Dawkins, aquele do gene egoísta, ‘caiu do cavalo’!

sexta-feira, maio 26, 2006

Isso saiu na seção "News Feature" da revista Nature de 25 de maio de 2006. Os meus comentários estão entre colchetes.

Genética: O que é um gene?

Helen Pearson*

Abstract

A idéia de genes como contas num colar de DNA está desaparecendo rapidamente.

[Atenção autores de livros-texto de Biologia, favor corrigir este aspecto científico fundamental na próxima edição em 2007. Que se dane o lucro das editoras! O que conta é o ensino objetivo da ciência.]

As seqüências de codificação de proteínas não têm um início nem fim nítidos e o RNA é uma parte importante do pacote de informação, relata Helen Pearson.

O "gene" não é um típico palavrão. Não ofende. Nunca é censurado nos programas de TV. E enquanto o significado da maioria dos palavrões seja bem claro, o significado do gene não é. Quanto mais os cientistas se especializam em genética molecular, menos fácil é ter certeza do que verdadeiramente, se qualquer coisa, é um gene.

[Dawkins, como é que fica aquela estória reducionista de "gene egoísta"?]

Rick Young, geneticista no Whitehead Institute em Cambridge, Massachusetts, disse que quando começou a lecionar como jovem professor de faculdade, duas décadas atrás, levou cerca de duas horas para ensinar aos alunos novatos o que era um gene e os aspectos simples de como funcionava.

Hoje, ele e seus colegas precisam de três meses de palestras para comunicar o conceito do gene, e isso não é porque os estudantes sejam menos brilhantes. "Leva todo um semestre para ensinar essa matéria para talentosos alunos de pós-graduação", disse Young. "Costumava ser que nós podíamos dar uma só definição e agora é muito mais complicado."

[Dawkins, e eu pensei que você tivesse dado a palavra científica final em O Gene Egoísta...]

Em genética clássica, um gene era um conceito abstrato – uma unidade de herança que transportava uma característica de pais para filhos. Quando a bioquímica se tornou ciência em seus termos, aquelas características foram associadas com enzimas ou proteínas, uma para cada gene. E com o advento da biologia molecular, os genes se tornaram coisas reais e físicas – seqüências de DNA que, quando convertidos em filamentos do tão-chamado RNA mensageiro, podem ser usadas como base para a fabricação passo a passo de sua proteína associada. As grande moléculas tipo mola helicoidal de DNA dos cromossomos eram consideradas como longos colares nos quais as seqüências gênicas ajustavam-se como discretas contas.

Esse quadro ainda é o modelo funcional para muitos cientistas. Mas os cientistas na pesquisa de ponta de genética o consideram como cada vez mais desatualizado – uma aproximação grosseira que, na melhor das hipóteses, esconde novas complexidades fascinantes e, na pior das hipóteses, cega seus usuários para novos caminhos de pesquisa úteis.

[Design Inteligente, por exemplo... Aproveito para chamar atenção dos autores de livros-texto de Biologia para acolherem isso em novas edições. Afinal de contas, a ciência não é dogmática, não é mesmo? E revisa sempre os seus erros...]

A informação, parece, é distribuída ao longo dos cromossomos de uma maneira muito mais complexa do que se supunha antes. As moléculas de RNA não são apenas conduítes passivos através dos quais a mensagem do gene flui para o mundo, mas são reguladores ativos de processos celulares. Em alguns casos, o RNA pode até passar informação por gerações – normalmente a preservação exclusiva do DNA.

Uma pesquisa surpreendente do ano passado levantou a possibilidade de que algumas plantas reescrevem o seu DNA na base de mensagens de RNA herdadas de gerações passadas [1]. Uma pesquisa na página 469 desta edição sugere que um fenômeno comparável pode ocorrer em ratos, e por implicação em outros mamíferos [2]. Se esse tipo de fenômeno for, na verdade amplo, "teria grandes implicações", disse o geneticista evolucionista Laurence Hurst na University of Bath, Grã-Bretanha.

[As grandes implicações não seriam uma iminente mudança paradigmática em biologia evolutiva???]

"Toda aquela informação desafia seriamente a nossa definição convencional de um gene", disse o biólogo molecular Bing Ren na Universidade da Califórnia, em San Diego. E o desafio da informação vai ficar ainda mais forte. Mais tarde, neste ano, uma pletora de dados serão liberados do projeto internacional Enciclopédia dos Elementos do DNA (ENCODE). A fase piloto do ENCODE envolve escrutinar aproximadamente 1% do genoma humano em detalhe inédito; o objetivo é descobrir todas as seqüências que servem a um propósito útil e explicar o que é aquele propósito [Teleologia ou vulgarmente Design Inteligente – eu não pude me conter...]. "Quando começamos o projeto ENCODE, eu tinha uma visão diferente do que era um gene", disse o pesquisador que participou do projeto, Roderic Guigo, no Centro de Regulação Genômica em Barcelona. "O grau de complexidade que nós vimos não era antecipado."

[Roderic, bastava ler A Caixa Preta de Darwin, de Michael Behe, para saber que até em "simples bactérias", que Darwin não consegue explicar pela sua teoria, existe "complexidade irredutível"...]

Sob fogo [cruzado!]

A primeira das complexidades a desafiar o paradigma da biologia molecular de uma única seqüência de DNA codificando uma única proteína foi o splicing alternativo, descoberto em vírus em 1977. Vide o artigo "Hard to track".

A maioria das seqüências de DNA descrevendo as proteínas em humanos tem um arranjo modular no qual os exons, que transportam as instruções para fabricar [Argh, isso é quase como cometer um assassinato, mas é uma linguagem teleológica – característica de design inteligente], são intercalados com introns não codificantes. No splicing alternativo, a célula "corta" os introns e "liga" os exons em diferentes ordens, criando mensagens que podem codificar diferentes proteínas. Ao longo dos anos, os geneticistas também têm documentado os chamados overlapping genes, genes dentro de genes e incontáveis arranjos estranhos [ou "A-lacuna-da-ignorância-científica"]

[vide "Muddling over genes"].

O splicing alternativo, contudo, por si mesmo não exigiu uma drástica reavaliação da noção de um gene; ele apenas demonstrou que algumas seqüências de DNA podem descrever mais do que uma proteína. O ataque atual ao conceito de gene tem muito mais alcance, impelido largamente pelas pesquisas que mostram o escopo previamente inimaginável do RNA.

[Em ciência, nada como um dia atrás do outro. Eu queria ver a cara do Dawkins e dos discípulos reducionistas... Caiu do cavalo!]

* Helen Pearson é repórter trabalhando para a revista Nature em Nova York.