Medicina mortífera: uma história intencionalmente esquecida de Darwin sobre a eugenia

terça-feira, abril 24, 2007

Eu tenho uma colega na pós-graduação escrevendo dissertação sobre a eugenia no Brasil. Outro dia perguntei novamente para ela: “Na sua pesquisa, você conseguiu descobrir se a eugenia foi uma política de Estado no Brasil?”. Ela simplesmente sorriu, e respondeu meio sem jeito numa negativa não muito convincente. Eu posso entendê-la. Eu também ajo assim. Dificilmente quem escreve uma dissertação ou tese adianta para os colegas o que achou nas suas pesquisas. Medo de ser passado para trás por algum ‘colega’ acadêmico e perder a ‘exclusividade’ da descoberta.
Traduzo e publico aqui uma lição histórica de eugenia que a Nomenklatura científica [a historiografia científica “mainstream”] esquece e coloca intencionalmente para debaixo do tapete da História da Ciência: Darwin defendia esta prática médica para que a evolução pudesse ocorrer melhor entre os mais aptos, que sobreviveriam, deixariam descendência de “mais aptos” numa tautologia evolutiva ad infinitum. O homem tomando a evolução pelos chifres, e evoluindo a si mesmo. Eugenia, teu nome mais chique hoje é engenharia genética.


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por Tom Magnuson 05/04/07
Medicina mortífera: a história esquecida da eugenia

O WorldNetDaily deu a notícia de um aniversário de um outro grande debate bioético que passou. Há apenas um século atrás, a eugenia ― a tentativa de melhorar a raça humana através de melhor “cruzamento” ― era a coqueluche no mundo científico. E esta primavera marca o centenário da primeira lei mundial de esterilização forçada.
Embora os darwinistas modernos possam sobressaltarem-se, a eugenia inspirou-se claramente na teoria de Darwin. Naquele tempo, Francis Galton (primo de Darwin), levou a teoria da evolução seriamente, argumentando persuasivelmente que os hospitais, instituições mentais e de serviço social todos violavam a lei da seleção natural. Essas instituições preservam o fraco à custa do pool genéticol. Na natureza, tais pessoas morerriam naturalmente, desse modo mantendo a raça humana forte. Como o próprio Darwin declarou no seu livro “The Descent of Man” [A Linhagem do Homem] “Ninguém que já assistiu ao cruzamento de animais domésticos duvidará de que isso tem sido altamente prejudicial à raça do homem... Dificilmente alguém seja tão ignorante a ponto de permitir que cruzem os seus piores animais.”

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E ainda têm a cara de pau [oops o despautério é mais chique] de dizer que Darwin não foi um ‘darwinista social’, que não apoiava a eugenia nesses termos, e otras cositas mais. Contem outra, que este degas aqui é “mais liso” do que Darwin.

Sou levado a crer, caso inocentem a Darwin por isso, que o julgamento de Nuremberg foi uma farsa, e que devemos honrosas, mas tardias desculpas a Hitler, Mengele, e Eichmann por tão grandiosa contribuição científica para a humanidade não ter sido reconhecida mundialmente.

Ave Darwin, nós os fracos, portadores de sídrome de Down e outros defeitos congênitos, nós que caminhamos para a morte, corajosamente te saudamos!

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Não foi 1º. de abril não, mas a Folha Ilustrada desse dia trouxe uma crítica do Marcelo Coelho ao documentário “Homo Sapiens 1900” de Peter Cohen, intitulada “Documentário é uma lição de história sobre delírio eugenista”[requer assinatura do UOL ou da FSP]. Este filme lembra experimentos nazistas que buscavam suposta melhoria genética. Em 1989, o sueco Peter Cohen dirigiu seu famoso documentário “Arquitetura da Destruição”, mostrando as relações entre os ideais estéticos do nazismo e sua política de assassinato em massa.

Coelho disse que em “Homo Sapiens 1900”, Cohen preserva a mesma intensa pesquisa em arquivos cinematográficos, clareza expositiva, uso razoavelmente moderado da editorialização e, um profundo senso do horror e da patologia presentes na história do século 20.

Neste filme, não é a beleza, mas sim a ciência (ou o que se pretendia “científico” nos começos do século 20) que se alia ao delírio manipulatório e à pura desumanidade. Sob a bandeira da eugenia, médicos e biólogos de vários países se engajam numa suposta melhoria do padrão genético da humanidade.
Alguns propõem a esterilização forçada dos deficientes, dos feios, dos criminosos. Outros querem também a eugenia “positiva”, defendendo a criação de um “haras humano”, com reprodutores escolhidos.

Propostas desse tipo não foram exclusividade dos nazistas. A avançada Suécia foi a primeira a criar um Instituto de Biologia Racial, em 1922, e terminaria aprovando leis de eugenia que duraram mesmo depois da Segunda Guerra. A esterilização, muito civilizadamente, deveria ser voluntária.

Nos EUA, a primeira lei de esterilização forçada surgiu em 1907 (o filme não diz em que Estado) e foi adotada por mais de 20 unidades da Federação.
Ainda nos tempos do cinema mudo, um médico, o dr. Harry Haiselden, filmou "A Cegonha Negra", no qual se fazia um bebê defeituoso morrer de frio, em nome de um futuro saudável para todos.

Em outro precioso documento de época, vemos o ministro da Cultura de Lênin, Anatoly Lunatcharski, atuar num filme de ficção, salvando um cientista de seus cruéis adversários. Ajuda-o a provar as teses de Lamarck, segundo as quais os caracteres adquiridos são herdados pelos descendentes. A teoria, embora errada, era mais condizente com os ideais bolcheviques do que o determinismo genético.

Fraude
No campo oposto do debate biológico, um importante geneticista americano, Hermann Mueller, responsável pela descoberta de que os raios-X afetam os cromossomos, procura apoio de Stálin para seu projeto eugenista. O líder soviético acertou dessa vez, considerando a idéia reacionária. Mas preferiu promover a famosa fraude de Lyssenko, mandando fuzilar os que duvidavam dela.

Ciência e ideologia não cessam de trocar de lugar ao longo do filme, cujos longos black-outs e narração pesada não se coadunam com o óbvio ridículo de alguns de seus personagens, cuja real importância histórica não é dimensionada com exatidão. Sem ter a abrangência de "Arquitetura da Destruição", "Homo Sapiens 1900" vale ainda assim como uma lição de história (e de modéstia) para cientistas, legisladores e seres humanos em geral.

HOMO SAPIENS 1900
Direção: Peter Cohen
Distribuidora: Versátil (R$ 37,50 em média)
Avaliação: bom
Falha da crítica de Marcelo Coelho: ele não disse aos leitores que a teoria científica por trás da eugenia foi a teoria da evolução de Darwin.

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"ARQUITETURA" ESTÁ DISPONÍVEL EM DVD NO BRASIL


Sucesso no circuito de filmes de arte no Brasil e presença certa em aulas de cursinhos e colegial, "Arquitetura da Destruição" (1989) é o principal filme de Peter Cohen e está disponível em DVD no país pela Versátil (R$ 37,50, em média). Como extras, traz galeria de fotos, textos e apresentação de Leon Cakoff, criador da Mostra de SP ― naquele ano (89), o documentário foi exibido na 16ª edição do festival e venceu o Prêmio Especial.