BOMBA! BOMBA! Vai acabar a ausência do contraditório nas reportagens da FSP

sexta-feira, março 16, 2007

O ombudsman da Folha de São Paulo, Marcelo Beraba, publicou duas colunas alvissareiras: “O futuro, sem exageros” (A6 Brasil, 04/03/07) e “Bush e as fontes alternativas” (A8 Brasil, 11/03/07).



(Arquivo da página do ombudsman da FSP)

No primeiro, Beraba destacou o “erro grave” cometido na edição de São Paulo de 28 de fevereiro de 2007, noticiando (sem questionar) o resultado dos estudos encomendados pelo Ministério do Meio Ambiente sobre os efeitos do aquecimento global no Brasil. A FSP se corrigiu no dia seguinte, mas o ombudsman considerou a correção “insuficiente”. Razão? Ele entendeu existir “um interesse cada vez maior das pessoas nessas previsões e que o alarmismo pode levar ao descrédito um grande esforço que parte das universidades e de organizações não-governamentais”. Beraba, porém, foi “cético” até desse esforço, pois publicou a opinião divergente do Prof. Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP e membro do IPCC.

Meno male!

No segundo artigo, Beraba destacou a distribuição de um comunicado a todos os editores [SIC ULTRA PLUS 1] feita pela FSP para que preparassem “uma relação das áreas de cobertura jornalística que consideram mais importantes sob sua responsabilidade”, e a partir desta definição “o jornal pretende compor listas de fontes de informação para cada um dos setores elegidos” [SIC ULTRA PLUS 2].

Por que isso agora? Segundo o comunicado assinado por Vaguinaldo Marinheiro, secretário de Redação da FSP, um levantamento interno demonstrou que “o jornal consulta poucas fontes para a realização de reportagens” [SIC ULTRA PLUS 3], e que ouve sempre as mesmas pessoas [SIC ULTRA PLUS 3]. A intenção, segundo Marinheiro, “é enriquecer ao máximo essas relações [de fontes] para que possamos diversificar as vozes no jornal” [SIC ULTRA PLUS 4].

Beraba afirmou que esta iniciativa de buscar fontes novas é alentadora, e bem-vinda, vez que “são visíveis a pobreza de nomes a que a imprensa recorre e a ausência do contraditório” [SIC ULTRA PLUS 5]. Razão? Porque, em primeiro lugar, a FSP tem, “entre os seus compromissos editoriais, o pluralismo, assim justificado: Numa sociedade complexa, todo fato se presta a interpretações múltiplas, quando não antagônicas [SIC ULTRA PLUS 6]. O leitor da Folha deve ter assegurado seu direito de acesso a todas elas. Todas as tendências ideológicas expressivas da sociedade devem estar representadas no jornal” [SIC ULTRA PLUS 7].

Em segundo lugar, Beraba afirmou que o diagnóstico da Secretaria de Redação está certo: “é visível a pobreza de fontes a que a imprensa em geral recorre; salta aos olhos a ausência do contraditório [SIC ULTRA PLUS 8] nas reportagens; e é desconcertante a repetição dos mesmos ‘especialistas’ de sempre.” [SIC ULTRA PLUS 9]. Beraba destacou ali o caso do etanol ―”Encontrei pouquíssimos registros de opiniões divergentes, céticas [SIC ULTRA PLUS 10] ou, pelo menos, preocupadas com a tal euforia”, e que em outros casos “o problema não é só da Folha”, e que “vários estudos feitos por organizações que observam o trabalho da imprensa registram a nossa miséria.” [SIC ULTRA PLUS 11].

Concordo plenamente com Beraba, a iniciativa da FSP de “buscar fontes novas e diversificadas [SIC ULTRA PLUS 12] para o apoio da Redação é um alento.” E, com esta eu quase caí de costas ―Beraba fez questão de registrar isso em sua coluna “para que as instituições, organizações e vozes que hoje não encontram espaço no jornal para opinião ou difusão de informações possam se apresentar.” [SIC ULTRA PLUS 13] Eu jamais esperava esse tipo de “metanóia” na Grande Mídia nacional, mas Beraba afirma que “as mensagens dirigidas ao ombudsman com identificação do remetente e dados objetivos sobre especializações ou sobre áreas de atuação serão encaminhadas para a Redação com a esperança de que possam contribuir para a produção de um jornalismo de fato pluralista.” [SIC ULTRA PLUS 14].

Molto bene!!!

Por favor, alguém me belisque bem forte, mas é justamente isso que venho apontando para a FSP desde 1998 [mas desde Caio Túlio Costa, o primeiro ombudsman]: a FSP precisa ouvir o outro lado de todos os lados. Quer tal começar a ouvir os teóricos e proponentes do Design Inteligente e os demais críticos do darwinismo?

Marcelo Beraba, com profundo respeito!