.

Mas Tracy Kivell observou o contrário ao comparar ossos dos pulsos de exemplares jovens e adultos de chimpanzés e bonobos, os primatas atuais mais próximos do homem, com os de gorilas.

Características fundamentais associadas com o andar sobre os nós dos dedos estavam presentes em apenas 6% dos exemplares de gorilas estudados. Mas as mesmas características foram identificadas em 96% dos chimpanzés adultos e em 76% dos bonobos. Foram analisados 91 exemplares de gorilas, 104 chimpanzés e 43 bonobos.

Para Tracy e Schmitt, uma explicação para a ausência de tais detalhes em gorilas seria o fato de que a forma de caminhar sobre os nós dos dedos nesses animais é diferente da verificada em chimpanzés e em bonobos. Esses dois últimos andam de modo mais flexível, com os pulsos em posição dobrada.

O fato de dobrar mais implica maior uso e desgaste nas respectivas juntas. Como resultado, os pulsos de bonobos e chimpanzés têm detalhes característicos ausentes em gorilas: pequenas concavidades que servem para parar os ossos e evitar que dobrem em demasia.

“Essa diferença saltou aos nossos olhos”, disse Schmitt. “Quando nos perguntamos o motivo dessa diferença a resposta foi clara: chimpanzés e bonobos passam muito tempo nas árvores e os gorilas não”.

Segundo os cientistas, o ancestral pré-humano passou um tempo nas árvores antes de preferir o solo e começar a caminhar com as duas pernas e de forma ereta, um dos maiores marcos na evolução do homem.

O artigo Independent evolution of knuckle-walking in African apes shows that humans did not evolve from a knuckle-walking ancestor, de Tracy Kivella e Daniel Schmitt, poderá ser lido em breve por assinantes da Pnas em www.pnas.org.

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Independent evolution of knuckle-walking in African apes shows that humans did not evolve from a knuckle-walking ancestor
Tracy L. Kivella,1,2 and Daniel Schmitta
+Author Affiliations

aDepartment of Evolutionary Anthropology, Duke University, P.O. Box 90383 Science Drive, Durham, NC 27708-0383
↵2Present address: Max Planck Institute for Evolutionary Anthropology, Department of Human Evolution, Deutscher Platz 6, D-04103 Leipzig, Germany.

Abstract

Despite decades of debate, it remains unclear whether human bipedalism evolved from a terrestrial knuckle-walking ancestor or from a more generalized, arboreal ape ancestor. Proponents of the knuckle-walking hypothesis focused on the wrist and hand to find morphological evidence of this behavior in the human fossil record. These studies, however, have not examined variation or development of purported knuckle-walking features in apes or other primates, data that are critical to resolution of this long-standing debate. Here we present novel data on the frequency and development of putative knuckle-walking features of the wrist in apes and monkeys. We use these data to test the hypothesis that all knuckle-walking apes share similar anatomical features and that these features can be used to reliably infer locomotor behavior in our extinct ancestors. Contrary to previous expectations, features long-assumed to indicate knuckle-walking behavior are not found in all African apes, show different developmental patterns across species, and are found in nonknuckle-walking primates as well. However, variation among African ape wrist morphology can be clearly explained if we accept the likely independent evolution of 2 fundamentally different biomechanical modes of knuckle-walking: an extended wrist posture in an arboreal environment (Pan) versus a neutral, columnar hand posture in a terrestrial environment (Gorilla). The presence of purported knuckle-walking features in the hominin wrist can thus be viewed as evidence of arboreality, not terrestriality, and provide evidence that human bipedalism evolved from a more arboreal ancestor occupying the ecological niche common to all living apes.

bipedalism development hominoid homoplasy wrist
Footnotes

1To whom correspondence should be addressed. E-mail: tracy.kivell@duke.edu

Author contributions: T.L.K. designed research; T.L.K. performed research; T.L.K. and D.S. analyzed data; and T.L.K. and D.S. wrote the paper.

Edited by Alan Walker, Pennsylvania State University, University Park, PA, and approved June 30, 2009

The authors declare no conflict of interest.

This article is a PNAS Direct Submission.

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PDF gratuito do artigo aqui.