A TEORIA DO DESIGN INTELIGENTE – Parte 1

quinta-feira, janeiro 26, 2006

Baseado nas obras dos teóricos do Design Inteligente: William A. Dembski e Michael J. Behe.

Introdução:

O debate sobre as origens e evolução do universo e da vida tem sido uma dialética muito controversa, principalmente depois que Darwin publicou o livro Origem das Espécies em 1859. Desde então, a fonte da controvérsia tem sido o design. Seria a aparência de design nos organismos (conforme exibido na sua complexidade funcional) o resultado de forças puramente naturais agindo sem previsão ou teleologia? Ou significaria previsão e teleologia genuínas? Aquele design seria empiricamente detectável e acessível à pesquisa científica? Quatro posições importantes emergiram devido a essas questões: o darwinismo, a auto-organização, a evolução teísta e o design inteligente.

As perguntas que teimam não se calar

Por que o darwinismo, apesar de tão inadequadamente apoiado[i] como teoria científica continua a acumular o apoio total do establishment acadêmico? O que continua a manter o darwinismo em circulação apesar de suas muitas falhas evidentes? Por que as alternativas que introduzem o design são excluídas do debate científico? Por que a ciência deve explicar somente recorrendo a processos naturais não guiados? Quem determina as regras da ciência? Há um código de “cientificamente correto” que, em vez de ajudar a nos levar à verdade, ativamente nos impede de perguntar certas questões e de chegar à verdade? O que é correto - a evolução naturalista ou design inteligente?

Os objetos, mesmo que nada sobre como surgiram seja conhecido, podem exibir características - design intencional - que sinalizem seguramente a ação de uma causa inteligente? Atualmente, esta é uma das perguntas proibida de ser feita em ciência, especialmente em biologia. Os exemplos mais precisos dessa atitude são de dois importantes cientistas evolucionistas:

“Os biólogos devem constantemente ter em mente que o que eles vêem não tem design intencional, mas evoluiu”. (ênfase inexistente).
- Francis Crick, What Mad Pursuit (1988)

“A biologia é o estudo de coisas complexas que dão a impressão de ter um design intencional”. (ênfase inexistente).
- Richard Dawkins, O relojoeiro cego (2001)

Contudo, como a pergunta mais importante para qualquer sociedade fazer é justamente aquela que é proibida, muitos biólogos e outros cientistas dispuseram-se a responder: o design é real ou aparente?


O que é a Teoria do Design Inteligente?[ii]

O surgimento de uma moderna teoria científica do Design Inteligente (TDI)[iii] e de uma comunidade de pesquisadores academicamente qualificados promovendo essa teoria (Movimento do Design Inteligente - MDI)[iv] há mais de dez anos nos Estados Unidos,[v] colocou novamente a questão das origens do universo e da vida em destaque na mídia e na academia.

O Design Inteligente (DI) é uma ciência, uma filosofia e um movimento para a reforma educacional. Como ciência, é um argumento contra a afirmação darwinista ortodoxa de que forças inconscientes como variação, herança genética, seleção natural e o tempo sejam capazes de explicar as principais características (complexidade e diversidade) do mundo biológico. Como filosofia, é uma crítica da filosofia da ciência dominante que limita a explicação apenas a causas puramente físicas ou materiais. Como programa de reforma educacional, é um movimento público para fazer do darwinismo - suas evidências, pressuposições filosóficas e táticas retóricas - objeto de uma discussão pública bem informada, ampla, civilizada, e vívida.

A TDI é uma teoria científica moderna que tenta responder essa pergunta científica proibida: Os objetos, mesmo que nada seja conhecido sobre como que eles surgiram, exibem características que sinalizam com segurança a ação de uma causa inteligente? Para ver o que epistemicamente está em jogo, consideremos a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. A evidência de design na estátua, criada sob encomenda da Arquidiocese do Rio de Janeiro pelo artista plástico francês Paul Landowski, é direta — testemunhas oculares viram os arquitetos, engenheiros e demais operários levantarem essa estrutura em cimento armado. Mas, e se não houvesse evidência direta de design para a estátua do Cristo Redentor? Se os humanos não existissem mais e se extraterrestres ao visitarem a Terra descobrissem a estátua do Cristo Redentor do jeito em que se encontra atualmente? Qual seria a conclusão deles diante da estátua? Acaso e necessidade? Ou design inteligente?

Nesse caso, o que sobre este objeto forneceria evidência circunstancial convincente de que foi devido à ação de uma inteligência e não do vento e da erosão ou do acúmulo lento e gradual de materiais de construção? Objetos com design intencional como o Cristo Redentor exibem aspectos característicos que apontam para uma inteligência. Tais aspectos ou padrões se constituem em sinais de inteligência. Os proponentes do DI, conhecidos como teóricos do design, tencionam estudar tais sinais formal, rigorosa e cientificamente.

A afirmação fundamental do DI é direta e muito inteligível, isto é: existem sistemas naturais que não podem ser adequadamente explicados em termos de forças naturais não-dirigidas e que exibem características que em quaisquer outras circunstâncias nós atribuiríamos à inteligência. Portanto, o DI pode ser definido como a ciência que estuda os sinais de inteligência.

Um método de detectar design

Porque um sinal não é a coisa significada, o DI não presume identificar nem focalizar os propósitos de um designer (a coisa significada), mas nos artefatos que resultam dos propósitos de um designer (o sinal). O que um designer tenciona ou propõe-se a fazer é uma questão interessante, e alguém pode até ser capaz de inferir algo sobre os propósitos de um designer a partir dos objetos com design intencional que um designer produz. No entanto, as intenções de um designer e até mesmo a sua natureza (se, por exemplo, o designer é um agente pessoal consciente ou um processo télico impessoal) está fora do objetivo do DI. Como programa de pesquisa científica, o DI investiga os efeitos da inteligência e não a inteligência em si. Na verdade, um dos aspectos mais vigorosos da TDI é que ela distingue o design do propósito do design.

O que torna o DI controverso, é porque ele se propõe a encontrar sinais de inteligência na natureza e, especificamente, em sistemas biológicos. De acordo com o biólogo evolucionista Francisco Ayala, o maior feito de Darwin foi demonstrar como que a complexidade organizada dos organismos podia ser obtida à parte de uma inteligência que utilize design. Portanto, o DI desafia diretamente o darwinismo e outras abordagens naturalistas quanto à origem e a evolução da vida.

A idéia de que uma inteligência intrínseca ou teleologia é inata e expressa através da natureza tem uma longa e turbulenta história intelectual e é crida por muitas tradições religiosas. Todavia, a principal dificuldade dessa idéia desde o tempo de Darwin, tem sido o de descobrir uma formulação conceitualmente poderosa de design que possa avançar a ciência de modo fértil. O que tem mantido o design fora do circuito científico desde a ascensão do darwinismo tem sido essa falta de métodos precisos para distinguir os objetos que foram inteligentemente causados dos que não foram.

Para que o design seja um conceito científico fértil, os cientistas têm de ter certeza de que eles podem determinar com confiança se algo tem design intencional. Johannes Kepler, por exemplo, pensou que as crateras na Lua tinham sido feitas inteligentemente pelos habitantes da Lua. Hoje nós sabemos que as crateras foram formadas por fatores puramente materiais (como colisão de meteoros). Este medo de atribuir design falsamente a alguma coisa, só para mais tarde vê-lo ser desacreditado, tem impedido o design de entrar no circuito científico. Mas os teóricos do DI argumentam que agora formularam métodos precisos e rigorosos para diferençar objetos com design intencional dos sem design intencional. Esses métodos, eles afirmam, os capacitam evitar o erro de Kepler e localizar o design com segurança em sistemas biológicos.

Como uma teoria de origem biológica e de desenvolvimento, a afirmação central do DI é que somente causas inteligentes explicam adequadamente as estruturas biológicas de informação complexa e que essas causas são empiricamente detectáveis. Afirmar que causas inteligentes são empiricamente detectáveis é afirmar a existência de métodos bem-definidos que, baseados nos aspectos observáveis do mundo, podem distinguir com segurança causas inteligentes de causas naturais não dirigidas.

Muitas ciências especiais já desenvolveram tais métodos para fazer essa distinção - notadamente a ciência de investigação criminal, a criptografia, a arqueologia, a inteligência artificial (cf. o teste de Turing) e a busca por inteligência extraterrestre (SETI - Search for Extraterrestrial Intelligence). A capacidade de eliminar acaso e necessidade é essencial para todos esses métodos científicos. Sempre que esses métodos detectam a causação inteligente, a entidade subjacente que descobrem é a informação. David Baltimore, biólogo molecular americano (prêmio Nobel em 1975) afirmou: “A biologia moderna é uma ciência de informação”. A TDI apropriadamente formulada é uma teoria de informação. Dentro dessa teoria, a informação se torna um indicador confiável de causação inteligente bem como um objeto apropriado para investigação científica.

O astrônomo Carl Sagan escreveu um livro sobre a busca por inteligência extraterrestre chamado Contato, que mais tarde virou filme. A trama e os extraterrestres eram fictícios, mas Sagan baseou os métodos de detecção de design dos astrônomos do SETI exatamente na prática científica. Na vida real, até agora os pesquisadores do SETI[vi] não tiveram êxito em detectar convincentemente sinais de design intencional do espaço sideral, mas se encontrarem tal sinal, como os astrônomos no filme fizeram, eles também vão inferir design intencional.

Por que os radioastrônomos no filme Contato chegaram a uma inferência de design dos sinais de rádio que eles monitoraram do espaço? Os pesquisadores do SETI escutam milhões de sinais de rádio coletados do espaço sideral através de computadores programados para reconhecerem padrões preestabelecidos. Esses padrões servem como peneira. Os sinais que não se encaixam em nenhum dos padrões passam pela peneira e são classificados como aleatórios.

Ano após anos recebendo sinais aleatórios aparentemente sem significado, os pesquisadores do filme Contato descobriram um padrão de batimentos (1) e pausas (0) que correspondiam à seqüência de todos os números primos entre 2 e 101.[vii] (Os números primos são divisíveis somente por si mesmos e por um). Aquilo surpreendeu e chamou a atenção dos radioastrônomos, e eles imediatamente inferiram uma causa inteligente. Quando uma seqüência começa com duas batidas (11) e depois uma pausa (0), três batidas (111) e depois uma pausa (0), e continua por todos os números primos até o número com cento e uma batidas, os pesquisadores precisam e devem inferir a presença de uma inteligência extraterrestre.

Eis aqui a razão dessa inferência: não há nada nas leis da Física que exija que os sinais de rádio tomem uma forma ou outra. A seqüência de números primos é, portanto, contingente em vez de necessária. Além disso, a seqüência de números primos é longa e portanto complexa. Se a seqüência fosse extremamente pequena e por isso não teria complexidade, facilmente poderia ter acontecido por acaso. Finalmente, a seqüência não era meramente complexa mas também exibia um padrão ou especificação independentemente dada (não era apenas uma velha seqüência de números qualquer, mas uma seqüência matematicamente significante - os números primos).

A inteligência deixa atrás de si uma marca registrada ou assinatura - que dentro da comunidade do DI é agora chamada de complexidade especificada. Um evento exibe complexidade especificada se for contingente e, portanto, não necessário; se for complexo e por isso não prontamente repetido pelo acaso; e se for especificado no sentido de exibir um padrão dado independentemente. Um evento meramente improvável não é suficiente para eliminar o acaso - ao jogar uma moeda muitas vezes para o ar, alguém testemunhará um evento altamente complexo ou improvável. Mesmo assim, não terá nenhuma razão em atribuí-lo a qualquer coisa a não ser ao acaso.

A coisa importante a respeito das especificações é que elas sejam dadas objetivamente e não sejam impostas arbitrariamente nos eventos após o fato. Por exemplo, se um arqueiro lançar flechas em direção a uma parede e depois pintar o alvo na mosca ao redor delas, o arqueiro impôs um padrão após o fato. Por outro lado, se os alvos foram colocados antes (“especificados”), e depois o arqueiro os acerta com exatidão, legitimamente chega-se à conclusão de que assim ocorreu por design intencional.

A combinação de complexidade e especificação apontou convincentemente aos radioastrônomos no filme Contato para uma inteligência extraterrestre. A evidência era puramente circunstancial - os radioastrônomos nada sabiam sobre os alienígenas responsáveis pelo sinal ou como o transmitiram. Os teóricos do DI afirmam que a complexidade especificada fornece evidência circunstancial convincente de inteligência. Conseqüentemente, a complexidade especificada é um marcador empírico de inteligência confiável, do mesmo modo que as impressões digitais são marcadores empíricos confiáveis da presença de um indivíduo. Além disso, os teóricos do DI argumentam que fatores puramente materiais não podem explicar adequadamente a complexidade especificada.

[i] A insuficiência epistêmica de alguns aspectos do darwinismo é considerada até por cientistas evolucionistas.

[ii] “Na literatura do DI, algumas referências a ‘design’ não são relativas a design como causa (detectável ou não), mas ao design como efeito empiricamente detectável. É importante que estes dois sentidos de design sejam cuidadosamente distinguidos. O sentido epistêmico de design (efeito detectável) é muito mais restringido do que o sentido ontológico (causa). Algum design genuíno pode não deixar rastro detectável. Um assassino inteligente pode forjar uma morte acidental ou natural, e assim tornar indetectável um design maligno. Como conceito empírico-epistêmico o design deve ser restringido àqueles casos onde o acaso e a lei [natural] podem ser excluídos com segurança. Todavia, o design pode estar operando incógnito mesmo quando o acaso e a lei [natural] não podem ser excluídos como explicações. Uma sugestão é que o design, como efeito empírico, pode ser identificado com a manifestação de um certo tipo de informação, a informação complexa especificada (ICE), que é a idéia por trás do filtro explanatório proposto por William Dembski [in The Design Inference (Cambridge: Cambridge University Press, 1998)]” . MENUGE, Angus. Agents Under Fire: Materialism and the Rationality of Science, Lanham, MD: Rowman & Littlefield Publishers, Inc., 2004, p. 17. [Minha ênfase].
[iii] A TDI satisfaz os quatro critérios do modelo dedutivo-nomológico de explicação científica dos fenômenos: A) A explicação que oferece pode ser feita em forma de um argumento dedutivo; B) Contém pelo menos uma lei geral (lei da pequena probabilidade), e esta lei é exigida para a derivação da coisa a ser explicada (neste caso, a natureza da causa do evento em questão); C)Tem conteúdo empírico porque depende tanto da observação do evento e de fatos empíricos relevantes para determinar a probabilidade objetiva de sua ocorrência; D) As frases constituindo a explicação são verdadeiras (até onde sabemos), porque em princípio elas levam em consideração todos os fatores relevantes disponíveis antes do evento que se está tentando explicar. GORDON, Bruce L., “Is Intelligent Design Science? - The Scientific Status and Future of Design-Theoretic Explanations”, in Signs of Intelligence, p. 209.

[iv] Atualmente são mais de 450 acadêmicos (com Ph. D.), alguns professores em universidades como Stanford, Princeton, Yale, Universidade de Idaho, Universidade do Texas, Universidade da Califórnia (Berkeley), Universidade de San Francisco, Universidade da Georgia (Henry F. Schaeffer, cinco vezes indicado para o prêmio Nobel, o terceiro químico mais citado no mundo), Universidade de Notre Dame, entre outras renomadas instituições de ensino.

[v] Este Autor considera o livro The Mystery of Life’s Origin (Nova York: Philosophical Library, Inc., 1984) de Charles Thaxton, Walter Bradley e Roger Olsen como a obra seminal do MDI. Ao receber em 1984 uma cópia autografada por um dos autores, Charles Thaxton, nem imaginava a revolução científica que este livro provocaria anos mais tarde e que estaria envolvido na promoção da TDI no Brasil. Vide Doubts About Darwin, de Thomas Woodward, Grand Rapids, MI: Baker Books, 2003, sobre a história do DI.

[vi] Os leigos também podem participar do projeto SETI usando seus computadores na busca de sinais de inteligência extraterrestre. Maiores informações: http://www.seti.org.

[vii] O padrão contendo a seqüência de números primos de 2 a 101 apresentado no filme Contato:

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