Os céticos sofisticados contra Darwin – Parte 2

domingo, janeiro 29, 2006

O Movimento do Design Inteligente
Baseado no livro Doubts about Darwin de Thomas E. Woodward, Ph. D. e escritos de outros teóricos do MDI

3 – Darwin no Banco dos Réus: A Retórica Revolucionária de Phillip Johnson
Em outubro de 1987, dois livros mudaram o rumo do ano sabático de Phillip Johnson [i] em Londres: O Relojoeiro Cego de Richard Dawkins e Evolution: A Theory in Crisis [Evolução: uma teoria em crise] de Michael Denton.
Um debate virtual se instalou na mente de Johnson entre os dois autores sobre uma questão fundamental: o que realmente é conhecido com certeza sobre a origem e a diversidade da vida?
Denton, o cético secular, atacou a macroevolução como sendo empiricamente vazia, uma concha de teia de aranha apoiada pelas forças sociológicas de um paradigma.
Dawkins, o crente e cruzado darwinista fervoroso, defendia o darwinismo como sendo absolutamente convincente e apoiado pelo raciocínio lógico de suas simulações em computador chamadas de biomorfos.
No seu retorno à Universidade da Califórnia – Berkeley em agosto de 1988, Johnson trouxe um longo texto intitulado Science and Scientific Naturalism in the Evolution Controversy [A ciência e o naturalismo científico na controvérsia da evolução].
Ele adotou uma estratégia básica e singular a fim de que esta crítica ao darwinismo fosse seriamente levada em consideração e evitar que fosse desconsiderada como sendo mais uma proposição da ciência da criação:
(1) Excluiu o Gênesis e a fé bíblica como fatores relevantes em testar a fé darwinista;

(2) Embora admitisse sua posição teísta, Johnson destacou que muitos na área da biologia evolutiva também têm posições religiosas fortes
contrárias [ateísmo]. Aos mais dogmáticos ele os nomeou como darwinistas fundamentalistas.

O objetivo principal de Johnson era fazer com a questão da teoria geral da evolução não ser verdadeira chegasse à mesa de discussão. Ele conseguiu isso em 23 de setembro de 1988 num seminário realizado com 20 professores universitários da UC-Berkeley.
O livro de Johnson Darwin on Trial [Darwin no banco dos Réus] publicado em 1991 foi um manifesto intelectual selvagem para esmagar a oposição e expor o darwinismo como pseudociência. A crítica severa de Johnson encontra-se logo no começo do livro:
"O meu propósito é examinar a evidência nos seus próprios termos, sendo cuidadoso em distinguir a própria evidência de qualquer viés religioso ou filosófico que possa distorcer a nossa interpretação daquela evidência. Eu admito que os cientistas da criação têm este preconceito pelo seu pré-compromisso com o fundamentalismo bíblico, e eu terei muito pouco a dizer sobre a posição deles. A questão que eu quero investigar é se o darwinismo é baseado numa avaliação imparcial da evidência científica ou se é outro tipo de fundamentalismo". [ii]
Johnson afirma, como Denton, que a microevolução é ciência respeitável, mas ataca implacavelmente a macroevolução como sendo um empreendimento irreal. As teses negativas de Johnson são:
T1 - Evidência científica: As evidências biológicas e paleontológicas e outros dados científicos, com poucas exceções, tendem a falsificar a história darwiniana de macroevolução e o seu prelúdio químico da origem da vida.

T2 - Base filosófica do darwinismo: A macroevolução darwiniana, como uma afirmação ampla da verdade é baseada fundamentalmente na pressuposição filosófica do naturalismo. Para Johnson, o naturalismo é a filosofia que "supõe que todo o domínio da natureza seja um sistema fechado de causas e efeitos materiais que não podem ser influenciados por qualquer coisa 'externa'. [iii]

T3 – A 'retórica pretensiosa': Quando o darwinismo é colocado em questão, ele é rotineiramente protegido por rótulos vazios, manipulações semânticas e lógica defeituosa.

T4 - As funções religiosas-mitológicas do darwinismo: Portanto, o darwinismo funciona como o mito cosmológico central da cultura moderna - como a peça central de um sistema quase religioso que é conhecido a priori como verdadeiro, em vez de uma hipótese científica que deve submeter-se a teste rigoroso.

O livro de Johnson pode ser considerado um manifesto light projetado para destruir o estereótipo Bíblia vs. Ciência que dominou o debate sobre a evolução. A questão central que permeia a argumentação do livro é - Qual é a base para a suprema confiança de muitos cientistas de que as leis científicas e o acaso são suficientes para explicar o surgimento de toda a complexidade e diversidade da vida?
O ponto sustentado em Darwin on Trial é de que se descobre o naturalismo metafísico e não a evidência empírica como sendo a base dessa confiança. Isso é demonstrado através de um modelo de histórias [MH] utilizado ao longo do livro:
MH1 - As histórias jurídicas. O julgamento de Scopes de 1925 é brevemente recontado a fim de destruir a lenda do filme "Inherit the Wind" [O vento por herança]. [iv]
Depois aborda o caso mais importante da Suprema Corte americana - Edwards vs. Aguillard de 1987.

Embora a Supema Corte tenha considerado a 'ciência da criação' como religiosamente motivada, a opinião discordante do juiz Antonin Scalia ficou registrada no processo:

"O povo da Louisiana, inclusive aqueles que são cristãos fundamentalistas, têm o direito, como uma questão secular, a ter qualquer evidência científica que haja contra a evolução apresentada nas suas escolas, assim como o sr. Scopes teve o direito de apresentar qualquer evidência científica que houvesse a favor". [v]

MH2 - As tendências religiosas dos darwinistas modernos. A literatura darwinista moderna está cheia de conclusões antiteístas apresentadas, não como opiniões pessoais, mas como implicações lógicas da ciência evolutiva objetivando afastar as pessoas mais educadas da crença no sobrenatural.

Exemplos: "O homem é o resultado de um processo sem propósito e natural que não o tinha em mente" [vi]; "penso igualmente que, antes de Darwin, o ateísmo até poderia ser logicamente sustentável, mas que só depois de Darwin é possível ser um ateu intelectualmente satisfeito". [vii]

MH3 - A história das controvérsias darwinianas. (1) A controvérsia de Colin Patterson. Pouca gente sabe que em 1981, o renomado paleontólogo britânico Colin Patterson visitou vários centros de evolucionistas perguntando: "Você pode me dizer alguma coisa que você saiba sobre a evolução que seja verdadeira? Patterson recebeu como resposta o silêncio.

Ele fez dois comentários provocadores na palestra: (A) Os evolucionistas estão falando igual os criacionistas - "eles apontam para um fato, mas não podem fornecer uma explicação dos meios", (B) e que tanto a evolução como a criação são formas de "anticonhecimento", i.e. eles "são conceitos que parecem implicar em verdadeira informação, mas não são". [viii]

(2) A controvérsia entre Kristol e Gould. Irving Kristol, um teórico social, propôs uma correção conciliatória num artigo no New York Times: "Se a evolução fosse ensinada mais cautelosamente, como uma idéia conglomerada consistindo de hipóteses conflitantes em vez de uma certeza incontestável, isso seria menos controverso" e que os fundamentalistas não estavam "fora de base quando eles afirmam que a evolução ... tem um ponto anti-religioso injustificado". [ix]

Gould criticou Kristol e negou que a ciência evolutiva seja anti-religiosa e que Kristol ignorava a distinção importante entre fato e teoria. Há hipóteses conflitantes sobre o mecanismo exato da evolução, "mas a evolução é também um fato da natureza, tão bem estabelecido como o fato de a Terra girar em torno do Sol". [x]

Johnson destrói a analogia de Gould: "A analogia é espúria. Nós observamos diretamente que as maçãs caem quando são soltas, mas nós não observamos um ancestral comum para os macacos modernos e os humanos. O que nós observamos é que os macacos e os humanos são física e bioquimicamente mais parecidos um com o outro em vez de serem parecidos com coelhos, cobras ou árvores. O ancestral comum do tipo macaco é uma hipótese numa teoria que se propõe explicar como surgiram essas grandes e pequenas semelhanças. A teoria é plausível, especialmente para um materialista filosófico, mas apesar disso pode ser falsa. A verdadeira explicação para as relações naturais pode ser algo mais misterioso". [xi]

Em 1980, Gould escreveu um artigo concentrando não na tese do ancestral comum (aceita por todos os evolucionistas), mas como que isso se deu - pela acumulação gradativa de mudanças adaptativas via mutação e seleção. Gould concluiu que a síntese neodarwinista "como proposição geral, está efetivamente morta, apesar de sua persistência como ortodoxia de livro-texto". [xii]

Porque Gould admitiu um ponto devastador ao cenário darwinista do surgimento da diversidade da vida como uma teoria geral defunta, Johnson esperava que Gould, tendo já desconsiderado o mecanismo darwiniano, fosse abraçar a sugestão de Kristol de ensinar a evolução com mais cuidado.

MH4 – A história da seleção natural. São duas as perguntas que Johnson faz: (1) Quanto os evolucionistas sabem realmente sobre o processo pelo qual todos os seres vivos evoluíram de ancestrais microbiano? (2) Especificamente, eles sabem realmente o que eles vêm afirmando saber - que foi um processo inconsciente? [xiii]

Esta ênfase na alegada ignorância do como da evolução torna-se lógico para Johnson atacar os dois lados do mecanismo do neo-darwinismo - a seleção natural que peneira e adiciona as mutações benéficas.

4 - O avanço das idéias de Johnson nos anos 90s do século 20
Após a publicação de Darwin on Trial, Johnson começou a circular pelos campus das universidades americanas acelerando assim dois processos retóricos importantes: o envolvimento vigoroso e determinado com os seus críticos e o recrutamento e treinamento de novos e brilhantes revolucionários (especialmente colegas com qualificações acadêmicas que colaborariam na pesquisa, crítica, conceituação teórica e persuassão).
Johnson tornou-se conhecido pelas suas palestras, conferências e debates. A sua oratória rapidamente tornou-se uma de suas mais eficientes maneiras de influenciar audiências universitárias.[xiv]
Este trabalho em conjunto, mais esses dois processos reciclados (envolvimento – recrutamento – nova publicação – mais envolvimento) transformou o Movimento do Design Inteligente [MDI] de um comitê de rebeldes externos numa rede bem organizada e agressiva de centenas de ativistas que começaram o trabalho de persuassão em suas próprias universidades como Harvard, Yale, Princeton, Cornell entre outras..
O primeiro desses dois processos começou com o livro Darwin on Trial e depois com mais outros livros de Johnson. [xv] As resenhas críticas deste livro, a maioria negativa, tentaram desqualificá-lo como crítico competente em vez de lidarem com as suas principais críticas – a macroevolução e o poder criativo da seleção natural.
A mais importante das interações com acadêmicos se deu em 1994 na Stanford University com William Provine, historiador e filósofo de biologia da Cornell University. [xvi] Este debate colocou o Design Inteligente em destaque de duas maneiras: foi mais um veículo para divulgar a crítica de Johnson contra a macroevolução baseada na evidência e a afirmação de Provine de que o livre arbítrio é uma miragem, além de ter repetidamente desprezado a crença de Johnson em Deus – isso serviu para ilustrar a tese de que o darwinismo funciona tanto como um quadro de crenças filosóficas antiteístas e como um quadro de pesquisa científica.[xvii]
Em 26 de julho de 1991, a revista Science, da American Association for the Advancement of Science – AAAS, publicou uma nota anônima Johnson vs. Darwin criticando severamente o Darwin on Trial como sendo um livro potencialmente perigoso. [xviii]
Michael Behe foi um biólogo que notou a coluna da revista Science. Em 1987 ele já tinha se tornado cético do darwinismo após ter lido o livro de Denton Evolution: A Theory in Crisis. Ele já tinha lido Darwin on Trial assim que foi publicado e ficou impressionado com o modo de Johnson lidar com as questões científicas. Motivado pelo tratamento dado a Johnson, Behe escreveu uma carta à Science que foi publicada em 30 de agosto de 1991. Ele começou a carta destacando que a nota concisa sobre o Darwin on Trial é:
"uma boa ilustração do fracasso da comunidade científica em seguir o seu próprio conselho sobre a controvérsia perene da evolução. Em vez de simplesmente lidar com os argumentos céticos promovidos no livro, o artigo se apóia em comentários ad hominem ...

Também é verdade que governos fascistas apoiaram o darwinismo, que a maioria dos cientistas não é de especialistas em lógica, e que muitos comentaristas da evolução são predispostos a favor do materialismo puro. Mas tudo isso é insultar e bem fora de base.

No seu livro, Johnson aparenta ser um leigo interessado, de mente aberta e muito inteligente que percebe grandes conclusões tiradas de pouca evidência, destaca anomalias em atuais explicações evolucionárias, e chega à sua própria conclusão, ainda bem, sobre a validade da teoria de Darwin. Um homem desses merece ser ouvido e não ser execrado.

A teoria da evolução pela seleção natural não é um conceito difícil de ser entendido, e Charles Darwin se dirigiu a uma audiência geral. Mas não é auto-evidente para muitas pessoas que a seleção natural pode ser totalmente responsável pelo mundo que elas observam.

Assim, quando perguntas sobre a teoria surgem em fóruns públicos, a comunidade científica faria melhor, a longo prazo, relacionar os fatos a favor e admitir francamente onde falta evidência positiva, em vez de paternalisticamente manter que um entendimento da teoria da evolução está reservada para o sacerdócio de cientistas profissionais". [xix]
Esta frase-estigma sacerdócio de cientistas profissionais usada por Behe pode ser assim traduzida: os cientistas darwinistas são os nossos atuais alto sacerdotes culturais que mediam o conhecimento para as massas. O paradigma deles é tido como sendo verdadeiro “a priori” e não está aberto ao questionamento.
Após ler a carta de Behe, Johnson escreveu agradecendo e convidando-o para ser um colaborador.
A segunda mais importante interação com acadêmicos se deu em março de 1992 no campus da Southern Methodist University em Dallas, Texas: Darwinism Symposium [Simpósio sobre o darwinismo], com a seguinte tese a ser debatida: O darwinismo e o neodarwinismo, como são geralmente defendidos em nossa sociedade trazem consigo um compromisso “a priori” com o naturalismo metafísico, que é essencial para fazer um caso convincente em favor deles".
Foram três dias de debates entre os dez participantes – cinco evolucionistas e cinco proponentes do Design, com a apresentação de William Dembski e Steve Meyer. [xx]
No verão americano de 1996, duas bombas retóricas sacudiram o mundo da ciência biológica. A primeira foi a publicação do longo ensaio Deniable Darwin de David Berlinski, um intelectual judeu agnóstico, na conceituada publicação Commentary . A tese de Berlinski foi: o registro fóssil é incompleto, o raciocínio é defeituoso; a teoria da evolução está apta para sobreviver?
O artigo de Berlinski provocou um tsunami de cartas de indignação (Richard Dawkins e Daniel Dennett entre outros evolucionistas importantes) e congratulações que a Commentary publicou cinqüenta e seis cartas em trinta e três páginas. Os editores esperavam que o artigo de Berlinski fosse gerar tão-somente tremores; o que eles tiveram foi um terremoto.
Em agosto de 1996 a segunda bomba antidarwinista explodiu. O livro Darwin's Black Box, escrito por Michael Behe, professor na Lehigh University, foi publicado pela Free Press, subsidiária da importante editora Simon and Schuster.
Este livro foi discutido na Newsweek, no Wall Street Journal, National Review, The Chronicle of Higher Education; e a Nature.
[i] Hoje Johnson é professor de Direito Emérito. Na ativa foi professor na cadeira professoral "Jefferson E. Peyser" da Faculdade de Direito da University of California, Berkeley. UCLA-Berkeley é uma universidade conhecida internacionalmente pelos seus alunos e professores 'radicais'.
[ii] JOHNSON, Phillip. Darwin on Trial. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 2a. ed. 1993, p. 14.
[iii] Ibid, p. 116.
[iv] William Jennings Bryan, que não acreditava literalmente nas narrativas bíblicas, enfrentou um interrogatório que usou 'evidência científica' que logo em seguida foi cientificamente desacreditada!
[v] Ibid, p. 6-7.
[vi] Ibid, p. 116.
[vii] DAWKINS, Richard. O relojoeiro cego. São Paulo: Cia. das Letras, 2001, p. 24-25.
[viii] JOHNSON, op. cit., p. 10.
[ix] Ibid, p. 10-11.
[x] Ibid, p. 11.
[xi] Ibid, p. 66-67.
[xii] Ibid, p. 11.
[xiii] Ibid, p. 10, 12, 14 e 158.
[xiv] Em campus de universidades como Harvard, Yale, Princeton, Cornell entre outras.
[xv] Reason in the Balance: The Case Against Naturalism in Science, Law, & Education; Objections Sustained Subversive Essays
on Evolution, Law and, Culture; Defeating Darwinism - By Opening Minds; The Wedge of Truth; The Right Questions: Answering the Toughest Questions about Intelligent Design.
[xvi] O vídeo deste debate Darwinism: Science or Naturalistic Philosophy? The Johnson-Provine Debate pode ser encontrado no site http://www.arn.org
[xvii] Vide o vídeo da nota 41.
[xviii] Johnson vs Darwin, Science, 26 July 1991, 379.
[xix] Science Letters, 30 August 1991.
[xx] Michael Ruse; Arthur Shapiro, zoólogo (UCSD); Leslie Johnson, palestrante em biologia (Princeton University); Fred Grinne, professor de biologia (UT em Arlington) e K. John Morrow, professor de biologia na Texas Tech University.