As “predições” evolutivas sob o crivo do falsificacionismo de Popper

quarta-feira, maio 02, 2007

O texto a seguir é baseado em dois trechos da longa resenha “M is for messy” [M significa confusão] de Martin Gardner, dos livros de Lee Smolin, The Trouble with Physics: The Rise of String Theory, the Fall of a Science, What Comes Next [O problema com a Física: a ascensão da teoria das cordas, a queda da ciência, e o que vem depois], Houghton Mifflin, 392 pages, $26.00 e o de Peter Woit, Not Even Wrong: The Failure of String Theory and the Search for Unity in Physical Law [Nem errado é: o insucesso da teoria das cordas e a busca da unidade na lei da Física], Basic Books, 291 pages, $26.95.

“Por anos, Lee Smolin acompanhou a turma da teoria das cordas. Após lecionar em Yale e na Universidade Estadual da Pensilvânia, ele se tornou um pesquisador no Institute for Theoretical Physics [Instituto de Física Teórica em Waterloo, Canadá, um centro ‘think tank’ que ele ajudou a fundar. O seu terceiro livro The Trouble with Physics [O problema com a Física] é uma poderosa acusação. Ele considera a teoria das cordas não como uma teoria − somente uma série de conjecturas curiosas em busca de uma teoria. Verdade, a teoria das cordas tem um grande poder explicativo, mas uma teoria viável tem que ter mais do que isso. Ela deve fazer predições que podem ser falsificadas ou confirmadas.”

Alguém poderia dizer do mesmo modo: “Ele considera a teoria da evolução não como uma teoria − “somente uma série de conjecturas curiosas em busca de uma teoria. Verdade, a teoria da evolução tem um grande poder explicativo, mas uma teoria viável tem que ter mais do que isso. Ela deve fazer predições que podem ser falsificadas ou confirmadas.”

No encerramento da V Sao Paulo Research Conference, 18-20 de maio de 2006, no auditório da Faculdade de Medicina, o dr. José Mariano Amabis, professor-doutor do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da USP disse: “Toda crítica à evolução é uma crítica à ciência.” Educada, mas corajosamente ousei discordar publicamente do eminente mestre: “Dr. Amabis, quando o sr. afirma isso, é uma tentativa de blindar a teoria da evolução de críticas. Nem toda crítica à teoria da evolução é uma crítica à ciência.”. Ele corrigiu o enunciado.

Contudo, num capítulo sobre sociologia, Smolin introduziu o conceito de “pensamento grupal” − a tendência dos grupos de partilharem uma ideologia. E o que há de negativo nisso? É que uma atmosfera tipo “culto” onde os que discordam com a ideologia são considerados ignorantes ou loucos. Segundo Smolin, os proponentes da teoria das cordas se tornaram “pensadores grupais”, cegos à possibilidade de que eles desperdiçaram tempo e energia em especulações bizarras que estão levando a lugar nenhum.

Substitua “proponentes da teoria das cordas” por outra teoria bem conhecida, e não haverá muita diferença. Qualquer semelhança não é mera coincidência, é fato mesmo!

Uma sugestão para a Hágio-Exposição sobre Darwin que começa neste dia 4 em São Paulo: listar e apresentar ao público uma série de predições que podem ser falsificadas ou confirmadas. Comecemos com uma bem simples: a ancestralidade comum. Outra, ainda mais simples: qual o mecanismo evolutivo responsável pela complexidade e diversidade da vida, e como podemos detectá-lo nos genomas das espécies.

Não vale “just-so stories” [estórias da carochinha], mas “hard science”. Afinal de contas, se Darwin realmente já nos explicou “o mistério da vida”, então EMPIRICA, EMPIRICE TRATANDA [As coisas empíricas, são empiricamente consideradas]. Nem mais, nem menos! Nada de desculpas. Ou notas promissórias epistemológicas.

Em que pese a contribuição de Darwin para o nosso entendimento do Mysterium tremendum, mínima considerando-se o estágio da ciência no século 21, a explicação científica sobre a complexa origem e evolução da vida apenas começou, e apesar dos "pensadores grupais", Darwin não tem a palavra final...

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M is for messy

By Martin Gardner | Volume 25, April 2007

Lee Smolin, The Trouble with Physics: The Rise of String Theory, the Fall of a Science, and What Comes Next, Houghton Mifflin, 392 pages, $26

Peter Woit, Not Even Wrong: The Failure of String Theory and the Search for Unity in Physical Law, [Basic Books, 291 pages, $26.95]

For more than thirty years, string theory has been what Murray Gell-Mann called "the only game in town." By this he meant that it was the only good candidate for a TOE, or Theory of Everything. Not only does it claim to unify relativity and quantum mechanics, it also explains the existence of all fundamental particles. Instead of being "pointlike," they are modeled by filaments of energy so tiny that there is no known way to observe them or even to prove they are real.

A string can have two ends or be closed like a rubber band. Of great tensile strength, strings vibrate at different frequencies. They live in a space of ten or eleven dimensions, of which six or seven are "compacted" into inconceivably minute structures attached to every point in our four-dimensional spacetime. The simplest vibration of a closed string produces a graviton, the quantized particle of gravity. One of string theory's earliest triumphs was forcing the reality of gravitons.

After an obscure, bumbling start, string theory slowly began to gain momentum until it became the hottest topic in physics. Thousands of papers were published and thick textbooks written. The fastest way to advance in departments of great universities was to work on strings. Richard Feynman and Sheldon Glashow were almost alone among famous physicists who were skeptical of the trend. Not until a few years ago did skepticism begin to surge. Simmering doubts reached a boiling point last September when two eminent physicists published slashing attacks on string theory. Their books may mark a dramatic turning point in the history of modern physics.

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