“Dois minutos de ódio” contra o Design Inteligente e seus teóricos e proponentes

domingo, janeiro 27, 2008

Considerando-se alguns comentários impensados enunciados em palestras e artigos de cientistas membros da Nomenklatura científica, mais a atitude antagônica da Grande Mídia contra a teoria do Design Inteligente, seus teóricos e proponentes, eu remeto meus leitores para dois autores do século 20 bastante interessantes. Eu chamo atenção especial para o conceito de “dois minutos de ódio” que George Orwell retratou no seu famoso livro “1984”, e para o artigo “Return of the Hopeful Monster” [Retorno do monstro esperançoso] de Stephen Jay Gould que, coincidentemente, foi publicado em 1980.

Fala Gould: “Big Brother, o tirano do livro “1984” de George Orwell, dirigia o seu programa diário “Dois minutos de ódio” contra Emmanuel Goldstein, inimigo do povo. Já Richard Goldschmidt, famoso geneticista, que por suas posições evolutivas heterodoxas recebia advertência e escárnio oficiais.”

Pelo andar da carruagem, quando algumas críticas científicas sobre algumas teorias são objetos de censura, escárnio e perseguição pelo pensamento desviante, eu acho que o clima de “1984” é que insufla este comportamento irracional da Nomenklatura científica: Big Brother está no controle, e os de discurso desviante devem ser execrados e perseguidos, sem dó nem piedade epistêmica.

Gould tinha esperança que Goldschmidt fosse vindicado em grande parte no mundo da biologia evolutiva.

Continue falando Gould:

“Goldschmidt, um judeu refugiado da dizimação de Hitler da ciência alemã, passou o resto de sua carreira acadêmica em Berkeley, onde faleceu em 1958. Suas opiniões sobre a evolução bateram de frente com a grande síntese neodarwinistas forjada durante as décadas de 1930 e 1940, e continua hoje como reinante, se não insegura, ortodoxia.

Eu quero argumentar que os defensores da teoria sintética fizeram uma caricatura das idéias de Goldschmidt ao estabelecerem-no como o seu saco de pancadas. Eu não irei defender tudo que Goldschmidt disse; na verdade, eu discordo fundamentalmente de sua afirmação de que a macroevolução abrupta desacredita o darwinismo.”

O artigo de Gould merecido ser lido à luz de nossa realidade midiática tão subserviente da Nomenklatura científica. Há quase 30 anos Gould deu uma puxada de orelha num livro-texto de Biologia importante que enganosamente “expressa sua fidelidade à posição convencional” do Partido, oops da Nomenklatura científica.

No meio dessa nossa conversa séria e preocupante, sem mais nem menos, entra Orwell no meio, e contundente disse: “Goldstein estava fazendo o seu ataque venenoso costumeiro sobre as doutrinas do Partido — um ataque tão exagerado e perverso que uma criança seria capaz de compreendê-lo, e mesmo assim tão plausível bastante para encher alguém de sentimento alarmado que outras pessoas, menos criteriosas do que si mesmo, podem ser enganadas por isso. Ele estava ofendendo o BIG BROTHER, ele estava denunciando a ditadura do Partido, ele estava exigindo a conclusão imediata de paz com a Eurásia, ele estava defendendo a liberdade de expressão, liberdade da Imprensa, liberdade de reunião, liberdade de pensamento, ele estava clamando histericamente que a Revolução tinha sido traída...

Antes que o Ódio tivesse continuado por trinta segundos, exclamações de ódio incontroláveis estavam partindo da metade das pessoas que estavam na sala. O rosto tipo ovelha auto-satisfeita na tela, e o poder aterrorizante do exército eurasiano por detrás disso, eram demais para serem suportados: além da opinião ou até o pensamento de Goldstein produzia automaticamente medo e raiva...

Mas o que era estranho era que, embora Goldstein fosse odiado e desprezado por todos, ainda que cada dia e milhares de vezes ao dia, em plataformas, na telinha da televisão, em jornais, em livros, as suas teorias eram refutadas, estraçalhadas, ridicularizadas, mostradas para o olhar em geral pela desprezível tolice que elas eram — apesar de tudo isso, a sua influência nunca parecia diminuir. Sempre havia novos ingênuos esperando para serem seduzidos por ele.

Nunca passou um dia quando espiões e sabotadores agindo sob suas ordens não eram desmascarados pela Polícia de Pensamento. Ele era o comandante de um vasto exército desconhecido, uma rede subterrânea de conspiradores dedicados a derrubar o Estado...

No seu segundo minuto o Ódio atingiu um frenesi. As pessoas estavam pulando em seus lugares, e aos gritos mais altos num esforço de abafar o balir da voz enloquecedoura que vinha da tela da televisão... A coisa horrível sobre os Dois Minutos de Ódio não era que alguém fosse obrigado encenar uma parte, mas, ao contrário, que era impossível evitar não se juntar. Um êxtase hediondo de medo e vingança, um desejo de matar, de torturar, de estraçalhar violentamente os rostos com um martelo de forja, parecia fluir através de todo grupo de pessoas como uma corrente elétrica, transformando alguém até mesmo contra a sua vontade em um lunático fazendo caretas e dando gritos estridentes...”

Poxa, Gould, Orwell, como é que vocês e o Enézio conseguem ver nitidamente as ações do establishment científico, oops da Nomenklatura científica, como análogas ao Big Brother? E das reações irracionais dos meninos e meninas da galera de Darwin na internet contra os de discurso heterodoxos? Orwell, será que o seu personagem Emmanuel Goldstein, não se parece muito com o Michael Behe e o movimento vil e perigoso do Design Inteligente?

Se a frase “estraçalhar violentamente os rostos com um martelo de forja” lhe pareça familiar, talvez você esteja se lembrando do que P. Z. Myers, do blog Pharyngula [1] disse: chegou a hora de os darwinistas baterem nos críticos de Darwin, sem dó nem piedade, com os bicos metálicos de suas botas...

É, Orwell, eu acho que vou mudar meu nome para Enézio Goldstein...

NOTA:

1. O blog do P. Z. Myers foi considerado o blog # 1 de ciência no mundo, e recebeu elogios de publicações científicas e destaque na seção de ciências da Folha de São Paulo.

+++++

Blog visto sobre os ombros de um gigante que me indicou as leituras.