Por que a teoria do Design Inteligente [não] deve ser ensinada

segunda-feira, setembro 25, 2006

Por que a teoria do Design Inteligente deve ser ensinada

Eu guardei este artigo de Jonah Avriel Cohen desde 25 de agosto de 2005. Na ocasião eu pensei que o artigo dele não espelhava muito bem a realidade de nossa Grande Mídia e Nomenklatura científica tupiniquins. Hoje eu penso o contrário, Cohen acerta bem no alvo do preconceito e nas tentativas ideológicas capciosa da galera de Darwin polarizar a questão do Design Inteligente e a Evolução como sendo a antiga pendenga criacionistas versus evolucionistas.

Cohen, você me desculpe, mesmo sem sua autorização – eu tentei obter por e-mail, mas você não me respondeu – eu vou publicar seu texto por julgá-lo bem pertinente ao Zeitgeist de nossa taba.

Nós do Design Inteligente somos contra o ensino da TDI por decisão jurídica – ela somente deve ser ensinada após ser debatida e aceita pela comunidade científica, mas os mandarins ideológicos do naturalismo filosófico de plantão fazem tudo por impedir que a TDI seja livremente debatida em nossas universidades e na relação incestuosa que mantém com a Grande Mídia que diz sempre amém a esses pequenos grandes ditadores de corações e mentes (Orwell, 1984).

Valeu, Cohen!

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25 de agosto de 2005

Das muitas razões por que o design inteligente – um argumento que eu rejeito – deve ser ensinado junto com a evolução em nossas escolas públicas [nós do DI somos contra porque a TDI ainda não chegou à mesa do debate acadêmico por uma resistência ideológica da Nomenklatura científica], talvez nenhuma é mais convincente do que a ignorância e a demagogia que é evidente em nosso atual debate nacional sobre a questão. Abaixo, quatro mitos que você freqüentemente encontra enquanto lê a literatura política sobre o assunto, seguidos dos fatos.

Mito 1: A teoria do design inteligente é uma versão moderna do criacionismo.

Charles Krauthammer (Time Magazine):

“Em Kansas, os membros conservadores do school-board estão tentando reescrever os parâmetros curriculares estaduais para ensinar evolução assegurando que o filho adotivo moderno do criacionismo, o design inteligente, se infiltre no currículo.”

Jerry Coyne (The New Republic):

“O design inteligente… é meramente a mais recente encarnação do criacionismo bíblico defendido por William Jennings Bryan em Dayton [em 1925].”

Richard Dawkins (London Times):

“O DI [Design Inteligente]… não é uma nova forma de criacionismo. É simplesmente criacionismo disfarçado, por razões políticas, sob um novo nome.”

Fato: A teoria do design inteligente remonta a pelo menos à Grécia clássica, e tem sido debatida em quase todos os séculos desde então.

O nosso século não é diferente. Os que defendem o design inteligente não estão “disfarçando” nada; eles não são homens furtivos. Eles estão oferecendo para a nossa consideração uma idéia que tem intrigado a mente de todos desde Platão a Kant, uma idéia que começou possivelmente quando Sócrates perguntou:

“Com tais sinais de previdência no design de criaturas vivas, você pode duvidar que elas sejam obra de escolha ou de design [intencional]?”

Bem, porque o argumento de design pode ser encontrado nos diálogos de Platão, nós podemos deduzir que a teoria não somente precede à teoria do criacionismo – que foi uma resposta, mas religiosa, ao livro Origem das Espécies de Darwin (1859) – ela também não está ligada com a escritura judaico-cristã.

Krauthammer, Coyne e Dawkins estão errados neste ponto.

Certamente, tem tido versões atualizadas da teoria do design inteligente – vide, por exemplo, o artigo “The Argument from Design” in Philosophy, vol. 43 (1968) do professor Richard Swinburne, de Oxford – mas a hipótese do design não é mais moderna do que a hipótese epicurista de que o universo consiste somente de partículas em movimento aleatório.

Mito 2: A teoria do design inteligente afirma que o designer é o Deus descrito na Bíblia.

Eugenie C. Scott e Glenn Branch, do National Center for Science Education (USA Today):

“Os defensores do DI também são relutantes quanto a identidade do designer, afirmando que não precisa ser Deus. Mas, apesar de alusões de sinais quanto à possibilidade de extraterrestres ou bioquímicos viajando pelo tempo, ninguém é levada ao engano de pensar que o designer não seja o Designer: Deus.”

Fato: é uma questão de lógica formal, não de engano, que permite a alguém aceitar consistentemente o argumento do design inteligente enquanto que repudiando definitivamente a teoria do criacionismo bem como a Bíblia e o seu Deus.

Muita informação errada abunda neste ponto. O argumento do design inteligente é um argumento a partir da ordem ou da regularidade das coisas no mundo para um agente poderoso incórporeo que é responsável por aquela ordem, um ser ou seres que podem não ser o Deus de Abrãao e Jesus. Como David Hume famosamente destacou, talvez este mundo “foi o primeiro ensaio rude de alguma divindade infante que a abandonou em seguida”; talvez a divindade esteja morta agora e o nosso mundo é como uma bateria se consumindo até que todos nós morramos como o nosso Autor cósmico. Seja isso o que for, você não precisa adotar o Deus da Bíblia, ou suas noções de criação, a fim de aceitar a noção de que uma mão divina, talvez até uma mão diabólica, esteja por trás do funcionamento de nosso universo.

Mito 3: Os conservadores e cristãos [nos Estados Unidos] aceitam necessariamente o argumento do design inteligente.

Jean Chen (Pop & Politics):

“O design inteligente é apenas outra estratégia de cristãos conservadores para banir a evolução [da sala de aula].”

Fato: Você pode ser consistentemente um político conservador ou um cristão devoto e assim mesmo rejeitar totalmente o argumento do design inteligente.

Quantos estão cientes de que, dos muitos críticos do argumento do design, nenhum foi mais formidável do que um político conservador, por um lado, e um cristão fundamentalista do outro lado?

David Hume, um agnóstico e conservador, não tentou censurar o argumento de
design dos alunos, como alguns agora evidentemente querem fazer com a juventude da América. Como o intelectual honesto que ele foi, ele desenvolveu o argumento de design na sua forma então mais convincente – e depois o criticou impiedosamente no seu livro clássico Diálogos sobre a religião natural (1779).

No século seguinte, o pensador dinamarquês Sören Kierkegaard, um cristão profundamente literalista e temente a Deus, também desconsiderou o argumento do design inteligente, do mesmo modo em que ele repudiou sinceramente todas as tentativas de provar a existência de Deus. Mas ele repudiou por razões de fé. Ele pensou, e bem razoavelmente, que qualquer prova minaria a nossa liberdade de escolhermos o cristianismo. Afinal de contas, se a existência de Deus pudesse ser demonstradas verdadeira como uma proposição euclidiana, então o que aconteceria com aqueles outros artigos de fé significantes que nós chamamos de “livre arbítrio”? Se Deus pudesse ser demonstrado como um problema matemático, então alguém não teria que crer nele por força da lógica? Em vez de por amor, por escolha, por apostar a sua própria existência com medo e tremor do Desconhecido, o material mesmo do espírito humano conforme descrito por toda a Bíblia?

Mito 4: A teoria da evolução e o monoteísmo estão logicamente em conflito ou, pelo menos, são inimigos.

Jacob Weisberg (Slate):

“Mas vamos ser sérios: A teoria da evolução pode não ser incompatível com todas as formas de crença religiosa, mas certamente que ela solapa os ensinamentos e as doutrinas básicas das grandes religiões mundiais (e também da maioria das religiões que não são grandes).”

Fato: Você pode aceitar consistentemente a teoria da evolução e ainda ser considerado um monoteísta, vendo a mão de Deus nas operações evolutivas do universo.

Em 1930, F.R. Tennant escreveu um livro magnificente intitulado Philosophical Theology, onde ele desenvolveu algo chamado de “O Princípio Antrópico”. Este princípio sugeria que o cosmos foi elaborado para o desenvolvimento de vida inteligente. Se tivesse apenas uma pequena alteração nos valores de, digamos, da carga do elétron ou do graud da força nuclear no universo então a vida inteligente, ou qualquer vida, por aquela razão, mais provavelmente não teria se desenvolvido. Tennant disse que era possível imaginar um mundo descontrolado onde as regras não funcionariam. Mas o universo atual não foi caótico e, evidentemente, foi regulado de tal modo que o processo evolutivo resultou num ambiente em que a vida inteligente – pense em Albert Einstein, Martin Luther King, Jr., Florence Nightingale – podia existir. Um intelecto assim, ele pensou, sugeria a evidência de um plano divino. É claro, a conclusão de Tennant pode muito bem ter sido errada, mas ele estava certo em destacar de que não havia nada obviamente incompatível entre a teoria da evolução e a noção de que uma divindade designou intencionalmente o próprio processo evolutivo.

Assim, a idéia atual de que a “ciência” da evolução está logicamente em desacordo com a “fé” do design inteligente pode estar se apoiando numa falsa disjunção.

Conclusão

A discussão entre o design inteligente versus um cosmos aleatoriamente ordenado é muito antiga e fascinante e ainda não resolvida. Que escritores inteligentes e honestos estão agora ocupados promulgando ficções simples sobre este debate sugere, na verdade, que nós estamos precisando de educação neste tópico. E isso é uma razão suficiente, na minha opinião, para que isso seja ensinado em nossas escolas, talvez não em aulas de biologia, mas pelo menos em aulas de filosofia obrigatórias, algo que os nossos sistemas escolares não exigem para a nossa vergonha nacional.

Como eu disse no começo, eu não estou convencido dos argumentos do design inteligente, não porque a teoria da evolução seja inatacável – indubitavelmente tem suas fraquezas – mas porque eu acho que ninguém respondeu satisfatoriamente as críticas do design inteligente oferecidas por Hume, Kant e Kierkegaard. Se aqueles fundamentalistas seculares que desejam amordaçar as teorias de design inteligente estão tão preocupados sobre as futuras gerações, que eles exijam então que nós ensinemos Hume, Kant e Kierkegaard em nossas escolas públicas – em vez de censura! Os nossos alunos deveriam ser expostos a esta grande discussão em todas as suas dimensões, a fim de que eles possam tomar uma decisão [sobre a questão].

Como disse o president Bush [respondendo a uma jornalista]: “Eu acho que parte da educação é expor as pessoas a diferentes escolas de pensamento. Você está me perguntand se as pessoas devem ou não ser expostas a idéias diferentes, e a resposta é sim.” Essa é a atitude científica e liberal.

Jonah Avriel Cohen acabou de concluir o seu Ph. D. em Filosofia e Religião na University of London. Ele vai lecionar Ciências Humanas na Kaplan University.
jac1974@gmail.com