Pesquisas sobre a origem da vida: é correr atrás do vento?

terça-feira, abril 17, 2007

O Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, em sua sede na capital paulista, inaugurou no dia 9 de dezembro de 2006 a exposição “Origem da Vida” que ficará em cartaz até o dia 30 de junho de 2007.
O boletim Agência FAPESP DE 08/12/2006 afirmou que a mostra terá dois segmentos: o primeiro apresenta a estrutura atômica da matéria, a história do Universo e da Terra, e o outro segmento aborda os seres vivos, com características do DNA e dos mecanismos genéticos que possibilitam a diversificação da vida.

Segundo o boletim eletrônico da FAPESP, a exposição apresenta os primeiros seres vivos, bactérias que surgiram há mais de 3,5 bilhões de anos. Há indicações sobre a diversificação da vida, de unicelulares a multicelulares, e dos primeiros animais que surgiram na Terra, há mais de 500 milhões de anos.

Mais informações aqui.

Bem, eu ainda não tive a oportunidade de visitar esta exposição. Não posso tecer comentários sobre ela, mas eu tenho aqui sempre criticado as insuficiências epistêmicas das teorias de Oparin-Haldane e a experiência de Urey-Miller que nós não vemos nessas exposições, e nem na Grande Mídia.

Recentemente Jeffrey Bada tentou “ressuscitar” a experiência de Urey-Miller. Achei interessante o blog de meu amigo MikeGene [pseudônimo para protegê-lo da inquisição sem fogueiras da Nomenklatura científica americana. Sei do que estou falando.] sobre esta nova tentativa de lançar luz sobre a origem da vida.



por MikeGene

Recentemente, o pesquisador de origem da vida Jeffrey Bada foi capaz de replicar a famosa experiência de Urey-Miller que demonstrava a síntese não biótica de diversos aminoácidos. Da minha perspectiva, o ceticismo da abiogênese nunca foi significativamente devido à irrelevância do experimento de Urey-Miller, pois eu sempre quis aquiescer à produção abiogenética de monômeros. Mas, ao ler este relato, três coisas se destacam.

Em primeiro lugar, o que diz sobre a utilidade do paradigma de pesquisa da origem da vida quando a replicação de uma experiência de 54 anos (se bem que com pequenas modificações) é considerada “novidade” pela revista Scientific American? Você pensaria que após 50 anos de pesquisa, a origem dos monômeros (uma parte simples da história) já tivesse sido resolvida há muito tempo. Mas então novamente, talvez seja apenas eu.

Em segundo lugar, repare esta parte do artigo da SciAm:

“Mas quando os resultados de Miller-Urey foram questionados mais tarde: resultou que os gases que ele usou (uma mistura reativa de metano e amônia) não existiam em grandes quantidades na Terra primitiva. Os cientistas agora acreditam que a atmosfera primeva continha uma mistura inerte de dióxido de carbono e nitrogênio — uma mudança que fez um mundo de diferença.

Quando Miller repetiu a experiência usando a combinação correta em 1983, o caldo marrom não se materializou. Em vez disso, a mistura criou um caldo incolor contendo alguns aminoácidos. Isso parecia refutar um ícone da evolução [SIC ULTRA PLUS, obrigado Jonathan Wells] há muito tratado com carinho — e os criacionistas rapidamente se apossaram dele como uma suposta evidência das fundações inseguras da evolução.”

Alguns anos atrás, eu me lembro deste mesmo ponto sendo argumentado pelo pessoal do Design Inteligente e seus críticos. Na resposta, os proponentes da abiogênese usaram o PubMed para descobrirem artigos obscuros que sugeriam o contrário, e assim declararam que isso não era um verdadeiro problema. Mas se aqueles artigos eram relevantes, então por que um especialista em origem da vida os ignorou e se deu ao trabalho de ressuscitar o experimento de Miller-Urey?

Em terceiro lugar, considere o que Bada fez:

“Bada descobriu que as reações estavam produzindo substâncias químicas chamadas nitritos, que destroem os aminoácidos tão rapidamente quanto eles são formados. Eles também estavam impedindo que a água se tornasse ácida — o que impede a formação dos aminoácidos. Mesmo assim, a Terra primitiva conteria ferro e minerais carbonados que neutralizaram os nitritos e os ácidos. Assim, Bada adicionou substâncias químicas ao experimento para duplicar essas funções. Quando ele repetiu o experimento, ele ainda conseguiu o mesmo líquido aquoso que Miller obteve em 1983, mas desta vez foi abarrotado de aminoácidos. Bada apresentou seus resultados esta semana no encontro anual da Sociedade Americana de Química em Chicago.”

Novamente, o que isso diz sobre o status da pesquisa da Origem da Vida se levaria mais de 50 anos para tomar conhecimento disso? Parece que os pesquisadores da Origem da Vida fazem esforços mínimos para determinar se as suas condições de reação são todas realistas do ponto de vista geológico.

E aqui, alguém tem a distinta impressão que este experimento é efetivamente guiado de acordo com um fim especificado. Resulta igual a um cientista social tentando cuidadosamente entender por que uma certa pesquisa de opinião falhou em dar os resultados desejados, e depois volta para distorcer a pesquisa de opinião a fim de dar os resultados desejados.

Não seria melhor que os pesquisadores tentarem primeiro aproximar quais as condições químicas da Terra primitiva poderiam ter parecido e depois testar os coquetéis de potenciais abiogenéticos?

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Fui, pensando que assisti parte de minha vida aos pesquisadores da origem da vida correndo atrás do vento, e ainda estamos confrontados por este Mysterium tremendum que não se deixa desvelar somente através do acaso, necessidade e leis naturais!