Os limites do neo-ateísmo pós-moderno, chique, perfumado, fundamentalista e beligerante

domingo, agosto 19, 2007

Você já viu a recente onda de livros promovendo o neo-ateísmo pós-moderno, chique e perfumado? O movimento tem em Richard Dawkins o seu maior expoente. Eu alerto aqui os leitores que este é um movimento secularista fundamentalista e beligerante porque deseja “extirpar” da face da Terra todos os deuses e seus seguidores. Esses neo-ateus seguem literalmente o seguinte dogma: “Deus não existe. Eu odeio a Deus. Eu odeio os crentes.”

Interessante, eles escrevem preocupados com os que se opõem ao darwinismo, mesmo que suas objeções sejam científicas. Eles vão invocar o direito de liberdade de expressão, mas no Brasil o “apparatchik” desses intelectuais neobarbarizados está instalado na Nomenklatura científica e entre os formadores de opinião da Grande Mídia tupiniquim, onde a maioria dos editores e jornalistas é composta por ateus, agnósticos, céticos e quejandos.

Eles são liberais tão-somente em relação aos seus dogmas. “Os outros, o contraditório, ora, os outros e os contraditórios que se danem. Somente nós possuímos a verdade.” Esta turma está precisando aprender um pouco de liberdade de opinião e expressão com Voltaire, o patrono dos verdadeiramente céticos. Vide a I Jornada de Defesa do Pensamento Científico, promovido pelo Instituto de Geociência da USP e da Sociedade Brasileira de Céticos e Racionalistas.

Eu já fui ateu, marxista-leninista, materialista, e sei muito bem como que tudo isso pode terminar. Começa timidamente, com um punhado de atores insignificantes, ganha corpo representativo, atraí adeptos, instala-se no poder temporal, e aí a História que não me deixa mentir mostra que esse tipo de gente, raríssimas exceções, são genocidas em potencial e na prática: 100 milhões de mortos no século 20 (Hitler, Lenin, Stalin, Pol Pot, Fidel Castro, Che Guevara). Mas a Grande Mídia tupiniquim mesmerizada, não consegue enxergar mal nisso...

Por defender uma teoria que se opõe, parcialmente, ao darwinismo, sou suspeito em escrever sobre isso, mas traduzo e publico aqui o artigo de David Warren, que saiu no jornal canadense The Ottawa Citizen, em 12 de agosto de 2007:

Os limites do ateísmo

Eu recebo cartas acaloradas sempre que escrevo sobre o “evolucionismo”, que eu realmente não consigo resistir em escrever novamente sobre o evolucionismo. Claro que isso não é para aporrinhar tais correspondentes. Pereça tal pensamento. Em vez disso, quando um escritor descobre que ele atingiu tal nervo, ele também pode saber que está se aproximando de uma grande verdade.

Neste caso, nós devemos nos perguntar por que tantas pessoas ficam tão excitadas sobre uma área da ciência que não deveria preocupá-los. Pois a maioria desses correspondentes sabe pouco de ciência preciosa, e não têm o vigor de se envolverem em discussão detalhada. Elas simplesmente estão chocadas e horrorizadas que alguém sonharia desafiar o que elas acreditam ser o consenso de “especialistas qualificados”, a quem eles assumem ser campo fechado de materialistas obstinados, sem tempo para incursões religiosas ou poéticas.

A resposta para esta pergunta é bastante clara. As pessoas que nada têm a perder numa controvérsia prestam pouca ou nenhuma atenção a isso. Dificilmente elas se irritarão pelas afirmações de um partido ou outro, quando o resultado da controvérsia não toca suas vidas. Antes, é quando uma pessoa tem algo a perder, que ele/ela começa a se importar.

Resulta que a maioria dos meus acalorados correspondentes tem algo a perder nas controvérsias sobre a evolução. Eles se imaginam tendo um interesse impessoal em defender a ciência contra “a superstição religiosa”, e os perigos para a sociedade que a última possa apresentar. Eles têm na verdade suas crenças religiosas fortes e que não podem ser comprometidas, que eles relutam verem ser questionadas.

Muito da atmosfera de “inquisição” que tem acompanhado a vigilância pública de biólogos [sic] como Michael J. Behe [Nota deste blogger 1: Behe é bioquímico], e outros cientistas muito bem qualificados trabalhando com questões de design intencional em sistemas naturais, somente pode ser explicado desta maneira. O establishment [científico] quer que tal pesquisa seja parada porque ela desafia a ordem religiosa recebida do materialismo ateu. Qualquer tentativa, ou suspeita de tentativa, que reconheça Deus em anais científicos [Nota deste blogger 2: a TDI não se propõe a isso, apenas que sinais de inteligência podem ser detectados na natureza], deve ser exposto e punido com todo o rigor da lei; ou por outros meios cruéis onde a lei não seja suficiente.

Para ser justo, alguns clérigos da Igreja Católica romana uma vez ficaram descontentes com certas especulações cosmológicas de Galileu Galilei [Nota deste blogger 3: Galileu foi condenado não por especulações cosmológicas, mas por ser contrário ao aristotelianismo, visão filosófica dominante no pensamento católico de então], e clérigos protestantes bíblico-literalistas com a direção que Charles Darwin parecia estar indo — embora em nenhum dos casos foi feito o mínimo esforço para suprimir a pesquisa em questão. Mas como nós descobrimos no século 20, o materialismo ateu é vastamente mais sensível à heresia do que qualquer ortodoxia religiosa previamente conhecida — conforme testemunham mais de 100 milhões de cadáveres que criou para impor a sua vontade doutrinária.

Enquanto isso, o edifício oficial do materialismo ateu desmorona sob a pressão da pesquisa científica objetiva. O livro recente de Behe, The Edge of Evolution: The Search for the Limits of Darwinism, faz um bom trabalho de pesquisar as três escoras de ferro com as quais o darwinismo estava soldado: mutação aleatória, seleção natural, e ancestral comum. Ele é capaz de deixar em pé somente esta última escora.

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COMENTÁRIO IMPERTINENTE DESTE BLOGGER:

É muita ironia. A I Jornada de Defesa do Pensamento Científico tem a suposta chancela do Instituto de Geociências da USP. Ué, mas é justamente nesta área que a teoria de Darwin não se corrobora. Alô Stephen Jay Gould, onde você estiver, você precisa "baixar" [Os meus amigos espíritas que me perdoem] nesta conferência e dizer o que você e o Eldredge viram no registro fóssil que os levou a criar a teoria do equilíbrio pontuado. Uai, por que não foram buscar o aval do Instituto de Biologia para este evento???